O povo português, corajoso, lutou, e muito, durante muitíssimos anos, alguns pagando com a própria vida e a de alguns familiares, outros foram deportados e tantos outros foram torturados, até à conquista da liberdade e instauração da Democracia, neste belo país, de seu nobre nome, Portugal.
Estão passados quase 50 anos, meio século portanto, desta conquista e, tantos de nós cidadãos, humildes, mas sérios e honestos, notamos e sentimos que a tão desejada Democracia e muito querida liberdade está em processo de degradação acentuada. Alguns querem impor o delito de opinião. A ditadura económica impõe-se, a inflação come os pequenos ganhos, retirando capacidade económica aos cidadãos mais desfavorecidos. Os idosos têm reformas pequenas, o que não lhes possibilita condições de vida desafogada. O acesso aos cuidados de saúde, médico e enfermeiro de família, estão diminuídos. Consulta de especialidade e cirurgias, com longas listas de espera, penalizando precisamente quem não tem outro recurso, nem seguros de saúde, e tem de “aguentar”.
Perante uma evolução e história recente, nestes 49 anos, e por muito estranho que pareça, em nossa opinião é precisamente o “poder político” que mais tem degradado a democracia e com medidas e leis desadequadas, limitando a liberdade, nas mais variadas formas e expressões. Sociologicamente, estamos mais evoluídos. O pensamento social mais exigente. Mas as condições e vida societal, são as melhores?
Os actos eleitorais têm registado altíssimas taxas de abstenção, suportadas com muitas desculpas, mas assentes também, em factos e realidades inequívocas: alheamento dos jovens ao “facto político” e desacreditação nas escolhas e mudanças de tão fracos políticos e projectos colocados a sufrágio dos cidadãos eleitores.
As instituições não se respeitam. As críticas, na praça pública, são feitas sem decoro, sem respeito e sem “etiqueta”. Nestes últimos dias fomos confrontados com declarações e críticas do Sr. Ministro da Cultura (e logo da Cultura), Dr. Pedro Adão e Silva, sobre os senhores deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP e “os modos” como correram os trabalhos desta CPI. Convém lembrar que, o Sr. Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, em tempos passados, quando houve o caso do Dr. João Soares, também enquanto Ministro da Cultura, referiu que “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”, “devem ser contidos”.
Este caso das críticas do actual Ministro da Cultura tem particular importância e tornou-se uma descortesia e até, talvez, uma deslealdade, para com o ex-membro do governo e com a CPI, porque:
- Quem presidiu à CPI, foi o ex-Secretário de Estado da Saúde, Dr. Lacerda Sales, deste mesmo Governo a que pertence o Ministro da Cultura;
- O Governo responde perante o Parlamento e não é este orgão de soberania que responde perante o Governo. E por isso não pode haver aqui uma inversão de papéis e a tal falta de respeito:
- A (tentativa de) transformação de trabalhos de uma CPI, com a importância que ela tem, e com os documentos que produziu, as verdades e as horas mediáticas que consumiu, num caso de desvalorização total, que possa servir os interesses do PS e desacreditar as outras forças políticas;
- O próprio Presidente da CPI, o deputado Dr. Lacerda Sales, qualificou as declarações do Ministro da Cultura de “falta de respeito” e “caracterização muito injusta”, solicitando até que o Sr. Ministro se “retrate”.
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Terão sido estas afirmações propositadas para criar um momento e facto político e de distração em relação à demissão do Secretário de Estado da Defesa, por corrupção?
Depois, numa outra dimensão, a relatora desta CPI, deputada do PS Ana Paula Bernardo, apresentou um documento/relatório eliminando factos concretos, que vimos e ouvimos nas televisões, com afirmações até dos próprios, e que são desvalorizadas neste relatório. Factos estes que deram origem à CPI e onde se demitiram, Ministro, Secretário de Estado, gestora e CEO da TAP.
Para além disso, os muitos casos e casinhos deste governo, os arrufos entre o Sr. Presidente da República e Sr. Primeiro-Ministro na praça pública, episódios de tiques autoritários e comentários menos nobres, gravados pela televisão/canal do Parlamento, do Sr. Presidente da Assembleia da República, Dr. Augusto Santos Silva e, tantos outros, associados ao tráfico de influência, favores e corrupção, degradam seguramente a democracia. Último caso de demissão (e já lá vão treze) no Governo por corrupção: o do Secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira.
Parece-nos que, com culpa de todos os partidos políticos, os melhores da sociedade portuguesa ficam sempre de fora, afastam-se e não querem participar nesta amálgama de baixa cotação de valores, colocando o seu bom nome em causa.
E o povo como reage? E o povo tem escolha? O povo tem sempre razão! Por isso quererá eleger sempre os seus representantes, que muitas vezes não correspondem às expectativas e ao que se esperava deles, bem como ao bom nome que o bom cidadão português tem! Precisam-se de novos valores, não só éticos, mas também morais.