A época venatória para as espécies cinegéticas tem início em Agosto e pode estender-se até Fevereiro. A caça grossa, a dos votos, decorre impreterivelmente no semestre anterior às eleições.
Era notícia há dias que em Portugal, desde o início do ano, houve 112 pré-avisos de greve. O governo, especialista em spinning, conseguiu apresentar aos portugueses apenas uma, a injusta greve dos enfermeiros. O empolamento da crise com os enfermeiros desviou os portugueses do verdadeiro responsável e tentou que a população visse aqueles que os acompanham desde que nascem até que morrem como gente sem coração.
112 é um número simbólico, é o número da emergência médica, mas nem isso impediu o executivo de ser o tipo que vai em contramão na autoestrada a barafustar com todos os que vêm em sentido contrário ao seu. O país está em emergência e os culpados não podem ser os profissionais todos.
António Costa não inovou. Os governos dos últimos anos têm sido pródigos em delírios de actuação.
A malfadada propaganda foi substituída pela refinada comunicação política e, hoje em dia, ninguém ouve o que não gosta. As redes sociais vieram exponenciar o modus operandi, na era em que todos têm direito a ter opinião, exércitos de perfis falsos destilam veneno a soldo. Importa que se saiba que o ardil é inteligente e está bem montado. A sociologia explica que o Homem, quando inserido numa massa humana, perde as suas características únicas, tornando-se em mais um animal do rebanho.
Havia estratégias mais simples e honestas, uma delas era desmontar a narrativa do País das Maravilhas e assumir aos portugueses que, faltando o dinheiro, sobrava a vontade política. Não foi a decisão de António Costa. O primeiro-ministro optou pela vitimização e mostrar que, no seu plantel, além do Ronaldo nas finanças, tem o Paulinho Santos na Saúde. Neste ministério, ou passa o jogador ou passa a bola.
Há partidos que já perceberam que há 70.000 enfermeiros e que cada um há de ter pelo menos dois familiares próximos.
Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda, veio assumir que “é uma falsa questão dizer que não há dinheiro para contabilizar o tempo de serviço dos trabalhadores”, logo depois, André Ventura afirma que “não há 23 milhões para os enfermeiros, mas há 83 milhões para o Parlamento”.
Da parte dos enfermeiros, aquilo com que os partidos podem contar é, sobretudo, com memória.
Presidente do Conselho Directivo Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros