1 A Alegoria da Caverna da Esquerda Moderna

A manipulação da informação – enquanto fenómeno de controlo das massas – ganhou enorme destaque na psicologia e sociologia política do século XX. O seu exercício coercivo, através da narrativa veiculada pelo medo, com a criação de inimigos internos e externos, obteve resultados nefastos para a Humanidade, quer no regime de Hitler, quer nas ditaduras comunistas, ceifando milhões de vidas.

A Alegoria da Caverna é uma extraordinária obra de Platão na qual, através do diálogo entre Sócrates e Glauco, o autor nos demonstra o quão limitado pode ser o conhecimento humano quando, vivendo acorrentados numa caverna, a realidade apenas nos é dada a conhecer através de imagens projectadas por uma fogueira.

A obra, das melhores escritas sobre a teoria do conhecimento, ainda hoje, é tida como um dos melhores exercícios filosóficos para a superação da ignorância. Desde então, relativamente à manipulação das massas, pouco ou nada mudou. Em todo o regime ditatorial (cada vez mais disfarçados em democracias) existem sempre inimigos externos e internos para combater.

E a esquerda, através da sua novilíngua, tem sido bastante eficaz nesse desiderato.

2 Zemmour – racista e xenófobo?

“Vocês sentem-se estrangeiros no vosso próprio país”, esta foi uma das mensagens mais fortes no discurso de apresentação de candidatura de Eric Zemmour – o fenómeno político em França, associado à extrema-direita, com um forte discurso na luta contra a Migração e a Islamização em França. Salvar a França da barbárie e de ser colonizada tem sido uma narrativa constante nos seus discursos.

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Os ataques ao Charlie Hebdo, tido como um atentado ao mundo ocidental no seu princípio fundador da liberdade de expressão, e ao Bataclan – o mais sangrento na França desde a 2ª Guerra Mundial – são ícones dos actos bárbaros que têm assolado a França e os franceses nas últimas décadas por radicais islâmicos.

A estes ataques, adite-se a ideia da política como jogo de soma zero para a larga maioria dos franceses. Ou seja, a real perceção de muitos quanto ao seu futuro, na sensação de que qualquer benefício para os imigrantes ou para as minorais étnicas será conseguido à sua custa.

Inevitavelmente, o mainstream político e parte dos media em França – dominados pela esquerda vanguardista de Maio de 68 – não deixaram a sua autoridade moral no vazio, rotulando Zemmour de racista e xenófobo. Ora, é fácil anular esta tese, se verificarmos a base de apoio a Zemmour, que é transversal a toda a sociedade francesa, sendo normal identificar franceses de diferentes etnias ou mesmo confissões religiosas nos diversos comícios realizados pelo candidato.

Para quem tem acompanhado a ascensão da dita extrema-direita nos países europeus, facilmente verificará que a rotulagem destes partidos como racistas e xenófobos, para além de apenas favorecer os partidos de esquerda (como o inimigo a abater, na sua novilíngua), carece de uma enorme adesão à realidade. O que está em causa não é uma questão de racismo/xenofobia mas de filiação, ou não, ao modo de vida ocidental.

3 Nova Direita Inclusiva – de França a Portugal, passando por nuestros hermanos

Em Como Ser Conservador referencia Scruton que: “em nome do multiculturalismo, precisamos de marginalizar o património dos nossos costumes e crenças, e até os abandonarmos de forma a passarmos a ser uma sociedade «inclusiva», em que todos os recém-chegados se sintam em casa, independentemente de qualquer esforço que possam fazer para se adaptarem ao seu novo ambiente. (…)  Isto foi-nos incutido em nome do politicamente correcto. (…)

O politicamente correcto incita-nos a sermos tão «inclusivos» quanto pudermos, a não discriminarmos, em pensamentos ou acções, minorias étnicas, sexuais, religiosas ou de comportamento. E para sermos inclusivos, somos encorajados a denegrir aquilo que é sentido como especificamente nosso”. E remata: “ A defesa amável da inclusão mascara o desejo nada amável de excluir aquele que antes excluía: por outras palavras, repudia a herança cultural que nos define.” 

Ou seja, o cerne da questão reside na dimensão política e simbólica desta nova Direita inclusiva, com base nos valores e princípios que definem o mundo ocidental – assente no Estado de Direito Democrático e de matriz identitária Judaico/Cristã –, enquanto fio condutor de sentimento de pertença, independentemente da etnia, orientação sexual ou filiação religiosa daqueles que escolheram a Europa para viver.

Esta relação de filiação/contrato social não é exclusivo no partido Reconquista de Zemmour. Encontra ecos no Vox de Abascal em Espanha, mas também no CHEGA de Ventura em Portugal.

Ignacio Garriga é líder parlamentar do Vox em Barcelona. Negro, nasceu em Espanha, filho de mãe da Guiné-Equatorial e pai Espanhol, católico, conservador, pai de 4 filhos e Professor na Universidade Internacional da Catalunha.

Gabriel Mithá Ribeiro, ex PSD, é Vice-presidente do CHEGA. Tendo nascido em Moçambique, Portugal é a sua casa. É um referencial no pensamento político sobre a Portugalidade e, por inerência, na ligação histórica de Portugal com as ex-colónias. Pensa e escreve como poucos, com autoridade. Licenciado em História, possui Mestrado e Doutoramento em Estudos Africanos. A nível profissional, foi durante anos professor numa das escolas mais difíceis da margem sul, lidando diariamente com a falta de autoridade e a indisciplina. Mas Ribeiro não é o único.

