Cheguei a ter esperança que, assim como ao longo da sua História, Portugal acordasse e optasse por se adaptar e evoluir após mais uma situação onde nos vemos obrigados a tal. Assim como no futebol, onde a seleção frequentemente corre atrás do prejuízo e só começa a jogar nos últimos minutos, o nosso país insiste em viver adormecido num pesadelo de onde não quer acordar por muito que reclame de noites mal dormidas.

Ao contrário de outros países que hoje são mais ricos e desenvolvidos, em Portugal não se planeia nada. No nosso país só nos adaptamos quando a isso somos obrigados por fatores externos, como nos mostra a nossa História.

Apenas alguns exemplos:

  • Planeámos em Aljubarrota, obrigados pela diferença de cinco para um relativamente ao exército castelhano;
  • Planeámos aquando da conquista de Ceuta e consequente expansão marítima, devido à Peste Negra, guerras com Castela e grandes fomes que no final do séc. XIV arrasavam o Reino;
  • Planeámos para explorar a costa africana, criar feitorias, capitanias, vice-reis da Índia, rotas marítimas, exploração comercial e dos recursos naturais na época dos Descobrimentos;
  • Planeámos após a destruição de Lisboa pelo terramoto de 1755;
  • Planeámos para nos defendermos das invasões francesas;
  • Planeámos quando fizemos revoluções e reformas liberais com sucesso no Séc. XIX (com reação absolutista reduzida relativamente ao que se passava no resto da Europa), devido ao facto da burguesia nacional ter perdido a sua fonte de rendimentos com a saída do rei para o Brasil e consequente comércio direto entre o Brasil e Inglaterra;
  • Planeámos também com a entrada na EFTA, com a descolonização e com a entrada na CEE;
  • Planeámos a conquista da Liberdade e Democracia. E resistimos a quem tentou desviar-nos desse caminho;
  • Planeámos a liberalização e desestatização da economia e nem laivos contrários recentes irão derrubar esse sentido.

Portugal tem tanto sucesso como os melhores quando planeia. A tragédia é que Portugal só planeia quando a isso é obrigado pelas condições. É daqui que vem a cultura do “desenrasca”. Sim, somos um povo criativo, mas seríamos tanto melhores se essa criatividade estivesse na fase prévia, no planear, e não na correria atrás do prejuízo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Hoje, quem planeia em Portugal normalmente vê os seus planos frustrados por um Estado que tudo captura, tudo invade e tudo consome.

Pelo resto da Europa, planeia-se e bem. O último exemplo vem da Grécia, que após décadas de corrupção e nepotismo sistémicos e do recente sono e pesadelo de (extrema) esquerda, aprendeu, ficou vacinada (com dose reduzida, mas igualmente eficaz à da vacina dos países de Leste) após ter batido bem no fundo. Hoje, os partidos de esquerda na Grécia são residuais e, nesse sentido, a Grécia é um país “mais europeu” que a “jangada de pedra” de Portugal e Espanha. Na Grécia planeia-se, adapta-se e reforma-se. A bazuca deles servirá para isso. Os resultados em breve surgirão e, nessa altura, ficaremos surpreendidos por termos sido ultrapassados, de novo, desta feita pela Grécia, cuja economia, há meia dúzia de anos se encontrava completamente destruída.

O pesadelo português, contudo, não tem fim à vista. Olhando para as sondagens, o caminho está traçado. A tragédia portuguesa é que, com a bazuca europeia, a desgraça continuará no nosso país, pois não poderemos bater no fundo, acordar, planear, adaptar e reformar como tão bem fizemos no passado.