Nas últimas semanas, fomos repetidamente confrontados com a mesma frase: “Estas eleições europeias são as mais importantes desde a criação da União Europeia“. De Lisboa a Budapeste, os líderes dos Estados europeus apelaram ao voto em massa. Quase todos os dirigentes políticos, desde Presidentes a Primeiros-ministros (sem esquecer os líderes partidários), fizeram campanha para as eleições europeias. Alguns chegaram a posar ao lado dos cabeças de lista nos cartazes. Qual a razão destas eleições terem atraído a atenção de tantas elites europeias? Porquê agora? Será que estamos num ponto da História tão importante para os europeus?

De facto, estamos num momento em que os europeus terão de decidir qual o destino que pretendem. O poder, ou a fraqueza? A liberdade, ou a submissão? A identidade, ou o vazio da globalização capitalista? Uma Europa que decida reentrar na História e ser aquilo que sempre foi, um dos actores principais, senão o principal actor da História Mundial, ou um simples espectador? Existem provavelmente várias razões para estas eleições terem gerado tantas preocupações entre os que habitualmente chamamos de “progressistas”. Da minha parte, identifico pelo menos três.

A primeira razão é conhecida de todos: a direita radical tinha a possibilidade de alcançar um resultado histórico nestas eleições. Em parte, conseguiu: os dois grupos mais à direita, Reformistas e Conservadores Europeus e o Partido Identidade e Democracia, obtiveram um bom resultado, 76 e 58 deputados respectivamente, sem falar nos não inscritos, muitos deles membros de partidos de direita radical. Há uma segunda razão. Foi mencionada pelo presidente francês Emmanuel Macron num discurso proferido na Universidade da Sorbonne, e consiste na vontade de dar o passo para uma Federação Europeia. Tendo em conta os resultados das europeias, parece que Emmanuel Macron terá de esperar um pouco mais. Por fim, há uma terceira razão, e o resultado das eleições permite-nos perceber qual é: os povos europeus estão a tornar-se cada vez mais críticos da União Europeia, ou pelo menos, do caminho que as elites europeias ambicionam seguir sem consultar os europeus.

Nestes tempos atribulados, o “sonho europeu” tem-se esvaziado da sua essência, ou seja, fortalecer a Civilização Europeia e promover uma boa entente entre as Nações Europeias. De uma “União Europeia”, temos vindo a assistir ao surgimento de uma Desunião Europeia. A verdade é que a União Europeia tem sido tudo menos coesa e, pior ainda, cada vez menos europeia. Isto torna-se evidente, sobretudo quando observamos a aversão que certas elites de Bruxelas parecem manifestar por tudo o que é genuinamente europeu. De uma organização que deveria ter como pilar central a defesa da Europa, as elites tecnocráticas de Bruxelas têm feito o contrário, chegando ao ponto de dar voz e financiar aqueles que apenas sonham com uma coisa: a destruição da Europa e da sua Civilização multimilenária.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A União Europeia não protege os europeus

Na quinta-feira dia 25 de Abril, enquanto os portugueses celebravam os 50 anos da Revolução dos Cravos, o presidente francês Emmanuel Macron discursou na prestigiada Universidade da Sorbonne. A principal mensagem do presidente francês teria merecido muitos artigos, inclusive em Portugal. Pela primeira vez na história da União Europeia, um presidente de uma das maiores nações europeias, com 1500 anos de história, disse em voz alta aquilo que os tecnocratas de Bruxelas pensam mas não ousam dizer: as nações estão ultrapassadas, e o seu desaparecimento é necessário para que nasça um “Estado Europeu”. Para Emmanuel Macron, as nações europeias são um obstáculo ao “sonho europeu”, e aqueles que se opõem a este sonho são rotulados de “populistas”, uma categoria tão vaga e ampla que qualquer pessoa que não siga os ditames do progressismo pode acabar por nela ser incluída.

Em si, a ideia de uma Europa unida é, sem dúvida, uma belíssima ideia. Embora não disponha de números para sustentar esta afirmação, acredito que uma parte significativa dos europeus, se não a maioria, tende a ser europeísta. Contudo, a União Europeia tem vindo a parecer mais uma “Desunião” no seu funcionamento, tal como disse mais acima, do que propriamente uma União. Se Emmanuel Macron parece acreditar na possibilidade de uma Federação Europeia, a realidade mostra que esta opção tem vindo a afastar-se cada vez mais, muito por culpa das elites de certos países.

