São abundantes as referências aos fundos que a Comissão Europeia vai colocar à disposição dos 27 países que integram a UE para dinamizar a economia. Seguindo um modelo diferente do americano, mais estruturado em ordem a ser verdadeiramente transformacional, o programa contempla duas orientações muito bem definidas para as empresas beneficiárias: conseguir uma transição climática e digital que coloque a Europa na liderança mundial de uma nova sociedade.

É bem conhecido que o tecido empresarial português é maioritariamente constituído por PMEs e que os níveis de produtividade em Portugal são mais baixos que nos restantes países europeus (65,3 % da média europeia, em 2019), por um lado, mas os profissionais portugueses que vão trabalhar para o estrangeiro não são menos produtivos que os seus colegas desses países e conseguem reconhecimento e alcançam responsabilidades elevadas ou de topo.

Haverá diversas razões, mas uma das principais será o baixo nível da preparação escolar dos gestores das empresas, o que condiciona o modo de implementação dos fundos disponibilizados. De acordo com dados divulgados recentemente, Portugal é o país da União Europeia em que mais empregadores têm apenas o ensino básico (ISCED 0-2), concluído ou não. 46% dos empregadores portugueses têm escolaridade igual ou inferior ao 9.º ano, uma percentagem muito superior à média europeia, de 17%. Ainda assim, a percentagem portuguesa tem melhorado: há 30 anos, os empregadores com tais qualificações eram 79% do total.

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O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Portugal 2030, como aconteceu na maioria dos programas anteriores, são quase completamente omissos em relação ao apoio e ao estímulo à formação de dirigentes de empresas na área da gestão, mas entendemos que a formação de gestores é muito importante para garantir uma boa aplicação dos fundos, tanto no plano imediato como na continuidade e competitividade das empresas, no médio e longo prazo, o que será verdadeiramente o mais relevante.

As escolas de negócios em Portugal

Existe um conjunto significativo de escolas de negócios em Portugal, com qualidade reconhecida nos respetivos âmbitos, que oferecem cursos de formação para executivos, MBAs, programas para a alta direção que poderiam proporcionar oportunidades sistemáticas para melhorar, profissionalizar ou aprofundar os conhecimentos de gestão dos dirigentes atuais, mas não existe qualquer incentivo para isso, o que seria importante, dada a sua tradicional absorção nos afazeres quotidianos.

As 13 instituições portuguesas que se classificam como business schools, que se apresentam, não necessariamente a totalidade, têm bom reconhecimento nos seus diversos níveis regional, nacional e internacional e são iniciativas de universidades e institutos superiores públicos ou privados, incluindo a AESE, a mais antiga no país.

INSTITUIÇÕES
LISBOA OUTRAS CIDADES
AESE Business School (Lisboa, Porto)
Atlântico Business School Coimbra Business School
Católica – Lisbon S B Economics – Universidade Católica Portuguesa Católica – Porto Business School – Universidade Católica Portuguesa
ISCTE Business School Leiria Business School
ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão – Universidade de Lisboa Porto Business School
ISG – Business & Economics School Escola de Economia e Gestão – Universidade do Minho
Nova School of Business & Economics – Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Economia da Universidade do Porto

Há perguntas que serão pertinentes dentro do que está previsto, atualmente:

  • Como garantir que os fundos são bem aplicados se não tivermos empresários e gestores capacitados para o efeito?
  • Como assegurar a sustentabilidade futura dos investimentos realizados sem dirigentes com formação em gestão estratégica, gestão financeira, marketing, vendas, inovação, competitividade, etc.?
  • Será a formação de gestores menos importante que a formação especializada em competências digitais, técnico-profissional, línguas ou outras, às quais tanto destaque se tem dado?

E uma resposta que parece clara:

  • É muito relevante que dirigentes, jovens ou nem tanto, elevem o nível de qualidade da sua gestão para melhor gerirem os projetos que submetem aos fundos europeus;
  • Essa melhoria deverá ser um requisito de candidatura;
  • Deve haver incentivos à sua concretização, uma medida estratégica para potenciar a competitividade das empresas em Portugal.