Muito se tem falado nos últimos dias, meses, anos sobre a degradação das instituições. Dos problemas que existem no Estado, no governo, nas empresas, nas instituições públicas e nos partidos. Parece-me que o problema é mais profundo e complexo do que aparenta ser. E não, este artigo não é sobre a degradação da vida política ou da profissão de político.

Quando pensava neste artigo, lembrei-me do ditado popular: “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. O problema que enfrentamos em Portugal, em geral, é mesmo a falta de pão, de uma economia pouco vibrante, e de uma falta de ambição e de visão. E isso deve-se às fracas lideranças que em geral temos. O papel de líder na sociedade portuguesa, não tem sido bem usado. Ou se tem, é para proveito próprio.

Acredito profundamente que as lideranças devem ser partilhadas, renovadas e limitadas. E que esta forma de liderar não se deve limitar ao Estado, governo, instituições públicas e partidos políticos, mas sim a todo o tipo de organizações, privadas, públicas e sociais. Também acredito que, com excepção de alguns cargos públicos e políticos, esta limitação não deve ser imposta por leis e limites. A limitação deve existir por princípios gerais de liderança, de visão para um bem comum maior e mais ambicioso, do que o próprio umbigo.

Para que a limitação não seja imposta para além da própria consciência do líder, é necessário que os líderes tenham alguns princípios, pelos quais se guiem. Deixo três princípios que a mim me têm ajudado:

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O Líder não se serve da camisola, mas serve a camisola

Apesar de ter sido líder da sua empresa quase toda a vida, o Comendador Rui Nabeiro (a excepção que faz a regra) é talvez um bom exemplo de alguém que não se serviu da camisola, e que a deixou num lugar melhor.

O líder, quando está no topo do seu jogo, percebe que é a melhor altura para mudar

Sempre me fez confusão que os líderes saíssem das suas posições muitas vezes em desgraça, ou porque perderam eleições.

O líder nunca perde de vista a causa justa, mesmo quando os tempos se tornam difíceis

Não é possível não perdermos de vista a causa justa, a causa que defendemos, sem termos uma visão clara do mundo que queremos, e da sociedade que queremos construir.

Para terminar, relembro a despedida da Primeira-Ministra neozelandesa, Jacinda Arderen, que passou a liderança, não porque não podia ganhar, não porque estava em descrédito e não porque não fosse capaz, mas por um exercício altruísta e de grande autoconhecimento, de saber que poderia haver quem melhor nesta fase fizesse o trabalho e levasse o País ainda mais longe. Ela ganhou (muitos pontos com esta atitude, como se viu pelas centenas de reações pelo Mundo fora), o País sairá a ganhar com novas lideranças e no fim quem ganha são todos os neozelandeses. Uma estratégia de soma positiva, que coloca em causa a forma como temos sido educados, a ser sempre vencedores, a ganhar a todo o custo, o que implica que existam perdedores. Neste caso apenas existiram vencedores e não houve perdedores. É possível liderar de forma diferente, e com isso levarmos o nosso querido Portugal a ser mais e melhor, a ser aquilo que todos merecemos.

Nota: os três princípios que enumerei foram-me apresentados nos livros O Legado, de James Kerr, e O Jogo Infinito, de Simon Sinek.

Duarte Fonseca é consultor independente em temas como inovação social corporativa, empreendedorismo e gestão. Trabalhou durante quatro anos na Beta-i como consultor de inovação e durante três anos na Associação Just a Change. Foi até recentemente CEO da RESHAPE, uma associação que cofundou em 2015, que tem como missão garantir a reinserção digna de todas as pessoas que estão ou estiveram presas e que promove o negócio social Reshape Ceramics. Faz parte da comunidade Global Shapers do World Economic Forum desde 2019.

O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.