Enquanto o PS aprovava a fraude anedótica das alterações ao OE propostas pelo Livre, PSD, BE e PCP partilhavam a impotência perante o poder do PS. Mais precisamente viam como à esquerda o Governo não se limita a esmagar a oposição, inventa-a. E como à direita impõe regras de um jogo viciado.
Comecemos pela esquerda. Para insuflar Rui Tavares, o PS prestou-se a uma farsa na discussão deste Orçamento do Estado: impavidamente os socialistas aprovaram medidas que já existiam – caso do conforto térmico e do IVA dos produtos de higiene menstrual – deixando que Rui Tavares as apresentasse como pioneiras e suas. Esta ficção política deixou o BE e o PCP a nadar em seco. Os parceiros da geringonça, sobretudo o BE, foram descartados e não sabem o que fazer consigo mesmos.
Já para fragilizar Luís Montenegro, o PS vai buscar o Chega. Obviamente aos socialistas não chegava rearrumar a esquerda. O mais importante passava pela neutralização do PSD. E aí, na neutralização do PSD, o Chega desempenha um papel crucial não tanto pelos votos que conseguiu (e são muitos) mas sim porque o PS, ao mesmo tempo que dá uma importância desmesurada ao partido de Ventura, institui para o PSD o tabu Chega. Quanto mais votos tiver o Chega e quanto mais tempo levar o líder do PSD, seja ele qual for, a explicar que nunca teve nem terá contactos com o Chega, melhor para o PS. A isto juntem-se os jogos de Marcelo e o ensimesmamento obstinado de Rui Rio e percebe-se facilmente porque passou o PSD de partido que discute o futuro do país a partido que discute se tem lugar nesse futuro.
A invenção da oposição, caso do Livre, e a definição das opções que esta pode tomar (relação PSD-Chega) são sintomáticas do poder socialista. Inquestionável.
Os maquinistas do Metro de Lisboa (ML) são claustrofóbicos? Não digo todos, mas alguns? Tenho fortes razões para crer que sim. Senão vejamos, a empresa Metro de Lisboa emprega 260 maquinistas. Um número manifestamente exagerado mesmo tendo em conta o crescimento das linhas. Note-se contudo que, dentro em breve, estes 260 maquinistas passarão a quase trezentos, pois, após várias greves e ameaças de greve, o Governo entendeu por bem que se vão contratar mais maquinistas. Afinal estão aí os arraiais à porta e uma greve nesses dias é algo que António Costa não está preparado para enfrentar. Já era esta a sua resposta à contestação na CML e é agora a sua forma de calar os protestos laborais. A factura como de costume segue para o contribuinte. Mas o mais interessante destes dados é que constatamos que o número de maquinistas ao serviço do Metro de Lisboa aumenta ao mesmo tempo que diminui o número de passageiros transportados pela empresa. Já se sabe que em 2020 e em 2021 o número de passageiros diminuiu em consequência da pandemia: em 2020 o ML perdeu 50,7% dos passageiros, ou seja mais de metade. Em 2021 perdeu ainda mais passageiros: transportou menos 7,6% do que em 2020. E quando se esperava que 2022 o ML apresentasse uma recuperação significativa, constata-se que no Metro de Lisboa a recuperação de passageiros acontece de forma muitos mais lenta que nas outras outras empresas de transportes, a começar pela Metro do Porto. O número de passageiros transportados nos primeiros quatro meses deste ano pelo ML está 28% abaixo do mesmo período no ano de 2019. Nada que se compare, por exemplo, com o Metro do Porto, onde esta percentagem é de 6%, Tendo em conta a degradação do serviço prestado pelo Metro de Lisboa, mais a perturbação introduzida pelas greves e anúncios de greve, importa-se o senhor ministro do Ambiente e da Ação Climática de vir explicar qual a razão para obrigar o contribuinte a sustentar uma empresa com tão mau desempenho? E já agora de caminho assumir que está sob a tutela do seu ministério, dito de Acção Climática, uma das empresas que mais contribui para a utilização do automóvel individual a saber o Metro de Lisboa.