Antes de surgir a pandemia, os hospitais públicos estavam a passar por uma fase de pré-ruptura pela degradação sucessiva da estrutura física, falha frequente de material de apoio e falta de incentivo real para os profissionais de saúde. Com a chegada da pandemia, colocaram-se a descoberto (ainda mais) todos estes problemas.

Nos cuidados intensivos foi detetada falta de ventiladores e de outros equipamentos de proteção individual (EPI). Chegaram após algum tempo estes e outros esquipamentos de proteção, tão importantes para os profissionais de saúde e doentes. Com a implementação do uso de máscara, o confinamento e a vacinação em massa, o número de doentes graves foi-se reduzindo progressivamente.

Este período de lua de mel foi curto por várias razões. Enquanto que, durante o confinamento, as pessoas quando saíam tinham de usar obrigatoriamente máscara e o distanciamento social era cumprido na maior parte dos casos, os serviços de urgência e os internamentos tiveram uma redução significativa de utentes.

Com o desconfinamento, após termos atingido 85% da população inoculada com duas doses de vacina contra Covid 19, registou-se uma invasão noturna de jovens nos bares e discotecas, sem necessidade de uso de máscara.

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Estes jovens, mesmo vacinados contra Covid 19 , também estão sujeitos a outras infeções víricas, nomeadamente do vírus da gripe. Podem estar infetados e propagar a doença aos seus familiares. A bola de neve continua com os contactos com os amigos, colegas, etc.

Durante o tempo de confinamento, deixámos de ser estimulados pelos habituais vírus. O nosso sistema imunitário precisa de estímulos exteriores para ganhar anticorpos. A falta de uso do sistema imunitário durante aquele período pelas razões já apontadas, pode facilitar a infeção por vírus da gripe e outros vírus similares. Os jovens e os idosos são os mais sensíveis a este tipo de infeção.

Pelo desuso de máscara e com a aglomeração de pessoas cada vez maior, as urgências estão a ser inundadas por doentes com quadros respiratórios, provocando nos profissionais de saúde uma situação de desgaste físico e psicológico intenso e contínuo.

Não basta os cuidados intensivos estarem completamente munidos de ventiladores, porque todos os restantes serviços estão, na maioria dos hospitais públicos, a precisar de uma profunda restruturação, não só com a contratação de mais profissionais mas também equipando estes serviços com materiais atualizados.

Os profissionais estão cansados de trabalhar em serviços com risco de ruptura iminente por falta de especialistas e material técnico.

Estamos numa fase crucial de viragem. Depois de quase 50 anos de democracia e tantos apoios vindos de Bruxelas, ninguém pensaria que pudéssemos estar ainda a discutir ainda os mesmos temas. Mas olhando para o panorama nacional, têm surgido várias demissões de diretores de serviços por falta de condições. É muito provável que mais médicos venham a seguir o mesmo caminho a curto prazo.

A greve dos médicos que está marcada para Novembro é um grito de revolta dos mesmos pela ineficácia na resolução de problemas, que se vão arrastando ao longo de anos, por diversos governos de direita e esquerda.

Muitas vezes, as próprias administrações hospitalares têm as mãos atadas para poderem fazer mais e melhor. O verdadeiro apoio tem de vir do governo para que os projetos nos papéis sejam concretizados na prática.

A tal bazuca de que tantos falam, e que poderá ser a nossa última salvação, terá de ser bem gerida. Seja qual for o governo, o ministro de Saúde ou o ministro das Finanças, o orçamento para a área de Saúde terá de ter um montante muito superior aos anteriores face à degradação geral nos hospitais. Não podemos viver de esmolas orçamentais.

Toda a população teve consciência da importância dos hospitais e de os profissionais de saúde estarem bem preparados e munidos de apoio técnico e de estruturas modernas durante a pandemia. Sem meios e incentivos, muitos profissionais irão optar por sair para os hospitais privados. Esta hecatombe de profissionais irá acontecer se continuarmos neste ritmo.

Quando a frustração e depressão se vai acumulando em cada um de nós, a vontade de continuar a lutar é cada vez menor, porque a mudança tarda e as promessas de melhoria são apenas palavras vãs!

Os médicos vão continuar a cumprir a missão de tratar e cuidar os doentes. Mas esta relação médico-doente pode e deve ser feita sempre nas melhores condições possíveis. Ambas os protagonistas merecem este ambiente. Os profissionais de saúde foram apelidados de heróis durante a pandemia. Todos dedicaram o seu melhor para salvar os doentes, mesmo em situações adversas. Ser heróis não basta porque as condições de trabalho são fundamentais para podermos lidar com situações adversas e difíceis que cada doente pode apresentar.

O futuro governo vai ter de levar a sério os profissionais de saúde , os hospitais e acima de tudo os doentes. Está na hora de fazermos uma verdadeira revolução na saúde!

É preciso vontade, organização e determinação para não desistir à primeira barreira. Porque estas vão surgir de certeza. A palavra mudança assusta. Mudar dá trabalho. Mudar implica ter vontade, dedicação, tempo, compromisso e coragem. Mas quando se concretiza a mudança, o produto final fruto desse esforço e vontade será sempre compensador .

Ser português não é ser persistente e lutador até atingir o que queremos? Todos nós queremos que haja mudança a sério, com base na coragem, determinação e organização!

O Serviço Nacional de Saúde precisa de ser já reanimado antes que entre em coma irreversível!