A tragédia que assola a Venezuela transcende o mero fracasso económico. Trata-se  de um exemplo devastador dos perigos inerentes a uma centralização extrema do  poder nas mãos do Estado. Como defensor dos princípios do capitalismo de livre  mercado e da liberdade individual, vejo na Venezuela uma advertência clara de  como as políticas socialistas e estatistas, mesmo que adornadas por ideias de  igualdade e justiça, podem acabar por levar um país ao colapso. Apesar de deter as  maiores reservas de petróleo do mundo — cerca 300,9 mil milhões de barris — a  Venezuela deveria ser uma potência global, mas encontra-se submersa numa crise  humanitária e económica sem precedentes.

O que aconteceu à Venezuela não é apenas o resultado de uma má gestão ou da  corrupção vigente, mas o reflexo do fracasso de uma ideologia que prioriza o Estado  em detrimento do indivíduo e da liberdade de mercado. A dependência cega no  Estado e a centralização totalitária da economia têm custos irreparáveis.

A Venezuela é hoje um exemplo vivo de como a intervenção estatal desmedida leva  à destruição da liberdade individual e, consequentemente, à ruína económica.

O Fracasso do Controlo Estatal e a Superioridade do Livre Mercado

A ascensão e a queda da Venezuela reforçam uma lição fundamental: quando o  Estado assume o controlo dos meios de produção, ao invés de fomentar inovação,  crescimento e bem-estar, cria incentivos que levam à corrupção, ineficiência e,  inevitavelmente, ao colapso. Em vez de permitir que o mercado livre gerasse riqueza  e oportunidades, o governo venezuelano utilizou as vastas receitas provenientes do  petróleo para alimentar um Estado inchado, financiar programas sociais  insustentáveis e concentrar o poder político nas mãos de uma elite corrupta.

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O controlo centralizado da economia resulta inevitavelmente na perda das  liberdades individuais. Quando o Estado decide quem pode ou não produzir,  expropria propriedades e controla os recursos naturais, destrói um dos pilares  fundamentais de uma sociedade livre: a propriedade privada. Na Venezuela, a  expropriação em massa de empresas, indústrias e terras afastou o capital  estrangeiro e destruiu a capacidade produtiva do país. Desde 2014, o Produto  Interno Bruto (PIB) da Venezuela caiu mais de 75%, um indicador alarmante que  ilustra o impacto catastrófico da centralização estatal.

Um país que tivesse respeitado as regras de uma economia de mercado poderia ter  utilizado as suas enormes reservas de petróleo para atrair investimentos  estrangeiros, diversificar a sua economia e desenvolver indústrias locais.

As Sanções: Um Fator ou um Álibi?

É recorrente ouvir defensores do regime venezuelano atribuírem a devastadora  crise económica do país às sanções internacionais, especialmente as impostas  pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Embora as sanções tenham, sem  dúvida, um impacto negativo, responsabilizá-las integralmente pelo colapso da  Venezuela é uma simplificação perigosa e desonesta. Tal narrativa não só ignora os  fatores internos que levaram a esta tragédia, mas também atua como uma  estratégia para desviar a atenção das verdadeiras responsabilidades.

A realidade é que a deterioração económica da Venezuela começou muito antes da  imposição das sanções de 2017. Entre 2013 e 2016, as importações de alimentos  caíram 71%, enquanto as importações de medicamentos e equipamentos médicos  sofreram uma queda de 68%. Esses números vão além de meras estatísticas e  refletem anos de privação para milhões de venezuelanos, caracterizados pela  escassez de alimentos, colapso de serviços básicos e deterioração de um sistema  de saúde já fragilizado. As causas dessa crise são bem conhecidas: gestão  incompetente, corrupção endémica e políticas económicas desastrosas  implementadas por um governo que parece ter perdido a capacidade de governar.

A produção de petróleo, que deveria ser o motor da economia venezuelana,  também está em queda acentuada. Entre 2013 e 2017, a produção caiu 50%,  consequência direta da má gestão da PDVSA, a estatal petrolífera, e do abandono  das infraestruturas essenciais. Esse cenário evidencia que a crise não é um  fenómeno recente, mas o desfecho de anos de decisões equivocadas que  culminaram na atual catástrofe.

