Entramos em 2025 reunindo todos os ingredientes para ser um ano marcante nas nossas vidas, não apenas pelas guerras na fronteira europeia, mas pelos desafios e também oportunidades que o mundo enfrenta em várias dimensões. A resolução ou escalada do conflito na Ucrânia terá implicações diretas na ordem global e muito em particular nos aliados europeus da NATO.

Se Donald Trump, potencial mediador, intervier como se espera, para negociar a paz, isso poderá obrigar a redefinir alianças e estratégias de segurança. A competição entre os EUA e a China continuará a impactar o sistema internacional com o aumento das tensões em Taiwan e no Mar do Sul da China a poder vir a ser o catalisador de novas crises.

Na África os golpes militares, o terrorismo e a disputa por recursos naturais tendem a empurrar aquele continente para se constituir no mundo como mais um palco de instabilidade.

No Médio Oriente dificilmente alguém conseguirá antever o puzzle final dos conflitos que por ali grassam.

Pesem os sinais de recuperação pós pandemia em alguns setores, como tecnologias verdes e energias renováveis, o impacto económico das guerras, a inflação persistente e os desafios das cadeias logísticas colocam a economia global debaixo de um grave risco de recessão, a que se junta o fortalecimento dos BRICS, especialmente com a inclusão de novos membros, desafiando o domínio das economias ocidentais e capaz de alterar os padrões de comércio e finanças globais.

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A expansão dos processos de Inteligência Artificial está a mudar sectores inteiros, desde a educação, passando pela saúde, estendendo-se até ao setor da defesa. O aumento de ataques cibernéticos, tanto nos níveis estatais como empresariais, tornam a segurança digital uma prioridade estratégica. A polarização política, a desigualdade e as tensões sociais, as mudanças climáticas e os desregulados fluxos migratórios sem precedentes, testarão a capacidade dos países de responder com humanidade e eficiência e continuarão a desafiar as democracias em todo o mundo. Ao mesmo tempo, adivinham-se mudanças na patética política “woke” que irá, certamente, moldar novas normas sociais. Tudo somado, um bom barril de pólvora onde só fica a faltar saber quem é o maluco que acenderá o rastilho! Vladimir Putin tem o isqueiro na mão!

Portugal, neste contexto não fica imune nem alheio ao desafio de equilibrar investimentos em áreas-chave como defesa, economia verde e inclusão social, enquanto mantém a sua posição estratégica na NATO e na União Europeia. Vai ser necessário muita resiliência, criatividade e solidariedade para lidar com todos estes desafios e aproveitar as oportunidades que definirão as próximas décadas. No caso concreto da Defesa, existe ainda, pese o esforço que o governo da AD tem realizado, uma questão central que irá forçosamente dominar o debate político: o aumento dos salários e melhoria das condições gerais no sector das Forças Armadas (FFAA) contrasta com a redução das verbas orçamentadas destinadas ao armamento e reequipamento das tropas. Há décadas que os militares vinham a chamar a atenção para a falta de competitividade salarial, que dificulta a retenção de pessoal qualificado, impede a fixação e desmotiva o recrutamento, pelo que era urgente reduzir o elevado número de saídas voluntárias, aumentar a atratividade da carreira militar e reconhecer a importância dos militares num contexto de crescente instabilidade internacional, factos que o novo governo, após anos de desinvestimento dos governos socialistas, levou em conta com um esforço orçamental nestas áreas. No entanto, a valorização dos recursos humanos precisa além de ser acompanhada por condições de trabalho adequadas, de reforço de equipamento e armamento moderno e funcional. Sem isso, mantem-se o risco de termos tropas mais satisfeitas, mas com capacidades operacionais limitadas, particularmente num momento sensível em que se exige mais FFAA e melhor equipadas. A NATO, da qual Portugal é membro, tem pressionado os aliados para aumentar os seus investimentos em defesa, não apenas em salários, mas também em equipamentos modernos, sob pena de Portugal se tornar um parceiro menos relevante, incapaz de acompanhar os níveis de prontidão exigidos pela Aliança.

