A qualidade de vida é um tema de crescente importância no que se refere às políticas de planeamento e gestão do território, muito particularmente no que à escala das cidades diz respeito.

Os centros urbanos estão cada vez mais imbuídos num espírito de competição no que se refere à captação de investimentos e de recursos humanos qualificados, associada a uma também cada vez maior consciencialização e exigência quanto às condições de vida da população.

Não admira portanto que a administração pública, especialmente a local, esteja a enfrentar uma mudança de paradigma e se esteja a focar, cada vez mais, na qualidade de vida das pessoas e no seu consequente bem-estar.

Condições inerentes à habitação, ao abastecimento de água, ao saneamento, bem como relativas ao sistema de saúde sempre foram preocupações que mereceram ênfase, cuidado e preocupação por parte dos decisores locais. Recentemente, porém, questões que se prendem com o ambiente, com o bem-estar físico e emocional, assim como questões relacionadas à salvaguarda do património cultural começam a  firmar-se como pontos de honra de imprescíndivel valor territorial, pelo menos para os territórios que almejam ser considerados importantes redutos de bem-estar e qualidade de vida.

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Num breve apontamento sobre a cidade de Roma, publicado na revista Monocle do mês de Setembro do ano em curso, da autoria de Laura Rysman, faz-se referência à recuperação súbita dessa cidade face a um longo período de decadência e abandono. A cidade é descrita como estando, finalmente, a recuperar a sua graça e beleza havendo uma preocupação, que se tornou subitamente evidente, com o seu  funcionamento e aparência. Exemplo claro disso são, de acordo com a autora, os novos autocarros eléctricos que vieram substituir os que circulavam há mais de uma década na cidade. Para além da preocupação ambiental associada, esta medida veio trazer maior qualidade de vida aos munícipes e uma harmonia estética facilmente perceptível por todos que calcorreiam as ruas de Roma.

No entanto, o mesmo texto faz alusão ao facto destas mudanças súbitas estarem associadas à aproximação de eleições, marcadas para Outubro, nada mais sendo do que um mero engodo para angariar votos.

A mudança testemunhada na cidade de Roma por Laura Rysman poderá ser, pois, comparável à que se vislumbra em muitas cidades de Portugal neste tempo que é de instabilidade pré-eleitoral.

Com votos que necessitam de ser conquistados há que publicitar obra, mostrar trabalho em prol da população, empatizar com os munícipes naquelas que são as suas maiores preocupações relativamente ao território que habitam.

Poderemos averbar que este hábito, para além de meramente eleitoralista, é também reprovável do ponto de vista moral. No entanto, este é também um hábito que nos mostra que o poder instalado pode ser pressionado pelos cidadãos. Os cidadãos podem, efectivamente, alavancar o progresso das cidades que habitam se nelas exercerem adequadamente o seu direito de cidadania e participação cívica pois o seu voto é necessário e dele depende a perpetuação ou a chegada ao poder por parte de quem o quer exercer e para tal se candidata.

Os programas políticos podem ser pois cumpridos e as intenções que os embrulham  podem ser usadas para engrandecer os territórios. Para que isso aconteça os cidadãos têm de se envolver, têm de exigir respostas bem como a efectivação plena desses mesmos programas e  intenções.

Os mandatos autárquicos não devem permanecer adormecidos durante três anos e meio para depois despertarem bacocamente em período pré-autárquico. Terá de ser a cidadania activa, exercida por todos, a contribuir para a mudança dessa atitude recorrente de muitos executivos camarários em funções, cujo propósito último é tão somente a continuidade no poder como decisores e actores principais.

Terá de ser também a cidadania activa a impedir que os programas políticos de quem quer conquistar o poder não sejam, pura e simplesmente, um conjunto de palavras e chavões sem aplicabilidade real.

Só uma atitude proactiva por parte da sociedade civil é que poderá contribuir para o engrandecimento dos territórios e o seu consequente ajuste às necessidades de quem deles faz parte.

Só uma exigência permanente de cumprimento de promessas e intenções, ora elencados nos programas políticos, pode contribuir para uma melhoria das competências organizacionais das estruturas de administração local e afinal é isso que todos ambicionamos para sermos melhores e vivermos com qualidade de vida!