Promover uma cultura de inovação e criatividade parece crucial e óbvio dentro das empresas que procuram permanecer competitivas e adaptar-se a um ambiente de negócios em rápida mudança…. só que não é: nem tão óbvio, nem tão frequente.

Assistimos a empresas preocupadas com o seu “employer branding”, ou em como são percepcionadas pelos potenciais colaboradores e até a reclamarem de terem dificuldade em reter talento. Mas além de colocarem uns puffs e umas maçãs na recepção, não conseguem perceber o que motiva as pessoas a permanecerem nas empresas.

No momento da decisão dos colaboradores de continuarem vinculados a uma empresa (ou candidatarem-se a outra) é muitas vezes referido o fator “experiência” ou a importância da vivência do colaborador no ambiente de trabalho (muitas vezes referidas pela geração mais jovem, mas eu diria que cada vez é mais transversal a muitos grupos etários). E como “experiência” as empresas voltam a interpretar como sendo importante colocarem uns puffs e umas maçãs…

Ninguém permanece nas empresas por causa dos puffs

Com estas medidas (ou falta delas), as empresas estão a bloquear aquilo de que são elas próprias as primeiras a reclamar, como uma competência escassa no seu leque de colaboradores: colaboradores que não estão comprometidos com o desempenho da empresa, que não têm a visão global dos objetivos, que lhes falta proatividade, criatividade e inovação.

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Alguma investigação tem revelado que a atratividade das empresas está muito associada à experiência e ao propósito. Estes fatores estão relacionados com o sentido de pertença, identificação de valores e de os colaboradores sentirem que contribuem para o que a empresa é, e para seu desempenho. Integrar e envolver os colaboradores no processo de inovação e criatividade contribui para a satisfação de ambos: colaboradores e empresas.

A inovação e criatividade começa sempre nas pessoas. Não começa nas máquinas, no software, no ChatGPT ou na inteligência artificial…começa nas pessoas.

Mas será que essa criatividade e inovação é estimulada nas empresas?

Liderança

Não há inovação, ou sequer qualquer mudança cultural ou comportamental dentro das empresas que não comece e não seja estimulada desde o seu topo. Toda a organização espera que sejam mostrados (leia-se, comunicados muito claramente) incentivos e reconhecimento de cultura de comportamentos de inovação. Para isso, os colaboradores devem ser encorajados à saída de zonas de conforto e assumir riscos, celebrar a experiência e abertura a novas ideias. Como é natural, na maioria dos casos, a liderança parece ver com bons olhos os bons resultados da inovação e da criatividade, mas é raro estar disposta a assumir os riscos.

Estimular a comunicação aberta e deixar todos confortáveis para partilha e debate de ideias é essencial. Mas dá trabalho, consome (muito) tempo e nem sempre está alinhada com práticas de eficiência e eficácia que são essenciais à sobrevivência das empresas. Por isso, também estes canais tendem a ser limitados.

Também a liderança é fundamental no apoio a uma mentalidade mais propensa à tomada de decisões, a ações arriscadas e às falhas – é frequente comunicar-se uma política de que “são as falhas que nos ajudam a crescer”, mas as ações falam de forma diferente e são penalizadoras para quem arrisca dentro da empresa.

Recursos

Será que existem recursos na empresa (tempo e ativos) que permitam que se desenvolvam projetos inovadores? Há programas de recompensa e reconhecimento de contribuições inovadoras? Estão relacionadas com políticas de progressão na carreira? Há o reconhecimento público destas ações?

Parte destes recursos passa igualmente por ter na empresa quem pense diferente. Ter uma estrutura de topo (e não só) que pensa de forma muito semelhante torna, mais uma vez, a eficiência mais frequente, mas ao mesmo tempo torna o debate e a inovação muito mais escassa. É a diversidade de ideias que enriquece o processo.

Nos recursos, passa ainda por ter estruturas físicas que permitam a inovação, a criatividade, a experimentação e o empreendedorismo.

Abertura da empresa

A abertura da empresa é fundamental e começa dentro da empresa (por paradoxal que possa parecer) – é importante trabalhar de uma forma integrada e multidisciplinar, permitindo a saída das pessoas das estruturas onde estão inseridas.

Também a abertura da empresa a programas de formação com foco no estímulo pela criatividade e resolução de problemas complexos podem estimular os colaboradores a pensarem de forma diferente. Igualmente, programas de colaboração com outras empresas, parceiros, parcerias ajudam a resolver os problemas de vários ângulos e estimula a que internamente a empresa seja mais inovadora.

Tudo isto implica investimento, comprometimento, risco (eventualmente, no curto prazo a eficiência pode ser comprometida) e implica que seja um objetivo e propósito da empresa.

A experiência que os colaboradores procuram faz-se concedendo reconhecimento e faz-se tendo condições de atuação, criatividade e proatividade dentro da empresa que façam cada colaborador sentir que está a fazer a diferença.