Já se sabia que a PSP tinha ordens para tirar os nomes das pessoas que, por qualquer razão, manifestem na praça pública e, portanto, podem hipoteticamente pôr em causa a ordem. Até aí é normal. O que não se sabia e não é nada normal é que esses nomes não fiquem na polícia. Não se sabe por que carga de água nem há quanto tempo os nomes recolhidos pela PSP são transmitidos à Câmara Municipal de Lisboa e também não se sabe se a outras Câmaras onde haja manifestações públicas, assim como se ignora se os nome também são transmitidos ao governo…
Não se sabe se isto é de hoje ou de sempre. Pode ser até que venha do tempo do «fascismo! O facto é que, de repente, se soube que não só a polícia tirava os nomes de todos e quaisquer manifestantes mal comportados como os comunicava à Câmara de Lisboa. No Porto fazem a mesma coisa? Em nome de quê? Provavelmente a polícia também mandou os nomes dos adeptos do Sporting quando ganharam o campeonato, não? Assim, as câmaras ficam a saber quem são os arruaceiros cá do sítio. É sempre bom tê-los debaixo de olho!
Pressurosa, a Câmara participa os nomes dos mais agitados às vítimas potenciais dos manifestantes. Se é de embaixadas que se trata, a pressurosa burocracia informa o sr. embaixador dos nomes e residências dos tais agitados, com cópia para o sr. ministro dos Negócios Estrangeiros como interlocutor privilegiado que é do nosso governo. Segundo acabámos de saber devido a uma daquelas fugas marotas das quais nem as altas sumidades que nos governam se safam, as informações acerca dos manifestantes tinham sido devidamente transmitidas… a quem? Nada mais, nada menos do que à Rússia do sr. Putin, que assim ficou inteirado de quem se manifestava nas ruas de Lisboa contra a prisão de um adversário do regime chamado Navalny, a quem já tentaram aliás liquidar!
Apanhado com a mão na massa, o presidente da Câmara, cujo mandato está a chegar ao fim se não for antes, gaguejou e não deu explicação. Partindo do princípio que a Câmara Municipal não enviou a informação para a Rússia devido a uma simpatia especial pela ditadura pós-socialista que lá vigora, só podemos concluir que a transmissão de informações acerca dos adversários do regime russo está longe de ser a única. Por exemplo, não acredito que o presidente Medina não envie para Luanda os nomes e moradas das pessoas que, ao longo do tempo, se têm manifestado contra a ditadura angolana. E logicamente não há-de ser apenas Angola mas todos os países que, por uma razão ou por outra, sejam objecto de protesto público nas praças de Lisboa… e do Porto se também lá houver manifestações contra o «fascismo» ou mesmo a «favor» porque informações são sempre informações e nunca se sabe quando podem ser úteis!
Perante estes factos absolutamente lamentáveis e, como se viu, tão sistemáticos quanto a nossa burocracia é espessa, opostos a tudo o que se deve esperar de um regime minimamente decente, confirma-se o significado de uma «démarche» como aquela que o nosso primeiro-ministro fez junto do actual ditador eleito da Hungria, Orbán, com o fito de se juntarem para extrair benefícios da UE! O mesmo ou pior se passa com as antigas colónias africanas bem como o Brasil, a Venezuela e outros países «importantes» para o governo do PS e dos seus aliados… Será que a Rússia não é só «importante» para o PCP?
Como sabemos, em Portugal não há «opinião pública». Se houvesse, Medina já se tinha demitido, como outros dos seus colegas do PS que continuam a agarrar-se como lapas ao governo de António Costa ou este não os deixa ir embora para não se ver que o rei vai nu. Nem poderia haver uma genuína opinião pública num regime cujo governo se permite comprar abertamente 15 milhões de euros de publicidade à comunicação social ao mesmo tempo que continua a obrigar-nos a pagar taxa para uma televisão governamental que a maioria não vê! Não há opinião pública nem poderia haver onde o governo é mau – muito mau – e a oposição, com a excepção das regiões autónomas, não existe.
Entre os erros constantes dos aprendizes de governantes e das suas pretensas políticas públicas, desde a saúde à educação e da segurança social às reformas e pensões, o fechamento do primeiro-ministro no seu casulo de colaboradores sob a interminável pressão da pandemia levou a que se tenha erguido entre o governo e qualquer hipótese de oposição um muro comunicacional intransponível. São e serão cada vez mais insultos e monossílabos de parte a parte que não levarão a parte alguma! A triste impotência de Rui Rio é o espelho da abusiva dominação do PS e dos seus aliados sobre o país.