Vivemos tempos em que a política parece cada vez mais afastada das pessoas e dos seus problemas reais. Em vez de se concentrar na procura de soluções para os desafios que enfrentamos como sociedade, assistimos a uma crescente tendência para a sinalização de virtude como estratégia principal. O que, à primeira vista, podia parecer um esforço para demonstrar valores éticos tornou-se numa ferramenta de superficialidade, hipocrisia e polarização, tanto entre partidos como dentro deles. Ainda mais preocupante é se os seus actores não perceberem que esta é a ferramenta do populismo.

A sinalização de virtude manifesta-se em gestos e declarações públicas que apelam a causas ou valores, mas que não têm qualquer impacto prático. Fala-se com grande pompa sobre temas importantes, mas não se apresentam propostas concretas ou medidas que possam trazer mudanças reais. Apesar de soarem bem aos ouvidos, estas mensagens acabam por ser meras manobras para ganhar apoio sem se assumir compromissos reais com a mudança.

E como não podia deixar de ser, a hipocrisia acompanha esta prática da superficialidade, onde em algumas causas as ações acabam a ser o oposto do que proclamam. Fazem-se discursos inflamados contra desigualdades e injustiças, mas falha-se na liderança pelo exemplo, revelando incoerências que apenas enfraquecem a credibilidade dos seus agentes.

Ao reduzir questões complexas a meros slogans, cria-se um ambiente de confronto, onde o debate construtivo dá lugar a divisões e trincheiras ideológicas. Em vez de se unir, estas demonstrações performativas promovem um maniqueísmo que separa as pessoas entre “os bons” e “os maus”, sem espaço para discutir nuances ou encontrar soluções concretas. O resultado? Um debate político pobre, polarizado e cada vez mais desligado das reais necessidades.

E assim, perde-se o essencial: a política para as pessoas. As declarações pomposas podem gerar manchetes em jornais ou aplausos momentâneos, mas não resolvem os problemas concretos do país. A educação, a saúde, a habitação ou o emprego não se resolvem com discursos ou hashtags.

É urgente resgatar o espaço público desta superficialidade e devolver à política a sua verdadeira missão: o compromisso com o bem-estar das pessoas. Só assim será possível ultrapassar a desilusão crescente e reconstruir a confiança numa política que se preocupa menos em parecer virtuosa e mais em ser eficaz.

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