A 06 de Setembro, na CNN, o general Agostinho Costa (AC), gaguejava sincopadamente sobre a guerra entre Israel e os movimentos jihadistas que enxameiam à sua volta, num anel de fogo orquestrado pelo Irão com o aplauso e dinheiro do Qatar e outros.

Não é especialmente difícil detectar na errática verbosidade do já quase inimputável general, as mais escandalosas mentiras, imprecisões, contradições, erros graves e toda uma narrativa bastante primária que se decanta de uma enviesada cosmovisão visão anti-ocidental, alimentada por leituras apressadas e estratosférica ignorância.

Vejamos algumas, colhidas en passant apenas nessa sua actuação de aparente standup comedy, frente a um mapa e com um “sotor” de serviço, muito folgazão, a agir da exacta maneira que um jornalista não deve agir.

AC: “A acção de Israel na Cisjordânia foi uma acção de diversão e punitiva sobre a população palestiniana e para fazer esquecer a acção do Hezbollah”

Ora isto é notoriamente falso.

A acção de Israel na região (que os israelitas designam por Judeia e Samaria) tem como causas sobejamente conhecidas, o incremento das acções terroristas de vários grupos jihadistas, entre os quais o Hamas que procura a dominância também nesta zona. Estes grupos têm estado, sob orientação do Irão, e perante impassibilidade ou impotência da Autoridade Palestiniana (AP), a tentar criar na zona o mesmo tipo de infraestrutura terrorista que foi implantada em Gaza e no Líbano e cujo objectivo final é, sem disfarces, destruir Israel e expulsar os judeus da região.

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Desde a invasão de Israel, em Outubro de 2023, estes grupos desencadearam coordenadamente inúmeros ataques contra o Estado Judaico e as suas populações. O mesmo aconteceu com o Hezbollah, no Líbano, com os Houthis, no Iemen, e vários grupos da mesma etiologia, na Síria e no Iraque. O objectivo do Irão, que alimenta e coordena a acção de todos destes grupos, é “erradicar a entidade sionista”. Este objectivo foi definido com total clareza pelo aiatolah Khomeini (que designou Israel como um “tumor maligno” a  “extirpar”) e reafirmado sucessivamente por vários líderes iranianos. Por exemplo, em 26 de Outubro de 2005, o Presidente Amadinejad disse, na Conferência “Um mundo sem sionismo”, que “O regime sionista deve ser varrido do mapa. Os conflitos na terra ocupada são parte de uma guerra maior. O resultado de centenas de anos de guerra, será definido no solo palestiniano”.

Mas este disparate do general AC, refere-se concretamente à acção israelita nos territórios disputados, no seguimento de um atentado bombista em Telaviv que, se bem sucedido, poderia ter morto dezenas de israelitas, dada a quantidade de explosivos do artefacto. O terrorista, que morreu no local, vinha da Cisjordânia.

As acções israelitas que se seguiram foram proporcionadamente executadas sobre alvos específicos da infraestrutura terrorista e resultaram na morte e captura de vários jihadistas, destruição de armas, bombas, munições, e locais de armazenamento e produção.

Não duvido de que até AC seria capaz de saber isso se, em vez da ânsia febril de debitar inanidades, se informasse devidamente e ponderasse o discurso.

Saberia, por exemplo, que a “acção do Hezbollah” que refere, foi um revés de magna dimensão, porque Israel agiu preemptivamente, destruindo centenas de lançadores do Hezbollah, que se preparavam para disparar. Na verdade, longe de querer desviar as atenções, Israel explicou com grande pormenor, urbi et orbi, o que tinha feito, ao contrário do Hezbollah que sofreu enormes perdas e, acima de tudo, tem doravante de encarar o facto de que os seus movimentos são detectados em tempo real e os alvos podem ser destruídos em minutos, assim que assomam dos locais onde estão escondidos.

AC: “O objectivo militar de Israel é destruição. Destrói património e isto produz uma proliferação da resistência e depois vemos naturalmente explosivos improvisados nas ruas. Os israelitas são profundamente ignorantes na matéria.”

O objectivo militar de Israel, como AC devia saber, se soubesse o que um general é suposto saber, é destruir, debilitar, neutralizar, os grupos jihadistas que atacam o país. O objectivo político é a segurança dos seus cidadãos, como é óbvio e natural.

Se AC, do alto da sua estatura de general de aviário, algum dia tivesse que comandar uma operação do tipo das que os generais israelitas têm frequentemente de conduzir, contra grupos terroristas que não respeitam qualquer regra e usam sistematicamente as mesquitas, escolas, hospitais e casas de habitação para se esconderem e fazerem atentados, perceberia que não basta chegar lá e dar ordem de prisão. É mesmo preciso combater em condições extremamente difíceis para um Exército que não age como o Exército russo, que paradoxalmente AC nunca se cansa de elogiar (e que, basicamente, destrói tudo o que tem pela frente, antes de fazer avançar os soldados).

Os explosivos que “vemos naturalmente”, na retórica alucinada de AC, não são fruto natural de nenhuma árvore, são mesmo fabricados, fornecidos e usados por jihadistas.

Os quais não proliferam em função do combate que se lhes move, mas sim porque são formatados desde que nascem, na escola do jihadismo e do ódio, inclusivamente nos currículos veiculados pelas escolas da UNRWA, como está abundantemente documentado.

AC não parece sequer saber isto, pelo que se desconfia que a “profunda ignorância” que vê nos israelitas, talvez seja um ricochete no próprio espelho.

AC: “As forças da AP, à noite são da Resistência”

Que o Hamas infiltra sistematicamente as forças da AP, é verdade e trata-se de uma estratégia já usada em Gaza, quando este movimento jihadista expulsou dali a AP, num mortífero golpe. Mas é sintomático que AC designe por “Resistência” os grupos jihadistas. Nesta actuação na CNN, usou o termo 3 vezes, para se referir aos grupos e actos terroristas do Hamas e dos outros proxies do Irão.

