Nas últimas semanas soube-se que a União Europeia e a Zona Euro escaparam em 2022 a uma contração económica, com uma estabilização do PIB no quarto trimestre, a inflação abrandou ligeiramente, mas continua elevada em 8,5% em dezembro, e a taxa de desemprego continua em mínimos históricos perto dos 6% em dezembro.
Esta não é só uma história europeia. Os dados do início deste ano parecem apontar para um cenário razoavelmente positivo do ponto de vista da economia global em 2023: uma aterragem suave da economia global, apesar do efeito da guerra nos preços das matérias-primas, sobretudo energéticas, seguida de uma recuperação moderada, enquanto a inflação abranda. Esta é a expetativa central do FMI, por exemplo, que antecipa uma desaceleração da economia mundial de 3,4% em 2022 para 2,9% este ano e uma recuperação para 3,1% em 2024. Quanto à inflação, o FMI antecipa que diminua de 8,8% em 2022 para 6.6% em 2023 e 4.3% em 2024.
Mas a realidade poderá ser um pouco mais complexa, sobretudo no lado da inflação. Dos dois lados do Atlântico as taxas de desemprego em níveis muito baixos sugerem que a pressão para o aumento dos salários poderá aumentar, devido à escassez de mão de obra que já se sente em certos setores e que se poderá intensificar devido às tentativas, tanto nos EUA como na Europa de lançar planos industriais de grande escala nas áreas tecnológicas e de energia verde.
E se os mercados financeiros continuam muito voláteis, dependentes das decisões dos Bancos Centrais, os preços da habitação têm registado subidas ininterruptas desde 2014, e até uma aceleração em 2021 e 2024. Na Zona Euro, o preço das habitações subiu 7,4% no terceiro trimestre de 2022 face ao trimestre homólogo de 2021, depois de atingir um máximo de 10.4% no primeiro trimestre de 2022. A subida das taxas de juro até agora conseguiu uma moderação mas não muito significativa.
Assim, apesar dos preços energéticos poderem abrandar nos próximos meses, as pressões subjacentes sobre a inflação mantêm-se. Nos próximos meses os bancos centrais terão de continuar a pesar qual será o maior risco, o de aumentar as taxas de juro de forma rápida, eventualmente atirando as economias para uma recessão que até agora foi possível evitar? Ou permitir que a inflação se mantenha demasiado elevada, reforçando as perceções das famílias e das empresas que está para ficar, e continuando a afetar o rendimento disponível das famílias?