Devo dizer — anatema sit entre alguma Direita — que gostei francamente da Ceia de Natal do CDS: uma comunicação política arejada e com substância (honra à IL, que tem dado cartas na matéria), diferente dos partidos de poder PS e PSD com os seus programas grossos e de páginas vazias, e os seus lemas esgotados, ouvidos ad nauseam desde 75.

Acredito que Portugal precisa de uma Direita genuína, nacional, lúcida no retrato do País, da Europa e do Mundo. Essa Direita, no espaço partidário português, subsiste no CDS. A Direita da Pátria, do amor telúrico, da cidade ordenada e do mundo rural, de uma política ambiental feita de capote e não num 6.º andar nas Avenidas Novas, a Direita das autênticas tradições das nossas gentes, temperada pela sensibilidade social daqueles que têm a Igreja por Mater et Magistra.

E tudo isto se tornou ainda mais claro ao meu espírito depois de assistir ao debate (generosidade de linguagem, desde logo pelos escassos vinte e cinco minutos que se consagrou a cada um destes confrontos políticos) entre Rodrigues dos Santos e Ventura.

Combater todos os ataques à sacralidade da vida humana, desde a concepção à morte natural, é imperativo de consciência. Combater a esquerda estatista, travando o bom combate na economia, na educação e na saúde, é urgente: menos impostos, menos Estado, mais liberdade, mais Família. Combater a esquerda, travando o justo combate na cultura, as quimeras do género, da “linguagem inclusiva”, do policiamento do pensamento e toda a tentativa de minar os alicerces da nossa Civilização Cristã Ocidental, é impreterível. Pelo caminho, reverter ainda o malogrado acordo ortográfico, inconsistente e lesivo do parentesco do português com as restantes línguas latinas. De igual modo, combater o revisionismo histórico há-de ser condição fundamental para uma cura pela identidade que une ao invés de dividir, pela restauração do legítimo e salutar orgulho de ser português.

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Desengane-se, porém, quem porventura julga ainda o Doutor Ventura o mais capaz actor político para a prossecução desses desideratos. Na verdade, se é compreensível o surgimento de um discurso político radicalizado depois de termos vivido sob o signo vermelho do Governo das esquerdas unidas de 2015-19, e se acaso esse foi o tempo para destruir, é definitivamente chegado o tempo para a Direita edificar (Ec. 3,3). E Ventura não constrói nada.

Desconfio que a cabeça (e o corpo?) da “interjeição” que é o Chega — na feliz expressão do Presidente do CDS-PP — não seja de extrema-direita. Essa terá a sua mais acabada expressão nos legitimismos contra-revolucionários (como, aliás, dizia recentemente o culto Zemmour, recusando o rótulo e remetendo-a para o legitimismo francês), i.e., entre nós, no tradicionalismo miguelista interpretado e cultivado pelo Integralismo Lusitano.

Ora, é claro que o Chega não se inscreve nessa tradição. Força política essencialmente populista, sobe à custa de bandeiras falsas e alheias aos verdadeiros problemas nacionais.

Ou passará a salvação da Pátria pela expulsão dos ciganos, de umas poucas centenas de refugiados, pela extinção dos abusos no vencimento do RSI, pelo endurecimento do direito penal ou por baixas salariais dos titulares de cargos públicos que, pecando por injustiça, facilmente redundariam ainda na fragilização dos primeiros servidores do interesse público face a pressões externas?

Com efeito, poder-se-ia pensar que, depois de ganhar alguma tracção com aquelas suas bandeiras, Ventura passaria a ter um discurso político sério, atento à realidade do País… mas somos forçados à triste constatação de que as bandeiras já não são táctica, assumindo-se antes como a própria substância da sua política. Além de contribuir tristemente para o aviltamento do debate público, Ventura prossegue um discurso que não assenta num diagnóstico social coerente, o que de resto não abona em favor de alguém com indiscutível mérito académico. Ou seria só quando chegasse a Primeiro-Ministro que o Doutor em Direito se tornaria num político com discurso razoável?

Conviremos que Ventura fala do séc. XIX, mas não pelas razões que apontava Rui Tavares: Ventura faz lembrar uma Lisboa que sorvia de Paris, qual província gaulesa, construindo a sua narrativa sobre forças como o Rassemblement National, de forma aparentemente acrítica e sem a sujeitar às necessárias adaptações para a diferentíssima realidade portuguesa.

A Direita certa, meus Senhores (as Senhoras são bem-vindas com certeza, que a nossa língua é bem-educada…), subsiste — e há-de ser construída — no e pelo CDS.

Rodrigues dos Santos teve a galhardia de assumir o partido em circunstâncias particularmente difíceis e tem aproveitado o ensejo para en-direitar um CDS que parecia consumir-se num vórtice centrão. Decerto a sua acção política, e a sua presidência do partido, não estão isentas de críticas: ninguém está.

O que importa agora, porém, é edificar, apresentar uma verdadeira alternativa à Direita, na certeza de que um voto no CDS se saldará numa marca indelével numa governação PSD.