Quando, no término de 2019, nos chegavam as primeiras notícias de um foco epidémico na distante China, estávamos longe de imaginar o impacto que esse vírus viria a ter nas nossas vidas durante os meses sequentes. A propagação da estirpe viral pelo globo e consequente evolução para estado pandémico, obrigou a restrições de circulação, quarentenas, interrupções de produção e até restrições comerciais. Sendo o ser humano uma eterna vítima do contexto em que se insere e do meio que o envolve, todos estes acontecimentos nos moldaram: nos nossos hábitos, nos nossos costumes, na forma como encaramos a vida, como nos relacionamos com o outro e até naquilo que consumimos, e, principalmente, como consumimos.

Num momento em que a economia aparenta dar alguns sinais de retoma, é possível começar a definir aquilo que serão as tendências de consumo num futuro próximo.

Corria o mês de Novembro de 2020 quando, desgastado pelo acumular de medidas restritivas, o Índice de Confiança dos consumidores atingiu um mínimo dramático, alcançando uma negatividade de 29,6%. No entanto, a partir do mês de Dezembro, em consequência do principiar do processo de vacinação — teve início no dia 27 deste mês — tem-se verificado uma subida constante deste indicador, atingindo em Maio deste ano o valor de -12,8 pontos percentuais, uma subida de cerca de 17%. O único período durante o qual este crescimento cedeu, foi durante o mês de Fevereiro de 2021, a quando do pico da terceira vaga.

Foi também durante este mês de Fevereiro de 2021 que o comércio a retalho e grossista atingiu um pico negativo, cifrando-se o volume de negócios em -16,2%. Ultrapassada a terceira vaga e com o acelerar da vacinação, este valor tem crescido de forma exponencial, atingindo pela primeira vez, em Maio de 2021, um valor positivo desde o surgimento da Pandemia no nosso País (1,1%).

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O principal contributo para esta retoma não tem passado pelo sector alimentar – que em certa medida até cresceu durante os períodos quarentenais. Este crescimento deve-se essencialmente a dois grupos de produtos: os produtos genéricos não alimentares, que cresceram cerca de 47%, mas principalmente os têxteis, vestuário, calçado e artigos similares que, em comparação com o período homólogo do ano passado, tiveram um crescimento extraordinário de 490,6%.

Não será coincidência o facto de o índice de preços ao consumidor, quando em comparação com o período pré-pandémico, ter subido em todos as categorias de produtos, à excepção do vestuário e calçado. Segundo o INE, os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas aumentaram 1,54% nos últimos 12 meses, o tabaco e bebidas alcoólicas 0,52% e os bens de saúde 1,97%. Em média, os preços aumentaram 0,24% na generalidade dos produtos, no último ano. Pelo contrário, no têxtil, vestuário, calçado e artigos similares, devido à escassa procura e à dificuldade de alocação de produto acabado, o preço diminuiu 1,72%.

O principiar do processo de vacinação, para além dos virtuosos efeitos epidemiológicos e de saúde pública que lhe são naturalmente inerentes, vieram trazer à sociedade a estabilidade e segurança essenciais para uma recuperação da sanidade económica nas sociedades ocidentais, de forma lenta, mas gradual.

A economia precisa de uma estabilização de preços e a sociedade precisa de uma estabilização da economia. A existência de mecanismos legais ao dispor dos Governos e a auto-regulação do mercado, devem garantir ao consumidor a confiança nos seus investimentos, com isso garantir a confiança no mercado e em consequência a estabilização de uma economia sustentável enquanto alicerce das sociedades modernas.