Mais de 500 anos após a gesta heróica de Vasco da Gama, Portugal volta a celebrar feitos épicos de navegadores, homens valentes que ultrapassam os mais improváveis obstáculos para atingir o destino sonhado. Cinco séculos depois, a façanha da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia é reeditada, agora enquanto Descoberta do Caminho Marítimo para o Barreiro. Dois testemunhos da apetência ímpar dos portugueses para viagens impossíveis: as das caravelas de outrora e as dos cacilheiros de hoje.
Claro que há óbvias diferenças entre as expedições. A viagem do Gama durou 10 meses, a viagem para a Outra Banda, com ventos propícios, raramente chega a tanto. Mais: aos tripulantes das naus exigia-se coragem física durante a jornada. Aos passageiros da Soflusa a coragem física também é necessária, mas antes da partida, caso seja necessário andar à bulha com alguém que venha roubar o lugar na fila. Os tripulantes de antanho tinham os dentes estragados pelo escorbuto, os de agora é por andarem à batatada no cais.
Também a ansiedade é diferente. O descobridor do séc. XV angustiava-se por não ter a certeza para onde o seu barco se dirigia. O de agora sabe perfeitamente que é para o Barreiro. Aliás, consegue vê-lo do outro lado do Tejo. Não sabe é se há barco. Onde uns ousaram passar ainda além da Taprobana, outros não sabem se passarão sequer além do torniquete.
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