Estes dias que vivemos na Europa, como todos sabemos, têm sido intensos, aterradores e incrivelmente tristes. Não quero escrever necessariamente sobre o que se está a passar na Ucrânia. Contudo, o que me motiva hoje a escrever, sobre aquela que eu acredito ser a solução para o mundo, foram sem dúvida estes acontecimentos recentes.

Acredito profundamente que a solução para o mundo e para todos os seus problemas é simples, “basta” aumentar a nossa capacidade de utilizar a empatia no dia-a-dia. A empatia não pode ser uma capacidade vazia, filosófica ou teórica sobre a qual falamos, como se só algumas pessoas fossem capazes de a exercitar e de sentir o que o outro sente, mas tem que ser algo a que todos aspiramos, e proativamente tentamos desenvolver em nós próprios. Quem é que não tem ficado emocionado ao ver as imagens recentes de pais a despedir-se dos filhos, ou maridos a despedir-se das mulheres porque têm que ficar para trás para defender o seu País? Eu pessoalmente, como pai, fico horrorizado, com os olhos molhados e a controlar-me para não chorar desalmadamente, só de pensar que poderia ser eu ou a minha família. Não estou a querer dizer que tenho uma maior capacidade de empatizar que os outros, estou apenas a reforçar que todos temos essa capacidade.

E se fôssemos capazes de exercitar esta nossa capacidade desde pequenos? E se ela fosse aplicada nas empresas, na forma como se tratam os colaboradores ou até como se despedem trabalhadores? E se ela fosse utilizada nas nossas empresas, na forma como pagamos aos nossos fornecedores, a tempo e a horas? E se o critério de decisão nas empresas na escolha de fornecedores, de parceiros, de estratégias e novos negócios fosse a empatia? Fosse o que os outros estão a sentir com as minhas decisões? Como posso tomar melhores decisões em prol de todos? Estarei a ser demasiado utópico? Penso que como humanidade temos esta capacidade de em conjunto evoluirmos e sermos uma espécie melhor no todo, mas para isso temos que almejar a paz, não só entre países, mas nos nossos bairros, escolas, empresas, relações, no trânsito (onde eu falho constantemente), em casa com a família (onde eu falho constantemente), e por aí fora.

E se nas escolas ajudássemos as nossas crianças a desenvolver esta capacidade, tanto quanto as ajudamos a desenvolver os seus conhecimentos de Matemática e de Português? Acredito que assistiríamos rapidamente a um declínio do bullying, das ansiedades e depressões que cada vez mais afeta a população mais jovem. Mas não seria só isso. Estas crianças serão provavelmente amanhã melhores profissionais, melhores pais, melhores cidadãos e melhores líderes. E como se isso não bastasse, seriam eles que ajudariam aqueles que mais precisam.

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Faço o exercício aqui e agora de tentar arranjar soluções e caminhos para aumentarmos a empatia a um nível geral.

Será que podemos incluir nas rotinas das escolas e das empresas a obrigatoriedade de cada pessoa, todos os dias, reconhecer uma coisa boa que lhe tenha acontecido recentemente? Pode ser um simples sorriso do senhor do Café, ou do motorista do autocarro. Penso que o primeiro passo para sermos capazes de olhar para fora de nós, para os outros, é reconhecer em primeira mão todas as coisas boas que o mundo nos dá, mesmo quando temos vidas muito difíceis.

Será que podemos incluir nos currículos das escolas a obrigatoriedade e o tempo necessário para que a escola se envolva em projetos comunitários, de como pode ajudar quem está à sua volta? E se fizéssemos este tipo de iniciativas nos condomínios? E nas freguesias e cidades?

Será que podemos incluir a obrigatoriedade de existir um ano letivo antes da entrada na universidade, em que cada pessoa tivesse que dedicar o seu tempo aos mais pobres, nas causas que mais lhe forem próximas e sensíveis? Tenho a certeza que ganharíamos uma capacidade de pensar no outro e de acolher o outro muito grande. Tenho a certeza que a médio-prazo assistiríamos a uma diminuição das desigualdades.

E será que podemos criar nas universidades a obrigatoriedade de uma vez por semana cada aluno ter que falar com alguém que pensa diferente de si (politicamente, economicamente, socialmente, futebolisticamente, etc.). Não têm estes alunos que passar a acreditar no que o outro pensa, nem mudar de opinião, mas têm que exercitar a empatia, para tentar perceber porque pensa o outro de maneira diferente. Só nesta aproximação dos extremos e na aceitação que podemos pensar de forma diferente, estaremos a criar espaços de paz e prosperidade para todos, reconhecendo que ninguém é mais importante que o outro e que em conjunto somos muito mais fortes e felizes, mesmo quando estamos em extremos opostos.

Sobre a palavra obrigatoriedade, que aqui não foi posta ao acaso, sei que acarreta um peso grande e que pode criar anticorpos a quem a lê. Mas não temos nós enquanto sociedade já uma série de obrigatoriedades para com os outros? Temos que pagar impostos, temos que respeitar as regras do trânsito, temos que ir à escola, etc. Por isso, e se acreditamos que realmente a empatia pode salvar o mundo, temos a obrigação de criar os espaços e oportunidades para que essa mesma capacidade seja exercitada e desenvolvida por todos, desde pequenos. Só assim, poderemos assistir, não a 70 anos de paz na Europa, mas a 700 anos.

Duarte Fonseca nasceu na cidade do Porto, onde se formou em Terapia Ocupacional e trabalhou durante um ano numa prisão. Trabalhou durante quatro anos na Beta-i como consultor de inovação e durante três anos na Associação Just a Change. É atualmente Diretor Executivo da RESHAPE, uma associação que cofundou em 2015, que tem como missão garantir a reinserção digna de todas as pessoas que estão ou estiveram presas e que promove o negócio social Reshape Ceramics. Faz parte da comunidade Global Shapers do World Economic Forum desde 2019.

O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.