Não é por acaso ou lapso.

O termo foi cunhado há já muitos anos pelos aiatolahs iranianos, para se referirem à luta contra Israel e o Ocidente. O Irão é aliado da Rússia e AC parece prezar muito este facto. Não é provável que conheça a origem do termo “Resistência” neste contexto, mas o seu entusiasmo no uso de slogans só é excedido pela copiosa atribuição de graus de doutoramento a todos os jornalistas que lhe metem um microfone à frente. AC, à míngua de sabedoria, decorou toda a vulgata lexical da constelação antissemita e bolça-a com pundonor.

Não é de descartar que tenhamos um dia de o ouvir citar,  em estilo tartamudo, as frases épicas dos “sotores”  Khomeini, Kamenei, etc.

A.C : “Netanyahu quer expulsar a população palestiniana para o Egipto e para a Jordânia. É a ideia de Israel do Rio ao Mar”.

Como não é provável que o general tenha acesso telepático ao cérebro do primeiro-ministro israelita, e uma vez que, nem este algum dia disse tal coisa, nem Israel agiu nesse sentido, pode ter acontecido que AC tenha visões apocalípticas em momentos de alguma agitação neuronal. Já deu bastos sinais dessa patologia quando, no caso da Ucrânia, 3 dias após o início da invasão russa, garantia, saltitante de felicidade, que os russos já estavam em Kiev. E desde então não parou de ter essas visões, como se pode constatar com uma singela pesquisa na internet.

A ignorância é atrevida, mas AC não tinha de fazer estas figuras. Podia, por exemplo, ter lido uma pequena história do conflito não muito complexa, daquelas que costumam aparecer nas livrarias com títulos como “A teoria da Relatividade para Tótós”, para não se baralhar muito, e teria, por exemplo, descoberto que Israel deixou Gaza para os palestinianos, em 2005. Ora se deixou Gaza é razoável a interpretação de que não tinha intenções de ficar com o território.

Teria também tomado conhecimento de que após derrotar a invasão de 1948, Israel legislou no sentido de permitir o regresso dos árabes, desde que assinassem uma declaração de renúncia à violência e adoptassem a cidadania israelita. 150 000 árabes fizeram-no, juntando-se aos 170 000 que tinham ficado, e que hoje constituem quase 2 milhões de cidadãos israelitas, com deputados, governantes, juízes, professores, militares, etc.

Teria certamente um choque cognitivo se soubesse que até 1967, tanto a faixa de Gaza como a Margem Ocidental estiveram sob ocupação egípcia e jordana, sem que esses países permitissem a criação do estado palestiniano, mantendo os refugiados encerrados nos campos.

O choque agravar-se-ia se viesse a saber que em 1967, na sequência da Guerra dos Seis Dias, desencadeada contra Israel, este país assumiu a autoridade nesses territórios e neles acolheu milhares de refugiados vindos da Jordânia, ao abrigo da política de “pontes abertas” ao longo do Rio Jordão, tendo sido criados na Margem Ocidental mais de 250 novos colonatos árabes, cuja população subiu de 650 000 em 1967, para os 3 milhões de hoje.

Ora tudo isto poderia mostrar a AC, se atendesse mais aos factos de que à propaganda, que o objectivo de Israel não é “expulsar os palestinianos”,

Quanto a Israel querer ser do “Rio ao Mar”, o conhecimento geográfico de AC, parece ser tão profundo como a espuma da uma cerveja tirada há várias horas.

É que Israel faz mesmo fronteiras com o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, mas aqui há que desculpar AC, porque o consumo reiterado de slogans, pode ser indigesto e levar a este tipo de confusões. O slogan Palestine free, from the river to the sea”, muito usado pela constelação jihadista a que AC chama “Resistência”, é um conhecido eufemismo antissemita para vocalizar a destruição de Israel e a expulsão dos judeus. Foi aliás criada pela OLP, na década de 60 do século passado.

A bem dizer, não é só aqui que a geografia deixaria AC em maus lençóis se o amor-próprio e o brio fossem coisas importantes para ele. Há dias, actuando também na CNN, jurava, numa incompreensível salganhada, que a Crimeia era importantíssima para os russos, porque na posse da Ucrânia, caso esta aderisse à NATO, controlava o estreito de Kerch e impedia o acesso russo do Mar Cáspio ao Mar Negro e deste ao Mediterrâneo.

Ainda bem que AC nunca passou de general de alcatifa, porque até um cadete a olhar para um mapa, vê instantaneamente que a Rússia tem vários portos no Mar Negro, desde Novorrosisky a Sochi. E quanto ao Mediterrâneo, há que informar que a Turquia é membro da NATO há dezenas de anos e todos os navios que navegam entre o Mar Negro e o Mediterrâneo, passam dentro de Istambul, seguem pelo Mar da Marmara, um mar interior turco, e ziguezagueiam pelo estreito dos Dardanelos que, em alguns pontos, é mais estreito que o Tejo na região de Lisboa.

Isto sem falar do Báltico, onde os navios russos passam todos os dias por estreitos controlados pela Dinamarca, também um país da NATO.

Antigamente, era suposto um general saber destas coisas.

Hoje, em Portugal, país que faz parte da NATO, um general ostenta tranquilamente uma ignorância escandalosa, um viés descarado, mente deliberadamente e demoniza de forma sistemática os países ocidentais, nomeadamente Israel, naquilo que é a nova face do milenar ódio aos judeus. E só este pode explicar a desprendida referência à execução de seis reféns pela “Resistência”, como a banal “morte de seis pessoas”.