O grande problema do presidente é ser da República. É ser de um regime político. Ao passo que o rei é de Portugal. É do país. Sua Majestade o Rei da Monarquia – alguma vez se ouviu semelhante coisa?

O presidente tem de andar sempre a dizer e a mostrar que é de todos os portugueses porque só foi escolhido por alguns. E por pouco tempo.

O rei é da nação. E a nação é muito mais do que simplesmente aquelas pessoas que vivem aqui num determinado momento e resolvem ir votar. A nação é um povo inteiro – os portugueses de hoje mas também os do passado e os do futuro. Com o Rei, portanto, ganha-se sempre uma certa eternidade.

Mas a nação é igualmente um território, composto de terra, mar e ar. Por isso o rei também é das planícies, dos montes e dos vales e seus arvoredos. E do mar com as ondas, as desencontradas correntes e todas as conchas, mesmo as mais pequeninas. E é ainda rei do ar, incluindo o céu azul, as nuvens brancas e quaisquer ventos sejam bons ou maus.

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O presidente diz que é de todos os portugueses e nós até podemos fingir que acreditamos. Os portugueses, porém, é que não são todos dele: faltam muitas gerações passadas e vindouras, assim como aqueles milhões que expressamente votam contra ele.

Com um rei é diferente. Para começar não se escolhe, tal como não escolhemos os nossos pais nem a família natural.

Depois, o rei não é apenas aquela pessoa física e a prova é que vive mesmo quando morre: “Le roi est mort, vive le roi!”. Ou seja, o rei é também um corpo místico, permanente e imperecível como a própria nação. Não se evanesce após cada eleição.

Finalmente, o rei, ao contrário do presidente, não é um político, é uma dignidade. Sendo isso aliás que significa o tratamento por Majestade. Ora a dignidade é uma qualidade moral – é a noção de respeito. Que a instituição real como nenhuma outra empresta a todo um povo. E que tanta falta nos faz hoje em Portugal.