Emmanuel Macron sonha, mas apenas ele parece não ver que a unidade europeia tem vindo a desaparecer. Apenas ele não percebe que os líderes polacos, espanhóis, italianos, ingleses, suecos ou portugueses preferem o guarda-chuva militar americano a umas hipotéticas “Forças Armadas Europeias”. Apenas ele não entende que os outros líderes europeus preferem comprar armas americanas em vez de armas europeias: veja-se Portugal, que vai comprar F-35 quando podia adquirir Rafales ou Eurofighters, muito mais baratos e quase tão bons. Apenas ele mantém-se cego quanto ao facto de que a Alemanha destruiu a indústria nuclear francesa através de um lobbying poderoso e agressivo, financiando grupos ecológicos anti-nuclear em França e utilizando Bruxelas para atacar o nuclear francês (fonte). Apenas ele não parece perceber que um dos mais notáveis feitos europeus, o programa espacial comum (e a Agência Espacial Europeia), está numa situação complicada, sobretudo devido às visões divergentes entre a França e a Alemanha – entre a visão estatal francesa e a visão New Space alemã. Apenas ele não parece compreender que a imigração massiva proveniente de África, Médio Oriente e Ásia está a dividir os países europeus. Enquanto os países do sul da Europa pretendem proteger as suas fronteiras contra esta imigração massiva, os países do norte da Europa olham para o lado, pois sabem que a assimilação de tais números se tornará impossível, conduzindo a médio prazo a problemas sociais cujas consequências provavelmente ainda não conseguimos avaliar totalmente. Apenas ele não parece ver que nem todos os países europeus desejam apoiar a Ucrânia da mesma forma, muito menos segui-lo numa guerra aberta contra a Rússia. Alguns líderes, como Viktor Orbán, chegam ao ponto de querer simplesmente abandonar a Ucrânia.

São cada vez menos os europeus que acreditam no projecto europeu e nas elites europeias. E se há culpados a quem apontar o dedo por esta perda de confiança nas instituições europeias, são justamente as elites europeias (como a senhora Van Der Leyen). A União Europeia nasceu com o objectivo, tal como foi dito mais acima, de proteger os europeus e permitir que os mesmos possam viver num continente em paz, onde a guerra seria impensável. Em vez disto, a União Europeia gerou uma organização tecnocrática que não respeita os europeus nem a identidade civilizacional da Europa, muito menos a vontade popular.

De facto, a UE é supostamente uma organização democrática. Contudo, quando as eleições não vão no sentido que as elites tecnocráticas de Bruxelas desejam, estas simplesmente ignoram a vontade do povo. Como se explica que, quando os holandeses e os franceses votaram “não” ao Referendo à Constituição Europeia em 2005, as elites tecnocráticas de Bruxelas fizeram pressão ao ponto de os líderes holandeses e franceses simplesmente ratificarem o Tratado nas respectivas assembleias, sem respeitar o vox populi? Como se explica também que a Comissão Europeia não é escolhida pelos europeus por sufrágio? Será que as massas europeias são demasiado ignorantes para poderem eleger os membros da Comissão? Os “sem-dentes” (dixit François Hollande falando do povo) são bons para pagar os impostos que sustentam os salários brutais dos membros da Comissão, mas não são bons o suficiente para os eleger?

Se o objectivo da UE é defender os europeus, será um objectivo difícil de alcançar, especialmente quando é sabido que a UE tem colaborado estreitamente com ONGs próximas de grupos islamistas, como os Irmãos Muçulmanos, inimigos mortais da nossa Civilização e da religião predominante dos europeus nativos, o Cristianismo. Vários senadores franceses investigaram os investimentos da UE em ONGs próximas de grupos islâmicos. Apenas em 2019, a UE financiou ONGs islamistas num montante de 1.869.141€, dos quais 550.000€ foram destinados ao grupo Islamic Relief Germany, que tem ligações ao Hamas e ao Hezbollah. No mesmo ano, a UE destinou 14.398€ ao Forum das Organizações dos Estudantes Muçulmanos (FEMYSO), uma organização estudantil considerada uma fachada para jovens membros dos Irmãos Muçulmanos. Membros da FEMYSO foram convidados várias vezes ao Parlamento Europeu, com os membros femininos do grupo utilizando o véu completo. Cerca de 91.000€ foram atribuídos ao grupo União Muçulmana Europeia, que vários especialistas consideram fazer parte da rede dos Irmãos Muçulmanos (fonte). Esta problemática continuou apesar da contestação do governo francês, e em 2021 o financiamento à ONG Islamic Relief Germany totalizava 712.000€. Os parlamentares do grupo ID (Identidade e Democracia) afirmaram que não era a primeira vez que a União Europeia financiava grupos islamistas, como a European Muslim Network, fundada pelo pregador Tariq Ramadan, neto de Hassan Al-Bana, o fundador dos Irmãos Muçulmanos, e actualmente em julgamento por várias acusações de violência e violações cometida contra mulheres que o seguiam (fonte).