É considerável o número de portugueses de diferentes etnias que apoia o CHEGA, com base num denominador comum – o amor pelo país onde vivem em chão comum com outros e a identificação com o modo de vida ocidental na defesa de valores, como a família, a educação e respeitos pelas instituições que regem um Estado de Direito Democrático.

4 O mainstream tuga que prefere os extremistas aos moderados

Em 2013, por ocasião das eleições autárquicas no concelho de Oeiras, tive o privilégio de coordenar um programa específico dirigido às minorias que contou com forte adesão local, nomeadamente jovens. Este acontecimento, acto único no quadro da participação cívica e política em Portugal, ganhou um enorme simbolismo por três razões fundamentais:

  • Em primeiro, o sentimento generalizado de que nem tudo corre bem e que muito há por se fazer em Oeiras;
  • Segundo, mais do que apontar problemas, sugerimos soluções, muitas soluções.
  • Por último, anula a ideia de que as minorias não participam e limitam-se a votar enquanto meros caciques locais. Ficou bem patente a vontade de participação, mas sobretudo a ambição legítima de serem agentes activos na transformação das suas realidades. Nenhum destaque dos media sobre o feito.

Seis anos volvidos, assistimos à primeira grande vaga de entrada de deputados negros no Parlamento, num ambiente social e político específico. Após 4 anos de geringonça e abertura de flanco ao tribalismo identitário do Bloco de Esquerda, minando a coesão social em questões como racismo, os radicais identitários lá acabaram por forçar a ambicionada representatividade política na casa mãe da Democracia portuguesa.

Tudo, com enorme apoio dos media, das universidades e dos comentadores da esquerda vanguardista nos diversos órgãos de comunicação social.

Não é por acaso que, validando a tese de Scruton sobre cidadania e inclusão de minorias, todas estas deputadas se filiaram em listas de partidos de esquerda, sendo que nenhuma nasceu em Portugal. Sem qualquer sentimento de pertença – exceto nas benesses e regalias do cargo – não comungam do tal espirito de cidadania no processo de inclusão. Antes pelo contrário, pretendem impor uma nova ordem social, abolindo o modo de vida que nos identifica como um dos povos mais antigos no mundo.

O povo que deu novos mundos ao mundo, à luz da realidade da época, já não é tido como empreendedor, mas sim como de passado colonialista feroz, racista e xenófobo.

5 A sinistra agenda Woke em Portugal

No início do presente mês foi notícia a visita de um grupo de trabalho das Nações Unidas que, a convite do Governo de António Costa, se deslocou a Portugal para aferir “a situação global dos direitos humanos das pessoas com ascendência africana em Portugal”.

“Foi surpreendente ver como a identidade de Portugal permanece agarrada a uma narrativa colonial”, uma das conclusões tidas pelo grupo. Quais nexo de causalidade, num dos países pobres da União Europeia? Discurso pré-concebido.

Semanas antes, uma outra instituição estrangeira havia galardoado Mamabou Ba com um prémio de defesa de direitos humanos em Portugal. Mamabou Ba, um dos maiores incitadores do ódio racial em Portugal.

É toda uma agenda contra o país, contra os portugueses, a sua identidade histórica, politica e cultural na linha da intifada woke que paira sobre o mundo ocidental e que não nos dignifica enquanto país, anteriormente tido por tolerante e com as melhores práticas de integração de imigrantes no mundo.

6 Reforma do modelo económico e defesa da nossa pluridade identitária

Por diversas vezes já por aqui referenciei os nefastos legados que a constituição da geringonça irá deixar no país. À importância de um novo modelo de desenvolvimento económico, imperativo para a criação de riqueza, não é menos importante a retoma de um sentimento de pertença junto de todos aqueles que escolheram Portugal para viver e que, anterior a este activismo social exacerbado, nos afirmava como um país tolerante, cuja unidade na diversidade era virtude e não ameaça.

7 Representatividade – enorme desafio da direita tradicional portuguesa

Numa última nota, importa ter em conta que se os partidos à esquerda convivem bem como este permanente cenário de degradação da nossa identidade histórica, à direita, assistimos a um silêncio ensurdecedor de partidos com histórico de governação (PSD e CDS).

Ao PSD, não basta afirmar não ser um partido racista.

Na linha de um dos seus princípios que o identifica como: “Um partido interclassista, vocacionado para representar as diversas categorias da população portuguesa, e apostado na defesa da cooperação entre as classes sociais como a via mais adequada para a obtenção do bem comum e do progresso coletivo”, espera-se mais.

O facto é que, desde a sua fundação, o PSD nunca elegeu um Deputado negro para o Parlamento. A montante, é nula a representatividade nos seus diversos órgãos nacionais.. É um partido cada vez mais fechado sobre si próprio.

E na antecâmera da realidade francesa convém reflectir sobre o humilhante resultado que os tradicionais partidos franceses almejaram nas últimas eleições presidenciais daquele país.

A pouca adesão à realidade do país e o fecho dos partidos em bolha, tem destes efeitos.

Antes de PSD e CDS proclamarem reformas para o país seria bom considerarem reformas internas, considerando os seus princípios fundadores.

Maior representatividade, assente na defesa do que mais nos une, em detrimento do que nos separa, não é mero discurso ideológico.

É um imperativo para um Portugal mais próspero, mas sobretudo mais coeso, sem renegar a sua identidade e relevância histórica.