Não é verdade que já se tenha dito tudo abre as mães. Reconheço que são acaloradas. Que se esganiçam. Que têm o seu quê de um bocadinho “desbocado”. Que são levemente irritantes, quando adivinham e parecem ter uma capacidade extra-sensorial de descobrir asneiras, pequenos pecados e desarrumações muito bem escondidas. Que são multi-funções e que têm listas sobre listas na cabeça. Que são comoventes e que choram, com uma franqueza enternecedora, quando um filho faz uma gracinha, uma habilidade ou é, simplesmente, bonito. Que são um bocadinho trapalhonas, quando se zangam, porque esbracejam, levantam a voz, mas têm um olhar doce que não convence nem sequer os próprios filhos. E que têm uma luz única no olhar, que contagia e ilumina. Sempre. Mesmo no escuro.

Mas, hoje, gostava muito de conversar convosco acerca da saúde mental das mães. Numa altura em que se fala de saúde mental a torto e a direito, aquilo que se passa com as mães merece que conversemos, de forma clara e sem rodeios. Não, eu não acho que as crianças adoecem psicologicamente por culpa das mães. As mães são preciosas e indispensáveis para a saúde mental dos filhos, sem dúvida, mas sempre entendi que eram injustas as ilações que responsabilizam as mães, e só as mães, dos ritmos e das rotinas desequilibrados, dos pequenos sintomas do desenvolvimentos e dos grandes quadros de doença psicológica das crianças. Como se elas existissem sem pais. Sem famílias. E sem uma “aldeia” a contribuir para o desenvolvimento e a tomar o pulso aos seus pequenos sobressaltos.

Seja como for, eu entendo a saúde mental das mães como um assombro. Como é que é possível dormirem pouco; dormirem mal; estarem, a todo o momento, a ser mães; sem feriados, dias de folga, pontes ou férias; trabalharem, terem compromissos, exigências e uma carreira; terem listas de compras, de testes e da vida social de todos os filhos; saberem o nome dos amigos, dos pais dos amigos, e as particularidades de cada um; fazerem de sargentonas; cantarem; rirem, de forma luminosa; contarem histórias; e, no final, amarem, de um jeito terno e desmedido?…

Não, as mães não precisam de ser exemplares. E sim, também têm direito às suas “telhas”. E os “seus dias”. Mas, no meio de tudo o que podiam não ser, debaixo de tantas exigências e de tantos cuidados, é inacreditável como são equilibradas. Como têm um coração interminável. Como aturam birras, caprichos e amuos. E fazem de “polícia mau” com a convicção daquilo que pensam, por mais que ninguém as entenda.

As mães são um reservatório de saúde mental. E isso, acho eu, nunca se diz.

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