Sem falar nos financiamentos, o próprio facto de a UE convidar islamistas para o Parlamento Europeu deveria chocar os nossos líderes de Estado. Apenas para citar alguns exemplos, em Maio de 2022, a associação islamista pró-turca COJEP organizou, com a ajuda da UE, uma conferência sobre a islamofobia no Parlamento Europeu. Este conceito tem sido cada vez mais considerado uma arma política usada pelos islamistas para influenciar a Europa, sendo inclusive inventado pelos islamistas do regime iraniano. Durante a conferência, a Europa foi criticada pela sua suposta islamofobia, que os islamistas afirmam ser sistémica nas instituições nacionais e europeias. Entre os conferencistas estavam El-Yess Zareli, conhecido como Elias d’Imzalene, fundador do site Islam et Info (média salafista), e a militante pró-Erdogan Feiza Ben Hohamed, entre outros. Todos os conferencistas e organizadores compartilhavam uma visão política do Islão, especificamente salafista e ultraconservadora (fonte).

De facto, é sabido e tem sido motivo de notícias e estudos académicos a infiltração das Instituições Europeias pelos Irmãos Muçulmanos. Uma prova disto são as diferentes campanhas europeias em favor do véu islâmico, o hijab. No final de 2021, o Conselho da Europa (organização transnacional de 46 Estados europeus) lançou uma campanha a favor do hijab, na qual se podiam ler coisas como “A beleza está na diversidade, tal como a liberdade está no hijab”. Leram bem, “a liberdade está no hijab”. Parece um slogan saído direitinho do livro “1984” de George Orwell (“Guerra é Paz”). Como pode um símbolo de submissão da mulher ser um símbolo de liberdade? Embora a campanha fosse obra do Conselho da Europa e não da União Europeia, esta última co-financiou a campanha. Segundo a investigadora francesa Florence Bergeaud Blackler, antropóloga e especialista em movimentos islamistas, autora de um livro best-seller na França sobre a infiltração das universidades e da União Europeia pelos islamistas, esta campanha foi obra dos Irmãos Muçulmanos, que utilizaram mais uma vez a FEMYSO para fazer lobbying (fonte).

Depois temos o caso dos apoios à Turquia, país que não se pode considerar como sendo um grande aliado da Europa política. Vejamos: a Grécia é membro da UE, tal como Chipre; o primeiro país é continuamente ameaçado pelos nacionalistas turcos que exigem ilhas gregas, enquanto o segundo é ocupado desde 1974 por militares turcos que criaram um Estado fantoche no norte da ilha. Por outro lado, Recep Erdogan tem vindo a aumentar a pressão sobre estes dois Estados membros, além de utilizar um discurso agressivo e expansionista, seguindo uma visão neo-otomana da política externa. Apesar disto, dois jornalistas turcos exilados (um deles condenado, in absentia, a 27 anos de prisão por espionagem), Can Dündar e Metin Cihan, estudaram os fundos europeus direccionados a associações turcas e provaram que a maioria era composta por associações nacionalistas e islamistas próximas da família de Erdogan. As organizações e estruturas turcas financiadas são islamistas bem como anti-europeias. Uma das associações, a Fundação Tugva, dirigida por Bilal Erdogan, filho de Recep Erdogan, recebeu 700.000 euros. Esta associação organiza eventos nos quais os jovens são incitados a participar no “jihad” (guerra santa islâmica), entre outras actividades muito “pacíficas” (fonte).

E que dizer do “Qatargate”? Escândalo de corrupção que eclodiu em Dezembro de 2022, no qual certos membros do Parlamento Europeu, incluindo a sua vice-presidente, Eva Kaïli, teriam recebido milhões de euros do Qatar em troca da defesa dos interesses daquele país. O mesmo teria acontecido com Marrocos, ao ponto de também se falar em “Marocgate” (fonte).

