O objectivo principal da tirania é muito simples e sempre o mesmo: escravizar as pessoas.

Quando ouvimos falar em tirania lembramo-nos logo de Nero, de Luís XIV, de Hitler ou Stalin. Ou de Putin. Os tiranos, contudo, adaptam-se com enorme facilidade aos diferentes modelos da sociedade política.

Por isso, a par da clássica tirania autocrática, baseada na violência, temos hoje a moderna tirania democrática, baseada na manipulação. Elas divergem nos meios mas não na finalidade – que é transformar seres humanos em escravos.

A arma secreta das tiranias democráticas para dominar os servos sem ter de recorrer à violência permanente e ostensiva é a ideologia da auto-satisfação individual. Esta Idolatria da Vontade Individual – apresentada como bem supremo e a fonte única de toda a legitimidade – é difundida por inumeráveis meios: o ensino, os média, a propaganda política, a indústria da publicidade e, last but not least, pela cultura de massas, especialmente o cinema comercial. Claro que o intuito desta manipulação é a consolidação do mito popular do cidadão livre, na sua dupla condição de eleitor e consumidor.

As pessoas de facto votam, mas a escolha está à partida viciada pelas limitações ou imposições de um sistema político fechado e oligárquico – outra maneira de dizer tirania.

E as pessoas também consomem, consomem muito, sendo até principalmente valorizadas, aos olhos dos outros e dos seus, por aquilo que forem capazes de comprar.

O problema é que, para poder adquirir, o consumidor tem que ser primeiro produtor. Que constitui afinal a sua condição-base, da qual dependem todas as outras.

Na essência da actual tirania democrática temos portanto um produtor absolutamente refém das leis do Estado Oligárquico e das determinações do Mercado. Ou seja, um escravo.

Mas um escravo que, em vez de se revoltar, consome e vota. Consome para fingir que é senhor. E vota com a ilusão infantil de decidir, aproveitando uma pretensa liberdade oferecida.

A verdadeira liberdade porém não se compra nos mercados nem é concedida por um regime politico. É aquela liberdade da consciência, própria e inata do ser humano, a que dantes chamávamos livre-arbítrio. Consiste numa escolha consciente entre o bem e o mal. E, por vezes, entre consentir ou divergir e até resistir.

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