No passado dia 28 de março ocorreu um crime incomum no nosso país. Um indivíduo, alegadamente, terá esfaqueado três pessoas, resultando na morte de duas delas e em ferimentos graves noutra.

Para tal, alegadamente, terá usado uma faca, descrita por testemunhas como sendo de grandes dimensões e que, alegadamente, terá trazido numa mochila para uma sala de aula.

Rapidamente, alguns comentadores e até responsáveis políticos se apressaram em declarações públicas, afirmando que “se tratava de um ato isolado”. Foi afirmado, ainda, que o indivíduo, alegado autor, “sofria de perturbações mentais” e “que sofrera um surto psicótico”, para justificar o crime.

Assumindo que as pessoas que proferiram tais declarações tinham mais informações que os comuns espectadores das notícias, penso que houve alguma precipitação nas mesmas. Compreendo que, a partir do momento em que a Polícia Judiciária tem indícios de que não se trata de um ataque terrorista, nos tentem informar dessa situação para evitar alarme social. Até é desejável que o façam. Já não compreendo, porém, as certezas com que se indica que estaríamos perante homicídios que teriam ocorrido devido a problemas psicológicos do alegado autor. Não querendo ser cínico, devolvo a questão. Qual é o indivíduo que esfaqueia três pessoas que não tem problemas psicológicos? A questão a determinar é se tais problemas psicológicos poderão ter relevância, quer na imputação objetiva do crime, quer na medida da pena. Isso será averiguado pela Justiça portuguesa, que se quer independente. Por essa razão, é necessário algum recato, principalmente de responsáveis políticos que devem ter obrigação de zelar por esta independência.

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De notar, ainda, que foi entrevistado um vizinho do alegado autor dos crimes que afirmou que normalmente este último acordava cedo e ia levar os filhos à escola, e que teria estranhado que naquele dia o indivíduo estaria a sair mais tarde de casa e com uma mochila às costas. Mochila essa de onde, alegadamente, teria tirado a faca, para, alegadamente, cometer os crimes, segundo o que conseguimos perceber pelo que é público.

Esta versão, que provavelmente será levada em conta pela investigação, que denota, alegadamente, alguma preparação ou premeditação, em nada abona a favor da teoria de que os crimes foram cometidos em virtude de um surto psicótico. Portanto, devia haver alguma cautela nas declarações públicas em questões em investigação.

Assim, é importante que não se tirem conclusões apressadas e se deixe a Justiça funcionar sem qualquer tipo de pressões.