Em termos percentuais, Portugal continua longe da meta de 2% do PIB destinada à defesa, recomendada pela NATO, e com esta decisão orçamental, o país envia uma mensagem ambígua, se por um lado, e bem, valoriza os seus militares, por outro, parece desconsiderar a necessidade de modernização e de alinhamento com os seus compromissos internacionais. A defesa nacional não pode ser pensada como uma escolha entre soldados e equipamentos. Suponhamos que a guerra na Ucrânia não se resolve em 2025 como esperado, e em vez disso escala a ponto de envolver diretamente a NATO, as implicações para Portugal são enormes, desde logo teria de cumprir os compromissos de defesa coletiva estabelecidos pelo Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, o que poderia incluir mais envio de tropas terrestres, forças aéreas ou navais para operações na Europa de Leste ou outras áreas estratégicas a par do aumento da prontidão das forças nacionais, o que exigiria reorganização logística e reforço de equipamentos. Ora, se os políticos soubessem da “ginástica” dos recursos humanos e financeiros que os chefes militares já fazem para respeitar os curtos compromissos atuais, deixariam de dormir só de pensar neste possível cenário. Foi fácil acabar com o Serviço Militar Obrigatório, recuperá-lo em caso de necessidade seria, certamente, tarefa hercúlea.

A NATO e mais ainda Trump, irá exigir que os países-membros elevem os investimentos em defesa, para valores próximos dos 5% do PIB (Portugal anda longe dessa meta), o que implicaria cortes noutras áreas do orçamento público ou aumento de impostos.  No relatório recente da NATO é notório que, em 31 países – a Islândia é excluída por não ter Forças Armadas -, há 8 que não cumprem sequer a meta de 2% do PIB para a defesa, Portugal incluído. A liderar o investimento em defesa está a Polónia, que já aplica 4,12% do seu PIB nesta área, sendo este um dos países que mais tem avisado para o perigo que vem de Leste, até porque o enclave de Kaliningrado, mas também a Bielorrússia – histórico aliado de Vladimir Putin – são grande parte da fronteira polaca. No caso de Portugal elevar este investimento para 5% implicaria quase quadruplicar os gastos, passando de cerca de 3 mil milhões de euros para mais de 10 mil milhões de euros anuais, o que teria implicações profundas no orçamento do Estado.

Outro impacto será no comércio e no aumento dos preços, especialmente de energia e alimentos, dada a dependência de Portugal que enfrentaria custos mais elevados, pressionando a inflação. A escalada da guerra também iria gerar um novo fluxo de refugiados para a Europa, incluindo Portugal, o mais afastado e percecionado como seguro, o que obrigaria a reforçar a capacidade de acolhimento, com custos e desafios adicionais para a integração social e económica. O governo teria de gerir cuidadosamente as prioridades internas e externas, mantendo o apoio da população, porquanto a participação militar e o impacto económico poderiam polarizar a opinião pública, terreno fértil para os extremistas de esquerda e os populistas de direita explorarem politicamente a seu favor. Nada de novo, é certo, e que as televisões todos os dias nos brindam com esses “pacifistas de pacotilha e generais de segunda linha”, mas a opinião pública ficaria mais suscetível a manipulações.

A posição geográfica de Portugal, com os Açores e sua importância estratégica no Atlântico, tornaria o país ainda mais relevante nas operações da NATO e cenários destes impulsionarão forçosamente o desenvolvimento e a modernização da base industrial de defesa em Portugal conduzindo empresas nacionais a beneficiar de contratos militares e parcerias com outros países da NATO, mas uma fábrica de armamento não se monta em 3 meses nem se coloca a produzir num ano. A capacidade de adaptação será crucial para minimizar os impactos negativos e, eventualmente, transformar desafios em oportunidades, mas ao momento são todos estes “ses” que 2025 nos apresenta, sendo que se… não nos prepararmos para o pior não podemos esperar o melhor. Nestes tempos desafiantes, vale a pena revisitar o inesquecível discurso do General George S. Patton aos soldados da 3ª Divisão do Exército dos Estados Unidos antes do Dia D (1944) – uma obra-prima de inspiração, brutal honestidade e pragmatismo militar. A História ensina-nos que os erros podem repetir-se, mas também que podemos aprender com eles para evitar novas tragédias. Que nunca nos faltem líderes visionários e corajosos para nos guiar nestes sombrios tempos! A todos um bom Ano de 2025!