A minha mãe vem – disse o J.
O J era um aluno do 7º ano que nem sempre estava bem, um dia estava triste e não trabalhava, outro dia estava melhor e ia trabalhando.
A história do J é uma história comum. A mãe, professora, levou com ela a sua filha mais nova, o J ficou com o pai e com os avós. A mãe e a irmã só vinham ao fim de semana.
Um dia o J sugeriu que a mãe gostava mais da irmã do que dele.
Quando ele contou a sua história, no fim de uma aula de apoio, eu disse-lhe que a minha mãe também esteve fora um ano, era professora, eu também ficava triste, mas logo vinha o fim de semana.
Os filhos dos professores também são alunos, também sentem a falta dos seus pais.
Já ouvi os seguintes relatos:
– O filho perguntou à mãe porque é que ela se ia embora, ela respondeu para ganhar dinheiro, o filho foi buscar o seu mealheiro e deu-o para que a mãe não tivesse de ir para Lisboa dar aulas.
– Um dia quando a mãe saía de casa para o automóvel, eram 18h de domingo, e ia fazer uma viagem de 200 quilómetros para estar a lecionar na segunda feira de manhã, o filho de 5 anos deitou-se no passeio e disse “não vais!” No ano seguinte, a minha amiga, professora, não concorreu para longe de casa.
Nos últimos 16 anos, a lecionar em Lisboa, encontrei muitas professoras que adiaram a sua vida porque estão todos os anos num sítio diferente, a mais de 300 quilómetros de casa.
As professoras que têm filhos optam por deixar os filhos com os pais ou os avós. No Norte existe alguma solidariedade geracional, os avós ajudam a tomar conta dos netos.
Conheci uma professora que trouxe as duas filhas, uma filha de 5 anos e uma filha de 1 ano. Fiquei amiga dela, assisti ao trabalho que ela teve para conseguir escola para a mais velha e para a mais nova. Tinha, então, duas casas. No fim do mês pouco sobrava, nunca passou fome porque tinha a ajuda dos seus pais.
Quando as professoras pensam em trazer os filhos, não procuram uma casa, nem pequena nem grande, pois com as rendas de casa praticadas no distrito de Lisboa muitas vezes ficam sem dinheiro a meio do mês.
Na zona metropolitana de Lisboa, existem muitos professores contratados. São de Lisboa, trabalham em Lisboa e só ficam no quadro ao fim de 20 anos. Sendo uma zona com falta de professores, não consigo entender porque não abrem quadros de escola.
Os alunos ficam prejudicados. Nas zonas geográficas com carência de professores, a opção deveria ser a abertura de mais vagas para o quadro de escola, o que não acontece neste momento Por outro lado, também, deveriam existir incentivos, parcerias com câmaras municipais, e com a restante sociedade civil, para que nenhum professor/a chegue a meio do mês sem dinheiro devido ao custo excessivo do arrendamento.
Eu fiz a opção de residir em Lisboa, para conseguir conciliar o trabalho e o papel de mãe, mas sei o preço que paguei não tendo família alargada.
No domingo, o dia da família, quantos alunos ficam a chorar porque se despedem do seu pai ou da sua mãe com um adeus, até sexta, ou talvez até sábado?