O Irão escalou contra Israel e, quase em uníssono, todos os treinadores de bancada aconselham o estado judaico a não responder. Ouvem-se comentadores, como Pacheco Pereira, Alexandra Leitão, Azeredo Lopes, etc., políticos como Borrell, Biden, Sanchez, etc., e todos “compreendem” e relevam a contenção dos aiatolas que “até avisaram”, vejam lá que boas pessoas são, sensatas e sábias como ninguém. Condenar mesmo, só o “extremismo” do governo israelita que, em certas interpretações mais descaradas, foi quem teve a culpa, por ter atacado uma instalação diplomática, provavelmente fez até de propósito, Benjamim Netanyahu é capaz de tudo para sobreviver, ao contrário dos aiatolas, esses santos homens.
Esta posição só pode resultar de uma de duas coisas: ou pura ignorância, ou refinada má-fé, esta alicerçada no milenar ódio contra os de sempre, que continua a ronronar em insuspeitados peitos!
Explicando:
As instalações diplomáticas do Irão em certos países são meros disfarces de instalações militares, os “diplomatas” são oficiais da Guarda Revolucionária, no activo, e isso invalida, ipso facto, a imunidade conferida pelas convenções internacionais que, de resto, o Irão ignora sistemática e olimpicamente.
O ataque israelita ao quartel-general em Damasco foi pois totalmente legítimo à luz do direito internacional, uma vez que naquelas instalações se planeavam e ordenavam ataques diários ao território israelita. Estes ataques é que são a origem do problema, não a resposta israelita.
O ataque iraniano é fácil de compreender. A equação até agora em vigor, e que tem permitido ao Irão carta branca para fazer o que quer, é bastante simples:
-Eu não gosto do meu vizinho, e pago a uns maus rapazes para lhe apedrejarem a casa. Ele sabe que sou eu que os envio, mas só pode bater neles, não está autorizado a apedrejar a minha casa.
É isto que tem acontecido. O Irão, organiza, instrui, arma e manda os seus rapazes atacar Israel todos os dias, cada míssil que alveja Israel tem a mão do Irão, faz isto há anos e está confortável, porque nada lhe acontece em casa, os únicos a sofrer na pele são os dispensáveis rapazes. Tem pois todo o interesse em manter o status quo.
Israel percebeu que tem de mudar a equação, ir atrás da cabeça e não só dos tentáculos. Os aiatolas não gostam obviamente desta equação e pretendem repor a antiga.
E foi por isso que lançaram este ataque largamente coreografado e acompanhado de ameaças urbi et orbi.
É óbvio que Israel tem mesmo de responder ou só lhe resta esperar um futuro de ataques diários em crescendo, até tornar a sua existência impossível.
Retaliar em solo iraniano é, basicamente, dizer aos aiatolas, na linguagem que eles compreendem, que doravante, o Irão irá pagar um preço pelas consequências das acções dos seus rapazes.
Para já, ou aproveita para atacar mesmo o Irão, com a legitimidade óbvia de responder a um ataque ostensivo e massivo, ou usa esse crédito para acabar com o Hamas, entrando em Rafah e nos locais onde este proxy iraniano está encurralado.
Em teoria deveria fazer as duas coisas, mas os meios talvez não cheguem para tudo e há que gerir oportunidades e contextos, sem esquecer que permanece a questão do Hezbollah que é, na prática, um exército iraniano às portas de Israel.
Sim, o ataque iraniano foi um fiasco, mas não se pode traçar uma equivalência entre o ataque e os danos, como fazem despudoradamente os treinadores de bancada, porque o fracasso do ataque resulta apenas da capacidade do defensor e não da boa vontade do atacante.
Uma resposta significativa mas limitada em solo iraniano, seria a retaliação ideal, atacando alvos seleccionados como indústrias de armamento, paióis, uma ou outra infraestrutura ligada à produção e exportação de energia, programa nuclear, etc.
Israel tem capacidade para fazer tudo isto e deve fazê-lo na medida certa, para deixar clara a ideia de que a equação mudou mesmo. O Irão usou qualitativamente tudo o que tem, (apesar das sibilinas bravatas de que pode já ter armas nucleares) e apenas pode aumentar a quantidade, mas o resultado dessa escalada, será sempre devastador para os aiatolas. Os russos, seus indefectíveis aliados, não estão em condições de virem em sua ajuda, como alguns temem.
Ou seja, definitivamente não interessa neste momento ao Irão, uma escalada, de um ponto de vista puramente racional.
Em conclusão, não se trata do “extremismo de Netanyahu”, ou outras baboseiras dos nossos lamentáveis comentadeiros, mas sim da sobrevivência de Israel que depende, em larga medida, de uma imagem de capacidade e vontade.
Regimes como os dos aiatolas, dos Hitlers ou dos Putins, não se apaziguam com contenção, pelo contrário, interpretarão sempre isso como sinais de fraqueza. O resultado será exactamente o oposto, ou seja, a reiteração da agressividade e das acções ofensivas.
Já devíamos ter percebido isso, mas continuamos a dar voz e autoridade a gente timorata, convencida que o sistema internacional é um condomínio kantiano e não o que realmente é: um mundo hobbesiano no qual os lobos fazem o que sempre fizeram, aos que se portam como ovelhas.