Marcelo já veio desfazer as dúvidas e confirmar serem os votos da AD a contar e não somente os do PSD para a formação de um novo governo, e este texto poderia ser uma “não notícia” não fosse o facto de continuarmos todos à espera de dia 20 e dos resultados dos círculos da emigração.

Ou seja, matematicamente e nos termos das probabilidades e da estatística, existe a possibilidade de os 4 mandatos restantes caírem na sorte ao PS, o qual ficaria assim na primazia para formar governo a convite de Sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa.

Não obstante, esta probabilidade não só é ínfima como não conta para as contas socialistas dada a minoria de esquerda e o PS já veio confirmar isto mesmo ao afirmar-se na oposição ao governo da Aliança Democrática.

Conclusão, por uma questão protocolar sabendo-se antecipadamente o vencedor estamos todos à espera do resultado de quem não pode nem consegue viver em Portugal, sem outra solução senão partir para não mais voltar, até nunca mais, longe da vista e do coração e por conseguinte facilmente ignorados e esquecidos no exílio das nossas vidas.

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Somos 1.5 milhões de eleitores espalhados pelos quatro cantos do mundo, mais de 937000 na Europa, mais de 609000 fora da Europa, num total equivalente ao círculo eleitoral do Porto, círculo esse responsável pela eleição de cerca de 40 deputados…

Sim, os círculos da emigração elegem 4 deputados, dez vezes menos e por aqui se começa a perceber o porquê da diminuição da abstenção tanto em território nacional como cá fora e o significado do voto de protesto.

Se juntarmos a isto o facto de a contagem dos votos da emigração ficar sempre para o fim das eleições e em todas as eleições então a mensagem é simples: quem não está cá, não conta e os votos dos emigrantes não contam. Afinal, são só 4 deputados.

Os emigrantes enviam anualmente para Portugal o equivalente aos fundos Europeus num total de mais de 3400 milhões de euros o ano passado, um recorde de 3600 milhões de euros em 2021 e neste saldo reside e subsiste a memória de quem nos dirige para quem partiu além-fronteiras.

Infelizmente, a memória acaba aqui e a displicência protocolar de Marcelo não é senão a displicência de sucessivos governos face às condições de vida dos portugueses dentro e fora de portas e apesar de tudo e contra todos os 4 deputados dos círculos da emigração contam e se não contassem não estaríamos todos à espera.

O referendo ao Brexit foi um voto de protesto contra o governo conservador de então, um protesto por melhores condições de vida e uma participação eleitoral de 72.2%, a segunda mais alta desde as legislativas de 1992 e apenas atrás do referendo à independência da Escócia.

O resultado do voto de protesto? A ascensão dos extremos e dos populismos de Boris Johnson e do UKIP e o encerramento das fronteiras de uma nação em tempos aberta de horizontes, sentidos, ideias e sentimentos.

É impossível ignorar as semelhanças e apesar da nossa “insularidade” neste canto da Europa onde tudo tarda a chegar, eis que chega, literalmente, a nossa vez.

A ascensão do Chega era previsível dado o aumento do número de eleitores nas urnas, aumento esse reflectido no número de votos dos emigrantes já recebidos pela comissão nacional de eleições: mais de 291000, batendo o total de 260000 votos das legislativas de 2022 e com uma previsão recorde entre 38000 e 400000 votos. Ou seja, prevê-se a eleição de pelo menos um deputado pelo Chega nos círculos da emigração e a ascensão da extrema-direita uma certeza cada vez mais premente. Não com o meu voto.

Saberá Portugal ouvir? Terá Portugal capacidade para ouvir? As perguntas são inúmeras, incomensuráveis, e as repostas poucas e com ainda mais pontos de interrogação.

Esperamos por dia 20 e enquanto esperamos, lembramo-nos de quem está lá fora e só por isso já valeu a pena votar.