Talvez tenha sido o Brexit. Talvez tenha sido o caudal constante e corrosivo das notícias sobre as destrambelhadas gestões dos líderes do Podemos ou por eles apoiados em Barcelona, Madrid ou Cádiz. Talvez tenha sido aquele clique que de repente nos diz que acabou o faz de conta. Seja o que for e pelo que for os partidos tradicionais (PP e PSOE) ganharam em Espanha.
Ou melhor dizendo o PP ganhou, teve mais votos e mais deputados. O que quer dizer que muitos eleitores de direita que em dezembro de 2015 ficaram em casa ou votaram nos Ciudadanos, agora, zangados ou não com o PP, acharam que tinham de votar em Rajoy para evitar o Carnaval venezuelano do Podemos.
Quanto ao PSOE não ganhou mas também não perdeu porque sobreviveu como segundo partido. O resultado eleitoral do PSOE mostra que é cedo para se anunciar a morte daquele que já foi o maior partido de Espanha. O velho PSOE mexeu-se quando já era dado como morto e Iglesias até já se dava ao luxo de selecionar entre os antigos líderes do PSOE aqueles que lhe agradavam (obviamente Zapatero não por ser mais de esquerda mas por muito prosaicamente ter subalternizado o PSOE face à extrema esquerda, coisa que Felipe Gonzalez jamais permitiu).
Dos derrotados desta noite é forçoso destacar Iglesias e o seu Podemos. Mas não só. Foi também uma derrota dos jornalistas e da corte de encantados com o carisma do homem do rabo de cavalo a quem, mesmo discordando dele, achavam que a Espanha tinha de se entregar. A desproporção entre o que parece mediaticamente ser o apoio da sociedade espanhola aos radicais de esquerda e aquilo em que esse apoio se traduz em votos é um caso a merecer sério estudo. Pelo contrário, o grande vencedor da noite, Mariano Rajoy, é invariavelmente apresentado como um perdedor. O que não deixa de ser curioso porque Rajoy não só tem ganho várias eleições como se tem afirmado como um corredor de fundo, tirando partido de situações que a outros desgastam, como o provam estes seis meses que mediaram entre os dois escrutínios.
E agora? Obstinam-se boa parte dos comentadores portugueses em que Rajoy tem de deixar a liderança do PP para que seja possível haver um entendimento com o PSOE de cuja liderança não percebo se pretendem também afastar Pedro Sánchez. Desculpar-me-ão mas com que legitimidade se pede, exige ou sugere a alguém que ganhou as eleições que se afaste? E já agora para ser substituído por quem? Alguém menos legitimado obviamente. Seja quem for, sobretudo no PSOE, será alguém mais fraco pois, para cúmulo na Andaluzia, o PSOE teve um um mau resultado o que fragilizou Susana Díez, a rival do atual líder do PSOE. E no PP, o nome de Soraya Sáenz de Santamaria pode entusiasmar muito os jornalistas mas esse entusiasmo não chega para lhe dar força para liderar neste momento. Goste-se ou não, os eleitores deram a vitória a Rajoy. E parecem começar a ter saudades do centro.