A energia solar está em alta. Os painéis, as telhas, as baterias, a eficiência sempre a aumentar, a Tesla, o Alentejo, os fundos suíços ou os investidores chineses – de todos os lados surgem notícias sobre a grande revolução solar em marcha.
A energia solar tem de facto um potencial único e goza de uma espécie de glamour que mais nenhuma outra fonte de energia consegue. Enquanto é difícil para muita gente discutir o potencial da fusão nuclear ou do hidrogénio, isso não acontece com a energia solar. Porque é óbvia e é, de facto, de todos.
Investimento – no meio está a virtude
Uma das consequências de toda esta atenção é que, de repente, começou a “caça ao tesouro” da energia solar. Nos últimos dois anos não faltaram proprietários de terrenos no Alentejo, Ribatejo e Algarve a oferecer os seus “hectares” para a produção de energia solar. As notícias recentes a isso ajudam, com investimentos gigantescos a ocupar grandes planícies da metade sul (e não só) do país. Mas desengane-se quem acha que esse é o futuro da energia solar.
Uma das grandes virtudes desta forma de energia é a sua escalabilidade, o que faz com que um painel, 100 painéis ou 10 000 painéis sejam quase sempre um investimento inteligente. Na verdade, a otimização de um investimento em energia solar não acontece à escala doméstica nem à das grandes centrais solares, está naqueles investimentos até um milhão de euros, próximos dos (ou nos próprios) locais de consumo.
Enquanto no atual contexto, sem subsídios para produção em grande escala, uma central solar no meio do Alentejo ganha 4 ou 5 cêntimos por kWh vendido (por competir no mercado com as outras fontes de energia), no telhado de um estabelecimento comercial ou de uma pequena indústria, a produzir para consumo próprio (ou seja, em autoconsumo), cada kWh produzido corresponde uma poupança de 10 a 30 cêntimos (consoante a tensão de consumo e o tarifário em causa).
Esta diferença é ainda mais relevante numa perspetiva de eficiência. É que a eletricidade produzida nas grandes centrais implica ainda, para o consumidor final, os custos e perdas associados ao transporte e distribuição, ao passo que a eletricidade produzida no próprio telhado não tem perdas de transporte.
O impulso da economia colaborativa
É então legítimo perguntar: “Se o investimento é assim tão bom, porque é que não está o país cheio de painéis nas coberturas?”. É também uma pergunta que me assaltava em cada aterragem de avião em Portugal.
Para começar, o setor que tipicamente faz mexer a economia não está para aí virado. É, por um lado, uma escala demasiado pequena para project finance e, por outro, de difícil enquadramento na oferta típica da banca de retalho.
Mas a inovação e as novas tecnologias estão a permitir dar a volta a este problema, com soluções que levaram a um crescimento exponencial do mercado das finanças alternativas através de soluções como as plataformas de crowdfunding de empréstimos, de participações de capital ou outros esquemas de investimentos partilhados e peer to peer.
Este contexto sem precedentes, onde existem plataformas que se situam algures entre uma bolsa de valores e as cooperativas modernas e onde os cidadãos escolhem os projetos que querem fazer acontecer, é tão poderoso que promete mudar a forma como olhamos para a economia e para a energia.
Não é por acaso que o setor do financiamento alternativo está em crescimento exponencial, tendo quintuplicado na UE nos últimos dois anos (para mais de 5 mil milhões de euros em 2015) e representando um volume de negócios total de 150 mil milhões de dólares em 2016 (estimado pelo Banco Mundial).
Já não é preciso ter um telhado para investir em energia solar
Aplicando estes modelos à energia solar, é fácil perceber também o seu potencial e simplicidade: deixou de ser preciso ter um telhado ou um terreno bem orientado e sem sombreamento para se poder investir em energia solar – agora basta escolher a plataforma de crowdfunding em que o queremos fazer (já há várias na Europa, incluindo a Parity em Portugal) e em três ou quatro cliques passamos a ser investidores em energia solar. Para os que se querem envolver mais ativamente, há ainda a opção das cooperativas de renováveis, que são por sua vez mais de 3 000 na União Europeia (como a Coopérnico em Portugal).
Se a isto juntarmos o desenvolvimento e aplicação de tecnologias de partilha de energia que podem ser tão transparentes e descentralizadas quanto a blockchain permite ou a criação de comunidades de energia virtuais, percebemos que há todo um mundo de partilha de energia e benefícios económicos para descobrir e desenvolver.
Cofundador da plataforma GoParity e Presidente da Coopérnico