Last but not least, o caso da imigração. Como todos sabem, ou deviam saber, a Europa tem enfrentado uma imigração massiva de extra-europeus. Com ela, surgiram vários problemas, desde um aumento da criminalidade em certos países – recomendo ouvir o programa da rádio Observador Contra-Corrente sobre o assunto, sobretudo o caso da Suécia – até à islamização de certos bairros, terrorismo e problemas identitários. A partir de 2015, o serviço de protecção das fronteiras da UE, o Frontex, teve como novo líder um funcionário francês chamado Fabrice Leggeri. Este tentou proteger as fronteiras da Europa da melhor maneira, transformando o Frontex num verdadeiro serviço de fronteiras, eficaz e rápido, que combatia as máfias que facilitam a imigração ilegal. No entanto, acabou por ser demitido pelos tecnocratas de Bruxelas, após pressões de ONGs pró-imigração, algumas delas também financiadas pela UE (fonte).. O caricato da história é o facto de ele ter sido despedido não por ser incompetente, mas pelo contrário, por ser demasiado competente e lutar eficazmente contra a imigração. Frustrado com a situação, Fabrice Leggeri juntou-se ao RN (partido francês de direita radical), sendo eleito eurodeputado. Segundo ele, o Pacto das Migrações apenas vai agravar a situação, permitindo que terroristas e grupos mafiosos se infiltrem na massa de migrantes sem qualquer controle. Em entrevista à rádio RTL em 21/02/2024, afirmou que, apesar dos perigos que podem advir desta imigração massiva, “a Comissão Europeia vê a imigração ilegal como um projecto e não tanto como um problema” (fonte)…

Haveria tanto a dizer, infelizmente seria preciso um livro. Como é que uma organização que supostamente defende os europeus proíbe países europeus de implementarem leis proteccionistas, quando em todo o mundo, incluindo os EUA, existem leis que protegem as empresas? Como é que uma organização que se diz “Europeia” recusa-se a inscrever no seu Tratado as raízes cristãs da Europa, religião que influenciou os europeus ao longo dos últimos 2000 anos? Ao nível da política externa, como é que a UE não é capaz de falar a uma só voz e, sobretudo, por que as elites europeias seguem cegamente a política externa americana, mesmo quando esta é contrária aos interesses dos europeus? Como é que a UE apoia todas estas ONGs – islamistas, pró-turcas, pró-Qatar, pró-imigração – mas despede um homem que tenta justamente proteger a Europa? São muitas questões, infelizmente sem respostas. Uma coisa é certa, enquanto as elites europeias continuarem neste caminho, os europeus vão afastar-se cada vez mais do projecto europeu.

União Europeia ou Europa Civilização?

O intelectual francês Paul Césari escreveu um artigo no jornal Figaro cujo título resumia o projecto europeu destas últimas décadas: “A construção europeia tem sido até agora a desconstrução da civilização europeia” (La construction européenne n’est à ce jour que la déconstruction de la civilisation européenne, Le Figaro, 17/05/2024). Segundo ele, as elites da União Europeia têm trabalhado incansavelmente para destruir todos os pilares civilizacionais europeus. Para estas elites, não se trata apenas do desaparecimento das nações europeias; é a própria civilização europeia que tem de mudar, ou simplesmente desaparecer. Mas a Europa não é aquilo que a União Europeia tenta impor à força. A Europa não é o ultra-capitalismo neoliberal, não é a imigração massiva e a consequente desculturação que esta última provoca, entre outros problemas. Também não é o islamismo salafista intolerante, nem o wokismo, um descendente indesejado do marxismo-leninismo estalinista. Tudo isto, para Césari, representa a anti-Europa.

A Europa enquanto Civilização existe, e é tudo aquilo que a União Europeia não tem sido. É, primordialmente, o futuro dos europeus. Também representa uma História e uma visão do Mundo que herdamos dos nossos antepassados distantes. A Europa Eterna surgiu na cultura dos Yamnaya (Cultura Yamna), um povo das vastas estepes do sul da Ucrânia, que disseminou a sua língua – a célebre língua indo-europeia, assim chamada pela sua expansão até ao norte da Índia – e junto com ela, a sua peculiar visão de mundo. Como afirmava o filósofo romeno Mircea Eliade: “Não se enganem, a língua é a verdadeira pátria“. Dos Yamnaya (ou indo-europeus) originaram-se as grandes famílias étnicas europeias: os germanos, os celtas, os latinos, os albaneses, os gregos, os eslavos. Influenciados pelo amor aos amplos espaços das estepes, os europeus mantiveram a atracção pelos horizontes vastos, pelo desconhecido, pelo desejo de explorar além do horizonte, rumo ao infinito.

