Grande parte daqueles que comentam nos meios de comunicação social, que não conhecem a realidade das escolas, afirmam que as greves estão a prejudicar muito os alunos e as aprendizagens destes. Parece que a grande preocupação do momento em Portugal, como foi no passado devido à pandemia, no que à Educação diz respeito, sejam as aprendizagens, ou, no caso, a perda destas aprendizagens por parte dos alunos.

Mas se quisermos ser honestos com a população não podemos deixar que esta narrativa falaciosa passe como verdadeira. Bem sei que há mensagens que são mais bem-vindas que outras, mas é importante referir que o ataque às aprendizagens é feito pela própria tutela.

Para demonstrar e elucidar o que acabo de afirmar, recuo um pouco no tempo, para o período pré-pandemia, e farei uma leitura atenta de como já se encontrava o sistema de ensino no que toca às aprendizagens. Observemos então o último estudo internacional, Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), uma avaliação internacional, quadrienal, que monitoriza as competências dos alunos do 4.º ano de escolaridade nas áreas de matemática e ciências. Na área da matemática os resultados foram desoladores para os alunos portugueses, que baixaram 16 pontos: em 2015 tinham alcançado o nível 541, em 2019 ficaram no 525. Houve uma clara regressão nas competências adquiridas pelos alunos nos dois períodos avaliados — o primeiro 2011-2015 e o segundo 2015-2019.

Esta quebra foi transversal aos vários domínios e fez com que, no ranking internacional, Portugal, caísse oito lugares, para a 21.ª posição, em contraste com a 13.ª ocupada em 2015. Nota para o facto de esta pontuação ser inferior à de 2011 (532).

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A pergunta que deve ser feita sem receios: o que é que o Ministério da Educação fez perante estes dados? Nada.

Nem as pequenas alterações na lei, que pudessem melhorar alguns cenários. Por exemplo, uma alteração que desse autonomia às escolas para definirem o número de alunos por turma, tendo em consideração a comunidade. Por exemplo, a inscrição na lei da proibição de turmas mistas/multinível, que tanto prejudicam e discriminam negativamente os alunos que delas fazem parte.

Por exemplo, fazer um forte investimento no combate à indisciplina escolar que, por mais que muitos diretores a queiram esconder, existe e é altamente prejudicial na construção de ambientes favoráveis à aprendizagem.

Por exemplo, eliminar a burocracia oca e estupidificante, que impede que os professores tenham tempo para se cultivarem, para prepararem convenientemente as aulas, para estarem lúcidos e enérgicos no local onde são mais precisos, na sala de aula.

Por exemplo, criar mecanismos para que todos os horários, que ao dia de hoje permitem que mais de 30 mil alunos não tenham professor, sejam preenchidos e que não haja discriminação, para efeitos de descontos para a segurança social, dos professores em horários incompletos. Como se sabe essa discriminação faz com que muitos não aceitem horários com remunerações indignas.

Entre muitos outros que poderia aqui enumerar, estes são só alguns problemas que fazem muito mais pela perda de aprendizagens do que qualquer greve. Sejamos sérios!

A preocupação com a Educação, o ensino e as aprendizagens deve ser uma constante e não apenas agora. É intelectualmente desonesto achar que a única causa da perda de aprendizagens seja a greve. Não é, e quem diz o contrário sabe-o melhor que ninguém!