Na sua última intervenção pública, o Presidente Jorge Sampaio anunciava o alargamento da Plataforma Global para os Estudantes Sírios às estudantes do Afeganistão. A defesa da educação dos migrantes que fogem de estados falhados, é de facto, como ele bem compreendia, um dever humanitário, mas também um caminho para apoiar o desenvolvimento das sociedades e fortalecer as instituições do Estado.

Em 2015, quinze anos depois dos Taliban serem derrotados no Afeganistão, os dados da Unesco indicavam que apenas 25% das raparigas e jovens mulheres afegãs tinham terminado o ensino correspondente ao básico, comparado com 48% para os rapazes. Por outro lado, 40% das raparigas tinham completado o ensino primário, o que significava que havia potencial de engrossarem uns anos mais tarde os bancos da escola secundária.

Porém, de forma geral, os dados apontavam ainda, apesar da existência de uma frágil democracia, para uma deficiência preocupante a nível da escolaridade, sobretudo das mulheres. Mostram-nos também que as instituições que são fundamentais para o desenvolvimento individual e para a prosperidade de um país demoram muito tempo a construir e só são possíveis com o empenho político e da sociedade civil, ao longo de várias gerações.

A tragédia do Afeganistão, que com toda a certeza verá estes magros progressos desaparecerem nos próximos anos, repete-se em muitas regiões onde os estados fracassaram, devido à guerra, à corrupção e à autocracia. Segundo o Índice da Fragilidade dos Estados do “Fund for Peace”, os países que em 2020 se encontravam numa posição mais precária são também aqueles onde o nível de educação da população é mais baixo e onde há uma maior discrepância entre o nível de ensino das mulheres e dos homens. Os países onde apenas menos de metade das jovens completaram o ensino básico eram classificados como os mais frágeis do mundo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Recusar o direito à educação das mulheres tem um efeito particularmente negativo e persistente no desenvolvimento de toda a sociedade, porque a educação das mães é, até entre os países mais avançados, um dos melhores indicadores do sucesso escolar dos filhos. É condenar gerações futuras a uma vida menos próspera e menos saudável e contribuir para a fragilização das instituições. É um terrível desperdício humano que afeta mais do que uma geração.

A educação das mulheres melhorou substancialmente nos últimos 40 anos a nível global. Entre 1974 e 2012 a taxa de jovens que tinham completado o ensino primário tinha subido de 69% para 89%. Apesar de esta taxa estar estagnada neste nível desde então, esta melhoria, ainda assim, dá-nos confiança que existe vontade e meios para continuar a progredir, se os quisermos mobilizar.

A educação, especialmente das mulheres, é uma pré-condição para o desenvolvimento da sociedade e para o sucesso dos povos. Deve ser por isso um instrumento estratégico da Europa face aos desafios que se colocam nas suas fronteiras.