O Presidente do PS, Carlos César, não tem dúvidas sobre os parceiros preferenciais do seu partido. Satisfeito com a forma como a geringonça tem funcionado, só em duas situações aceita alterar o status quo.
A primeira decorre da possibilidade de alteração do posicionamento dos parceiros. Uma que verdadeiramente só se coloca relativamente à CDU, uma vez que o Bloco de Esquerda não consegue disfarçar a ânsia de lhe ser atribuída responsabilidade governativa.
A segunda prende-se com a eventualidade dos parceiros virem a conhecer uma irrelevância no plano parlamentar na sequência do próximo ato eleitoral. Uma forma de dizer que os mandatos dos apoiantes podem não ser suficientes para garantir a maioria parlamentar ao Governo.
Como é óbvio, falta uma terceira situação. Aquela que se prende com a eventualidade de o PS lograr maioria absoluta. Um sonho que não convém agitar por enquanto. Uma situação que dispensaria António Costa de negociações, sempre que as posições dos parceiros se apresentem demasiado exigentes para o normal curso da ação governativa. Afinal, a predisposição para o diálogo é uma coisa e o atender das propostas é outra. O direito à reivindicação condicionado pelo resultado nas urnas.
Face ao exposto, ninguém poderá acusar Carlos César de não ter sido claro. As suas palavras são de uma objetividade total. Não permitem segundas interpretações. Por isso, os portugueses já sabem com aquilo que contam no caso de o Partido Socialista vencer as eleições. Uma realidade que nem sempre colhe e não apenas pelo caráter não imperativo do mandato.
Saúda-se esta frontalidade do Presidente socialista e fica-se à espera da reação de Rui Rio, o líder da oposição e de um partido que, na legislatura em curso, dispõe do mais elevado número de deputados. Um legado passista.
Rui Rio ouviu publicamente aquilo que já não era uma novidade para si. O Bloco Central representa um cenário que o PS só encarará como última alternativa para se manter no poder. Como não parece previsível que o crescimento eleitoral do CDS-PP dote o partido da capacidade de coligação a sós com o PS, o PSD é visto como a derradeira muleta.
Cabe a Rui Rio rebater esta imagem de menorização ou secundarização do PSD. Os militantes e os simpatizantes laranjas esperam que o seu discurso e a sua linha de atuação, ainda que limitada pela ausência parlamentar, seja convincente.
Não pretendem ser o segundo partido no todo nacional. Um partido habituado ao Poder terá de ver sempre o segundo lugar como o primeiro dos últimos.
Rui Rio dispõe de pouco tempo para arrumar o partido. Tarefa árdua, mas que ficará sempre incompleta. Por isso deve concentrar-se no essencial. Aquilo que lhe permitirá relativizar os sucessos conseguidos pela governação socialista e mostrar as fragilidades que são da responsabilidade do Executivo.
Mais do que uma afirmação da matriz, muitos dos portugueses que deram a vitória a Cavaco Silva, a Durão Barroso e a Passos Coelho desejam que o PSD não tenha vergonha de si mesmo. Que se assuma por inteiro. Que defina com precisão o papel que destina ao Estado. Que não deixe dúvidas sobre a exequibilidade das políticas que pretende implementar.
Por falar em dúvidas, saúde-se, novamente, a clareza das palavras de Carlos César. Nada melhor do que saber com o que se conta.
É saber antigo que os vizinhos acontecem, mas os amigos escolhem-se.
Professor de Ciência Política