Realizou-se no pretérito fim-de-semana a VI Convenção do Partido Chega, em Viana do Castelo.
Se havia uma memória de anteriores Convenções, o partido de André Ventura mudou o paradigma do passado, numa reunião pejada de luz, cor, um speaker interventivo, trechos musicais impactantes, boa organização, intervenções políticas interessantes dos filiados do partido as quais, na sua maioria, foram carregadas de conteúdo e, acima do mais, uma maturidade política a qual relegou para o passado o que ao passado pertence.
Vamos ao início. O Chega realizou no Centro Cultural de Viana do Castelo, no Alto Minho, a sua reunião magna com vista a dissipar, de vez, as questiúnculas junto do Tribunal Constitucional, numa reunião que agregou mais de mil militantes oriundos de todas as áreas geográfica de Portugal Continental, Madeira e Açores.
Se era grande a expetativa política – até porque PS e PSD haviam realizado os seus Congressos semanas antes – o partido de André Ventura não defraudou, dizendo com clareza ao que vem.
Política e organizacionalmente mais maduro e polido, o Chega falou para si e para fora, numa Convenção que marcou a reeleição do líder e o ponto de partida para a campanha eleitoral que se aproxima.
Politicamente, tendo deixado de fora Marcelo Rebelo de Sousa, o Chega visou principalmente o Partido Socialista e Pedro Nuno Santos, bem como a “nova AD”, o PCP e o Bloco de Esquerda.
Se sobre os primeiros a crítica incidiu sobre o que não foi feito em 8 anos de governação, por um lado, e a pessoa de Pedro Nuno Santos no seu exercício ministerial, por outro, trazendo à colação, entre outras, as memórias sobre a localização do novo aeroporto ou a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis autorizada via rede social WhatsApp, já PSD, CDS e PPM foram igualmente visados pela sua nova reunião a qual, como é público, foi buscar ao passado longínquo a designação de AD. Para o Chega (vide por exemplo a intervenção de António Tanger Corrêa), a nova AD é um logro, quer no perfil, quer no tempo, quer nas motivações, porquanto, afirmou, “se a AD surgiu para combater a esquerda, esta parece vir para combater a direita”. Para o Chega, a AD radica em si, congregando na sua militância pessoas vindas dos mais variados quadrantes políticos como sejam PSD, IL, CDS e PPM, entre outros.
Como se escreveu, também PCP e Bloco de Esquerda não foram esquecidos. As políticas de esquerda do tempo da geringonça e a predisposição já manifestada para um novo caminho a três (ainda que Jerónimo de Sousa tenha vindo, entretanto, a terreiro, desaconselhar Raimundo a nova união), não foram esquecidos pelos militantes do Chega nem por André Ventura, dando boa nota do que foi feito, mas igualmente do que ficou por fazer.
Mas se a crítica partidária foi o mote, o Chega (nomeadamente pelas intervenções de André Ventura e Pedro Pinto) manifestou propósitos de governação, dando notas sobre ao que vem e materializando propostas as quais, indubitavelmente, radicam nas suas bandeiras “de sempre e para sempre” acrescidas de outras medidas que a contemporaneidade ou o momento atual exige.
Nesse contexto, o país ouviu emergir da Convenção o anúncio de propostas como sejam a reversão da extinção do SEF, o exercício de políticas de imigração controlada, a fiscalização da atribuição de subsídios (o Chega sempre propôs o fim da subsidiodependência), a eliminação do IMI e IUC, a redução do IVA (na restauração, nomeadamente, para 6% e a extensão do IVA zero ate final do corrente ano civil), a ajuda aos portugueses para pagamento dos seus créditos à habitação, anunciando-se em Viana do Castelo que tal medida seria assumida pela banca através dos seus lucros diários no exercício da atividade bancária, a atribuição aos agentes e militares da PSP e GNR, respetivamente, dos valores entretanto atribuídos aos agentes da Polícia Judiciária a título de subsídio de missão, a reversão da transferência de €34.000.000,00 para reabilitação de um museu em Angola – medida essa assumida na Convenção do Chega por traição à pátria, uma vez que visa financiar um museu dedicado à luta pela libertação nacional de Angola –, o aumento das pensões dos antigos combatentes (medida essa generalizada aos demais pensionistas), uma luta intransigente contra a corrupção no país (a Convenção, inclusive, a interpelação do militante Manuel Matias, fez um minuto de silêncio pelas vítimas que morreram por causa da corrupção em Portugal), o cessar de atribuição de subsídios à causa da ideologia de género e a sua alocação a necessidades emergentes da sociedade portuguesa, a promessa de criação de riqueza e erradicação da pobreza, o regresso do serviço militar obrigatório, entre outras medidas, entre as quais, no foro interno, se destacam a eleição dos órgãos internos do partido e algumas alterações estatutárias aprovadas pelos militantes.
Ou seja, o Chega procurou – e terá conseguido – contraditar alguns críticos que o colocam como partido de protesto sem, contudo, ousar apresentar medidas estruturais, ou outras.
Numa Convenção que fez história dentro do partido, onde André Ventura afirmou estar preparado para ser Primeiro-Ministro de Portugal como Sá Carneiro em 1979 e onde anunciou alguns nomes vindos de outras estruturas partidárias para o Chega para o acompanhar neste caminho até 10 de março, pode-se reiterar o que inicialmente se escreveu: o Chega está mais maduro, cresceu nas intenções de voto e na militância, na organização, na intervenção política e está, em definitivo, consolidado no panorama político português como um dos três maiores partidos nacionais.