O ministro da Educação quis exaltar a sua obra. Podia ter invocado outras coisas. Mas preferiu dizer isto: a despesa do ministério com cada aluno nas escolas públicas subiu 30% desde 2015. Um “aumento brutal”, acrescentou. É sempre nestes detalhes que melhor transparece uma mentalidade. Tiago Brandão Rodrigues não mede o sucesso pela percentagem de jovens que progride nos estudos, pelas competências de que dão provas, ou por qualquer outro indicador que reflicta os objectivos da instrução pública. Para o ministro, o que devia ser um meio – a despesa — é um fim em si, a grande razão de ser.

Percebe-se perfeitamente. A despesa é, na educação, sobretudo emprego público. Aquilo de que o ministro se orgulha é de ter contribuído para o número de funcionários ter batido o velho recorde de 2011. E para isso, usou uma expressão que recorda outra, desses “anos da troika”: o “enorme aumento”, não da despesa, mas dos impostos em 2012. O facto é que a brutalidade de uma coisa explica a enormidade da outra. O “aumento brutal” da despesa é sempre a razão do “enorme aumento” dos impostos. Pretendeu o actual ministro da Educação praticar um pouco de humor negro, e lembrar aos contribuintes como, um dia, os poderá atingir o seu “aumento brutal”? Talvez não chegue a esse requinte de sarcasmo. Provavelmente, terá sido um daqueles lapsos estudados pelo Dr. Freud.

Foi esse “aumento brutal” que também pairou durante quase todo o tempo sobre a entrevista do primeiro-ministro a Miguel Sousa Tavares, a semana passada. De todas as vezes que o entrevistador lhe deu oportunidade para admitir que talvez a brutalidade fiscal dissuadisse o investimento e o trabalho, António Costa preferiu falar de qualificações académicas. Esse é que era o problema económico português, e deu como exemplo as economias do antigo leste da Europa: após o fim das ditaduras comunistas, teriam crescido graças às qualificações da sua população. Não, senhor primeiro-ministro. As economias do leste da Europa não cresceram por causa do seu nível de instrução. Cresceram porque se libertaram do estatismo comunista, e foi isso que lhes permitiu, como não acontecera antes, aproveitar as suas qualificações. Se o comunismo tivesse continuado, bem podiam polacos e checos acumular mestrados e doutoramentos. As economias do leste da Europa nunca teriam crescido como cresceram, porque sem liberdade ninguém pode fazer valer qualificações. O mesmo se passa aqui com o estatismo socialista, e o seu esforço fiscal desproporcionado em relação ao nível de desenvolvimento do país. Bem podemos continuar a diplomar os jovens. As qualificações apenas lhes servirão para procurarem carreiras e rendimentos em países menos sujeitos a brutalidades.

Não vale a pena explicar nada aos nossos governantes. Eles sabem. Caso contrário, não prometeriam aos jovens um alívio no IRS durante três anos (e depois?). Mas há aqui uma fatalidade política: o “aumento brutal” da despesa, com que alargam os dependentes do Estado e as suas clientelas eleitorais, requer inevitavelmente o “aumento enorme” dos impostos e encargos públicos, e só não exige mais, porque o financiamento excepcional do Estado pelas autoridades monetárias europeias tem até agora atenuado e adiado custos. Para os governantes socialistas, não existe alternativa, porque é óbvio que não admitem mandar e controlar menos, e essa seria a única maneira de acabar com o ciclo de aumentos brutais. E quem se inquieta com tudo isto, não pode fazer nada? Pode. Por exemplo, em Lisboa, no próximo dia 26, votar em Carlos Moedas contra a versão municipal destas brutalidades.

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