Agradar é bom mas é pouco. É falso que a Igreja tenha que “agradar”, sem o que ficaria sem clientela!
São muitas as pessoas que me dizem que Ela tem que se adaptar, evoluir; abrir o sacerdócio às mulheres, o casamento ao divórcio, a família tradicional a outras uniões, e isto e aquilo. Que deve ser multicultural, tudo incluir, “escondendo” a sua diferença. Esquecem que essa diferença é o que une…
Dou um exemplo. Os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a rezar, e Ele rezou com eles o “Pai Nosso” _ um belo workshop. Se assim foi, há que distinguir entre rezar a um Pai e rezar a um Absoluto impessoal. Claro que todas as orações são valiosas, e só Deus saberá apreciar o seu valor. Mas se Deus é Pai, então o melhor é tratá-lo como tal – até porque é assim que eu me enxergo como filho, e trato os outros pelo que são, meus irmãos.
A razão da tão apregoada fraternidade só nessa paternidade pode ser reconhecida. O problema é que ficamos muitas vezes por discursos, intenções, fezadas, moralismos, tratados de paz, que servem apenas para adoçar o presente, mas não os corações.
Voltando à lenga do “a Igreja tem que”. Pois com Francisco é que é, que é mesmo um Papa adequado a este tempo. Que o Papa seja o Papa ideal para este tempo, disso não tenhamos dúvidas, porque Deus é Providente.
Agora o que não é verdade é que a Igreja tenha que mudar. Refiro-me ao essencial, claro, porque há aspectos secundários que é muito bom que mudem. Importa então ver o que é o essencial. Dou um exemplo para explicar o que entendo por “essenciais”. Um beijo.
Há-os de muitos tipos, até há o beijo técnico, o do cinema. Mas será que há mesmo o beijo beijo, aquele que até uma criança sabe distinguir? Há sim. Há os beijos românticos, os beijos entre pais e filhos.
Há verdades que não se demonstram, são evidentes, que nos correspondem.
Todos os filósofos admitem evidências nas quais baseiam as suas filosofias, mas nem todos consideram as mais elementares experiências naturais como dignas de estatuto racional.
Admitindo “essências” arrisco a defender uma posição considerada ultrapassada. A que reconhece que o homem é aquele nível de natureza que tem consciência da natureza, na sua totalidade, e que reconhece que uma máquina o pode ter, mas de uma forma análoga – e não propriamente, porque isso só o pode homem mesmo homem ( e aqui se experimenta como a linguagem é coisa pouca, e que neste pouco é já muito… ).
A Igreja não “tem que” nada. O preço que Ela custou e custa – Paixão até à morte e morte de Cruz – mostra que não tem que se adaptar a nada.
Se de adaptação há que falar, ela é apenas uma. Adaptação é “fazer com que uma coisa se combine convenientemente com outra.” Assim sendo a Igreja só tem que se adaptar a uma coisa: ao mandamento do Amor.
“Todos o julgam banal”, é certo – já o reconhece Felipe de Brito na sua música “Cantiga da Rua” – até os animais se “amam”, dizem….
Para quê a Igreja apregoá-lo?, como o Papa Francisco nesta Sua visita à Ásia, que termina amanhã. Na Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor- leste, Francisco tem reconhecido e agradecido o trabalho de todos os que nessas terras dão as suas vidas pelos mais necessitados, mostra a Igreja na Sua performance!
Eu mesma participo nesta viagem, através do digital muito inteligente, e sou impactada a fazer o mesmo, à minha escala.
O Vaticano dá-nos a par e passo o que acontece! Sim a Igreja tem evoluído. Mas não se trata de idolatrar a evolução. É antes pô-La ao serviço do que importa, isto é, Amar, ensinando como se ama. Troco as voltas ao ditado e digo: Faz o que o Papa faz…
A igreja é multicultural, interreligiosa, ecuménica, mas não há adjectivo que lhe caiba. A Igreja é como a Cantiga da Rua, de todas diferente, nem minha nem tua, é de toda a gente, não é de ninguém.
Disseram-me há dias, que “a construção de uma sociedade baseada no respeito e proteção dos direitos e escolhas de todas as pessoas, incluindo as que fazem parte de grupos historicamente discriminados, é um imperativo de justiça.” (Joana Mortágua et al., Reflexões sobre a Liberdade). Mas a Cantiga da Rua “jamais se habitua aos lábios de alguém” – não faz por menos.
O falar do Papa é “de todos diferente”, porque – reparei bem no que vi em terras asiáticas – Ele fala por Outro que de Si saía, e que vi no sorriso de alguns timorenses, na miúda cega que cantou no encontro inter-religioso na Mesquita Istiqlal, na Indonésia, nas pessoas coloridas a cantar na Papua Nova Guiné.
E agora levanto-me e parto apressadamente para Singapura…