Seguiram-se os gregos nos séculos VI, V e IV a.C., cujas cidades foram o berço da Razão, da Razão Crítica, da Deliberação, da Ciência e da Democracia. Esta última permitiu o diálogo, a partilha intelectual, e não, ao contrário do Oriente, a imposição de uma “verdade” pela violência. Mas a Europa é também o Império Romano e a criação de um conceito inovador, o da “igualdade perante a lei” do direito romano, que a Res Publica Romana soube proteger e que ainda perdura nas nossas nações modernas. A Europa é, por fim, o encontro entre a Razão de Atenas, o Direito de Roma e a Fé de Jerusalém. Este encontro paradoxal entre os mistérios da Ressurreição e a lógica dos filósofos gregos. A Europa é também o Cristianismo Medieval, a “Europa das Catedrais”, a tentativa dos europeus, a partir do “grande Século XII”, de tocar os Céus para alcançar Deus. A Europa inclui também os navegadores portugueses – quão grandioso foi o destino destes homens, como percebeu Camões tão cedo – que partiram à descoberta do Mundo. A Europa é o Renascimento, a redescoberta dos gregos e do seu paganismo, a admiração pela beleza da natureza, a busca pela perfeição estética. A Europa também é o século XIX, um período de invenções científicas inimagináveis, onde os sonhos se tornaram realidade.

A Europa também se revela em Homero, nas profundas e atormentadas personagens da Ilíada e da Odisseia. Desde Ulisses, que após partir explorar o mundo, decide retornar à sua Ítaca natal, até Aquiles, o invencível, que aceita o seu destino de braços abertos: alcançar a eternidade vivendo uma vida breve, porém gloriosa, ao invés de uma vida longa, porém ociosa e tediosa. A Europa é Siegfried, que desafia o pai dos deuses, Odin, por não aceitar que as suas leis condenem a sua filha, a valquíria Brunilda, à morte. A Europa também é Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, europeus que, nas palavras de Sylvain Tesson, “não sabiam bem o que procuravam, não encontravam o que buscavam, mas não queriam que a busca terminasse” (in Avec Les Fées, 2024). A Europa são os trovadores e o “amor cortês”. A Europa são as sinfonias de Bach, Mozart, Beethoven, as óperas de Puccini e Wagner.

Tudo isto é a Europa. Isto e muito mais. Mas o que a Europa não é, de certeza, é aquilo que a União Europeia deseja que ela seja: um espaço que se desligou da História, aberto ao neoliberalismo e aos seus magnatas, um espaço sem identidade definida. E, como a natureza abomina o vazio, sabemos quem está à espreita para preencher este vazio: os islamistas. Eles têm utilizado cada vez mais os “idiotas úteis” aqui e ali: os LFI em França, uma parte dos trabalhistas ingleses, os verdes na Alemanha e na Bélgica… Estes mesmos islamistas que, lamentavelmente, infiltraram universidades, associações, clubes de futebol e, o que é pior, algumas instituições da União Europeia. É hora de as elites europeias resolverem os problemas que afligem esta suposta “União” Europeia e se concentrarem na protecção das fronteiras da Europa, da economia europeia e dos próprios europeus.

Mais do que nunca, é necessário que as elites europeias decidam abraçar novamente a identidade da nossa Civilização, relancem projectos grandiosos (como a Conquista Espacial) e deixem de ter tanto medo da palavra “poder” – pois em todo este vasto mundo, as elites de qualquer nação sempre procuraram a supremacia militar, económica, política, cultural e técnico-científica sobre as demais. Apenas na Europa, as nossas elites parecem preferir a submissão à liberdade que o poder militar, económico e político confere. Os europeus não querem menos Europa, querem sim uma Europa forte, que proteja as suas empresas, as suas fronteiras, a sua população, que respeite a sua identidade, ou melhor, as identidades europeias. Como dizia o politólogo francês Dominique Reynié no Le Figaro, os europeus não querem o fim da União Europeia, querem que esta se transforme num espaço político de poder, que os possa proteger e propor-lhes um projecto comum. Só então, acredito, os europeus poderão voltar a respeitar e acreditar no projecto europeu.