Para agravar ainda mais a situação, antes das sanções, a Venezuela já se via  excluída dos mercados financeiros internacionais. Os investidores evitavam a  dívida soberana do país, e o prémio de risco associado à Venezuela disparou, muito  acima da média da América Latina. Esse cenário já era indicativo de que a  economia estava em colapso muito antes das sanções, refletindo problemas  estruturais profundos e uma governação desastrosa.

Ainda assim, defensores do regime insistem em colocar o peso da  responsabilidade nas sanções, ignorando que o país já seguia uma trajetória de  declínio acelerado. Embora as sanções tenham um impacto relevante, é falacioso  desconsiderar que a verdadeira origem da crise reside numa combinação de  centralização excessiva do poder, corrupção sistémica e políticas económicas  intervencionistas que sufocaram a iniciativa privada e arruinaram a economia.

O Mito da Redistribuição de Riqueza

Uma das defesas recorrentes do socialismo é a ideia de que o controlo estatal é  necessário para garantir a redistribuição de riqueza e reduzir as desigualdades  sociais. No entanto, como demonstram os resultados na Venezuela, essa ideia não só falha em atingir os seus objetivos, como também compromete os alicerces de  uma economia saudável e funcional.

O verdadeiro resultado das políticas socialistas é a redistribuição da pobreza, e não  da riqueza. Ao sufocar o espírito empreendedor, afastar o capital estrangeiro e  desincentivar a produção, o governo venezuelano condenou a sua população à  miséria. Em 2019, a Venezuela perdeu mais de 80% dos investimentos estrangeiros  diretos em comparação com 2010, agravando ainda mais o colapso económico.  Sem acesso a capital externo, a economia mergulhou numa hiperinflação  devastadora, com o FMI projetando uma taxa de 160% para 2024, refletindo o  colapso total da moeda nacional.

Além disso, a emigração em massa de venezuelanos em busca de melhores  condições de vida no exterior, conhecida como “fuga de cérebros” (brain drain), é  outro sinal do fracasso das políticas económicas venezuelanas adotadas. Em vez  de fomentar um ambiente de justiça social e prosperidade, o socialismo  venezuelano criou um sistema onde uma elite política enriquece às custas de uma  maioria empobrecida

O Impacto das Eleições de 2024 na Crise Venezuelana

A crise económica da Venezuela é exacerbada pela instabilidade política, como  evidenciado nas eleições de 2024, nas quais Edmundo González, o candidato da  oposição, proclamou uma vitória com 67% dos votos. Nicolás Maduro, por sua vez, desconsiderou essa realidade, alegando uma vitória sem qualquer base legítima.  Este ato de desdém pela democracia é emblemático da degradação institucional  que a Venezuela enfrenta.

A rejeição à alegada vitória de Maduro por parte dos Estados Unidos, da União  Europeia e de dez países da América Latina vai além de um gesto simbólico, sendo  um claro reconhecimento da ausência de legitimidade do regime. A decisão da  Justiça venezuelana de apoiar Maduro evidencia o controlo que ele exerce sobre as  instituições estatais, corroendo ainda mais a confiança na democracia e no Estado  de Direito.

Esta instabilidade política resulta num ambiente de incerteza que agrava a crise  económica devastadora que o país enfrenta. Ao manter-se no poder, Maduro não  apenas ignora os resultados eleitorais, mas também perpetua a desconfiança entre  investidores, que hesitam em injetar capital num mercado instável. O medo de  represálias legais por corrupção e violação de direitos humanos é uma das razões  que o leva a resistir a deixar o poder, mesmo diante do crescente  descontentamento popular.

A repressão brutal de manifestações e a detenção de opositores são estratégias  desesperadas para silenciar a contestação e assegurar a permanência no poder. O  resultado é um ciclo vicioso: quanto mais Maduro se agarra ao poder, mais  profunda se torna a crise económica e social que aflige o povo venezuelano.

A Liberdade Económica Como Caminho para a Prosperidade

A experiência venezuelana destaca a importância da liberdade económica como  alicerce para o desenvolvimento e a prosperidade. A centralização estatal e a  corrupção sistémica não só asfixiam a economia, como também comprometem  as liberdades individuais.

Para superar o colapso, é essencial que a Venezuela implemente reformas  estruturais baseadas nos princípios de mercado livre, promovendo a propriedade  privada, a iniciativa individual e o combate efetivo à corrupção.

Só assim será possível criar um ambiente propício ao progresso sustentável e  devolver ao povo venezuelano as oportunidades que lhe foram negadas, antes que  seja tarde demais, se já não o é.