Portugal vive hoje uma crise, sem precedente próximo, no que toca ao afastamento entre eleitos e eleitores.

A falta de confiança das pessoas para com os políticos é hoje factual em vários e sucessivos estudos publicados e só pode surpreender quem viva numa bolha mediática sem qualquer ponto de contacto com a realidade.

Deste afastamento provocado pela desconfiança – ou às vezes, pior, pelo desinteresse – , só têm a ganhar os maus políticos e os demagogos extremistas.

A verdade é que este contexto virá, em primeiro lugar, do desgaste natural de várias décadas com aumento das desigualdades e fraco crescimento económico. Mas, simultaneamente, de alguns exemplos medíocres na política nacional: quer na falta de seriedade na gestão pública quer na total ausência de noção na ação democrática.

A eleição e proteção durante uma década de um primeiro-ministro com fortes indícios de práticas de corrupção terá sido o maior ataque ao sistema democrático que defendo. Razão pela qual confesso que me surpreendo com a forma leviana com que o PS está novamente a entrar nesta governação de maioria absoluta.

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O maior exemplo disto mesmo é, evidentemente, toda a novela à volta do novo aeroporto de Lisboa. Além da falta de capacidade política que nos faz estar hoje no exato problema em que estávamos há 7 anos atrás, a verdade é que num país exigente e atento seria impossível a continuidade do Ministro Pedro Nuno Santos em funções.

Acreditando que o primeiro-ministro nada sabia sobre o projeto em curso (o que de si já exige um esforço de bondade política e intelectual superior), é inaceitável que um ministro possa anunciar a maior obra pública nacional de décadas, ser desautorizado pelo líder do governo no dia seguinte, e todos avançarmos fingindo que nada se passou.

Bem sabemos que os anúncios do governo socialista raramente passam disso mesmo, mas, de agora em diante, nem os próprios governantes ficam seguros de que o que anunciam não é desautorizado nesse mesmo dia.

Outro exemplo, menor, mas ainda assim bem demonstrador daquilo que é a leviandade e irresponsabilidade na ação pública, acaba de ser visível na ação do atual líder da Juventude Socialista.

O jovem que é, simultaneamente, Vice-presidente da bancada parlamentar do PS, acaba de passar uma parte significativa da discussão parlamentar na Assembleia da República a responder a perguntas dos seus seguidores no Instagram, fazendo ouvidos moucos aos seus colegas deputados, enquanto ia publicando vídeos seus com caretas e carantonhas, chamando “pavões” a outros parlamentares, etc.

Parece impossível, mas ao Partido Socialista sinto que não chegou sequer a noção do que é a diferença basilar entre liberdade e libertinagem. Até para quem, como eu, acredita na importância da internet no aproximar das novas gerações e na necessidade de renovação dos políticos, é chocante perceber que ao PS não há diferença entre aquilo que é usar os meios disponíveis para aproximar eleitores com aquilo que é o respeito que o Parlamento exige. Entre o que é uma mesa de café com amigos nas horas vagas e as horas pagas pela ação pública.

Luis Montenegro foi eleito e cedo mostrou que parece querer vir para unir e mobilizar o PSD no seu todo, juntando as figuras e não apagando as causas.

De facto, precisamos de um PSD com dinâmica alta e que se constitua como alternativa forte a uma sequencia de governos socialistas que têm atrasado Portugal e nos tornando, cada vez mais, um país a caminho da cauda da europa no que toca a poder de compra e qualidade de vida.

Tendo em conta os exemplos que, diariamente, se sucedem, é importante que o PSD afirme bem alto o legado incontestável da liderança de Rui Rio, no que à elevação da seriedade da ação pública diz respeito.

Só com uma forma totalmente diferente de estar e ser na política, será possível iniciar a mudança agregadora que Portugal precisa. Foi assim que o conseguiu com Pedro Passos Coelho e será assim que o poderá voltar a alcançar no futuro.