Eis um exemplo da coisa socialista. No mesmo dia o Primeiro-ministro disse que não havia falta de meios, o Ministro da Administração Interna pediu meios aos vizinhos e a Secretária de Estado da Administração Interna comprou dois aviões Canadair que serão entregues em 2026. O lado bom da coisa é que se dá mais ênfase à prevenção. O lado péssimo da coisa é que estes aviões deveriam ter sido comprados logo após os incêndios de 2017.
Sim. “Coisa” é intencional. Não há outra maneira de classificar a gestão socialista. Como só governam para a propaganda e para a mediatização jamais deixarão de estar atrasados face à realidade.
Concordo com o Sérgio Sousa Pinto. O fogo faz parte do ecossistema. Daí que seja necessário mudar o modelo de gestão. Mas antes disso é fundamental que o Primeiro-ministro deixe de dizer que só há incêndios por culpa das pessoas, algo em que António Costa acredita convictamente. Defende-o desde que foi Ministro da Administração Interna de José Sócrates. E é igualmente elementar perceber que não basta combater o fogo. A prevenção é muito mais importante. Aliás, a prevenção devia realizar-se durante todo o ano, inclusive durante o Inverno, focalizando a acção no reconhecimento do terreno – zonas potenciais de ocorrência de incêndios, dificuldades de acessos, indicação do mínimo inicial de meios, etc.
No ano da graça de 2022, o Primeiro-ministro diz que “o incêndio só ocorre se uma mão humana, voluntariamente ou por distração, o tiver provocado”. Este é o mais recente mantra de António Costa. Na realidade trata-se de uma variação de algo que o Primeiro-ministro afirma há décadas. Em tempos idos dizia “não é por haver vento ou calor que há incêndios”. Mas o ponto é o mesmo: Não há causas naturais para os incêndios. Perceberam? A natureza não se incendeia a si mesma. Prefere inundar-se (digo eu).
Perante esta certeza insofismável, sustentada numa crença inabalável, antevejo duas céleres e cirúrgicas alterações. A primeira será no portal do governo, concretamente na comunicação sobre os incêndios de 2017, onde se referem causas não humanas para a origem dos fogos. A segunda é nos manuais de escolares. O fogo jamais foi um fenómeno natural. Só depois do aparecimento dos primeiros hominídeos é que começou a haver fogos. E demorou um bocado até isso acontecer porque Prometeu não deu imediatamente o fogo aos homens.
“Os incêndios evitam-se reestruturando a floresta” disse António Costa em 2016. E lá acabou por fazer a reforma da floresta. O resultado está à vista. É de admirar? Não. Para aqueles que já não se recordam, António Costa foi quem decidiu adquirir os Kamov e o SIRESP, provavelmente duas das compras mais ruinosas feitas pelo Estado português.
É importante lembrar que o contrato de aquisição do SIRESP (2006), previa, na cláusula 17.2, motivos ou razões para a falha do sistema, entre os quais incluía “outros cataclismos naturais que directamente afectem as actividades objecto do Contrato”, que, segundo o disposto na cláusula 17.3,, exoneravam o fornecedor das suas responsabilidades.
Tanto os responsáveis da tutela governativa como os seus representantes aceitaram esta cláusula de desresponsabilização e o Governo português adquiriu um sistema de comunicação que devia funcionar em qualquer situação, especialmente em caso de emergências, mas que já previa a possibilidade de não funcionar quando seria mais necessário, i.e., em cenários de emergência. E assim aconteceu. O SIRESP não funcionou nos incêndios. Os telemóveis funcionavam, mas o SIRESP … Isto há coisas do diabo.
Dir-me-ão que a culpa não é só de uma só pessoa. Mas quem tem a prerrogativa e a capacidade de decidir tem de assumir as suas responsabilidades. Contudo, se ainda não entenderam, a coisa socialista é o exercício da irresponsabilidade, da inimputabilidade e da impassibilidade. É o três em um que dita que os governantes socialistas são irresponsabilizáveis. Segundo este critério, o pior governante socialista foi Jorge Coelho. Não me admira nada que haja no PS quem ainda não tenha percebido a razão para ele ter assumido as suas responsabilidades políticas e demitir-se do Governo. Um feto com 38 semanas acaba de morrer na barriga da mãe. A maternidade mais próxima estava encerrada. Percorrer mais de 100 quilómetros foi inevitável. Acham que Marta Temido se demitirá?
Pressupondo que o nosso problema não é a falta de meios, mas antes a gestão desses meios, o que não iliba o Governo de responsabilidades, começa a ser demasiada estupidez estarmos anualmente, com mais ou menos intensidade, a passar pelos mesmos problemas. Como era expectável que a temperatura aumentasse questiono qual o motivo para não se terem precavido atempadamente? Felizmente, o Governo português não acredita das alterações climáticas. Valha-nos isso.
Mas depois recordo-me da coisa socialista durante a pandemia. Passou-se do “não falta nada ao SNS” para gastos de milhões de euros em equipamentos e consumíveis. António Costa até foi ao aeroporto sorrir e acenar ao piloto do avião de transporte.
Contudo, a coisa socialista acabou de nos dar dois aviões Canadair. Mas só para 2026!