No caso português, a única solução governativa a curto prazo é um governo da AD com o CH, como disse Joana Amaral Dias, praticamente a única opinon maker inteligente que perpassa na nossa comunicação social cartelizada pelos grandes partidos e pelos grandes grupos económicos, em toda uma plêiade de comentadores de pacotilha que não acertam uma, e que ainda por cima seguem sondagens eleitorais encomendadas que falham muito mais do que a margem de erro que apregoam. Joana parece não acreditar em Ventura e nos seus apaniguados, e no que alardeiam, mas quer pô-los à prova até que, eventualmente, a máscara lhes caia!

A única forma de avaliar e testar se o CH é de facto, e não apenas de jure, um partido anticorrupção que também defende a melhoria dos baixos salários dos portugueses e a descida abrupta dos impostos, é pô-lo à prova. Se contrariarem no poder o que pregam na praça pública, serão imediatamente escrutinados e esvaziados em próximos atos eleitorais, tornando-se um epifenómeno. Caso contrário, ao não entrarem no governo, permanecerá sempre na mente dos seus mais de um milhão de eleitores, com tendência para subir a médio prazo, o tal “voto de protesto” a que aludem os media, a dúvida em relação aos seus reais propósitos. Serão mais do mesmo, ou pior que isso?

A questão racial já nem se põe, porquanto é o único partido que elegeu dois cidadãos negros e um de origem indiana, já para não falar na sua implantação entre cidadãos de etnia cigana (foi o partido mais votado em Elvas, por exemplo). Nem é válido o comentário racista que atribuem ao Chega sobre o “monhé” Costa. A talhe de foice refira-se, como escreveu o próprio deputado do CH Gabriel Mithá, António Costa faz parte da pertença racial que os moçambicanos designam de forma depreciativa por “caneco”, entre os oriundos do Índico “monhé” são os moçambicanos que têm ascendentes islâmicos.

Mulheres e jovens (já havia a deputada mais jovem na legislatura que agora fina) há tantos ou mais de que os outros, cumprindo assim os critérios de paridade que os outros se arrogam, mas sistematicamente não cumprem.

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A questão da direita e da esquerda é hoje uma ficção. Os portugueses querem é ver os seus problemas, que não são poucos, resolvidos, num contexto sócio económico em que a desigualdade e a pobreza atingem valores insustentáveis e a dependência externa é insofismável, que nada abonam em favor de um regime democrático com meia década de existência, e que geram um desencantamento e descontentamento quase endémico na sociedade portuguesa.

A falsa consciência a que aludimos no título desta nossa crónica, retoma a ideia expressada por Engels numa carta que escreveu a Mehring em 1893, que já não é hoje a consciência dos explorados e a sua submissão à ideologia dos dominadores, mas a compartimentação ideológica, falsa, que procuram os partidos do argo do poder inculcar na mente dos cidadãos aproveitando-se da sua baixa literacia política.

Com efeito, a ideologia é um processo que, com efeito, é completado com consciência, mas com falsa consciência. As forças impulsionadoras que movem os eleitores permanecem-lhe desconhecidas, essas forças são esconsas, falsas ou ilusórias. Ou seja, e no caso em apreço, o da consciência eleitoral, o eleitor pensa que a sua escolha é a correta, mas não pensa nas razões e nas causas que a determinam, isto é, na alienação ideológica que lhe incutem todos os dias, nos programas irrealistas ou, eternamente, não cumpridos, nas grandes parangonas mediáticas, na pantomina. O eleitor julga-se em condições de escolher os seus “representantes”, mas não se apercebe que não compreende, com verdadeira consciência, as razões e os impactos da sua escolha.

Acresce o facto de a nossa lei eleitoral não representar a proporcionalidade de voto. Caso paradigmático nestas eleições legislativas é o caso do ADN ter conseguido cerca de 100.000 votos e não ter elegido qualquer deputado e o PSD/PPD na Madeira com 50.000 votos, isto é, metade, ter conseguido eleger 3 deputados. Depois a farsa, que se repete a cada ciclo, de quem ganhou as eleições. Todos aparecem como ganhadores, mas isso é treta. Quem ganhou estas legislativas foi na verdade o ADN, por decuplicou a sua última votação, depois o Chega que quadruplicou o número de deputados, mas apenas triplicou a sua votação, como aliás o Livre que também quadruplicou o número de deputados e triplicou percentualmente o número de votos. Se alguém afeto à AD já veio lamentar o alegado engano, ou seja, a ignorância dos portugueses, dada a confundibilidade entre as siglas AD e ADN (a culpa é só deles, da sua burrice, porque a AD surgiu depois do ADN que já existia), e que terão mesmo perdido 3 deputados, porque razão o ADN não elegeu nenhum? Pois é, é o problema de uma lei eleitoral obsoleta, antidemocrática, que os próprios partidos do centrão, por interesse, não querem referir e muito menos alterar.

A única forma de resolver este anacronismo era a implantação de um círculo nacional único e do mecanismo de compensação que já existe nos Açores. Mas isto fica para outras núpcias!

Assim, para a clareza democrática, ao contrário de Rui Tavares, que tal como o idiota útil do sistema, defende a união contra um suposto autoritarismo que existe na sua cabeça e na dos seus apaniguados, mas não existe na mente de cerca de um milhão de portugueses que, estamos seguros, são na sua esmagadora maioria tolerantes, não xenófobos e não homofóbicos. A narrativa dita de esquerda do L e do BE já não colhe e está condenada, acreditamos, ao seu estado residual. Em relação aos social-democratas da AD e do PS, que basicamente têm a mesma matriz ideológica, resta-lhes aceitar o vaticínio do eleitorado, respeitar a decisão da maioria, que é isso que conta num modelo, que o autor não advoga, mas que é o que vigora na maioria dos países do hemisfério ocidental, o da democracia representativa (locução “de representação”, expressão adjetival que prefiro, porquanto a democracia, o poder do povo, pelo povo e para o povo nas palavras de Lincoln, ou o é ou não o é), e que maioria dos nossos políticos, de todos os quadrantes, ainda hoje defende, sobretudo quando lhes dá jeito, o que não é seguramente o caso.