Segundo o relatório do painel intergovernamental sobre alterações climáticas (IPCC) divulgado no momento em que decorre a conferência anual sobre o clima COP26 (Climate Change Conference of the Parties), cada grau de temperatura adicional poderá atirar mil milhões de pessoas para fora do intervalo de temperatura média anual confortável para a vida humana.

O relatório indica que no Sul da Europa, um aumento médio da temperatura de 20C face aos níveis atuais pode aumentar cerca de um mês o número de dias com temperaturas superiores a 350C e reduzir a precipitação média anual entre 5% e 10%, aumentando assim o risco de incêndios. No Centro e Leste da Europa, o relatório aponta ainda para um aumento da pluviosidade e das cheias.

Mas se os efeitos do aumento da temperatura global já se começam a fazer sentir nos fenómenos climáticos extremos dos últimos anos, motivando uma crescente preocupação ambiental nas políticas públicas, obter um acordo suficientemente abrangente na COP 26 para evitar que a situação se agrave não está isento de dificuldades.

Desde logo, porque o efeito dos aumentos dos preços energéticos na recuperação económica mundial está a gerar uma resposta política contrária aos objetivos de desinvestimento em energias poluentes. Na União Europeia, a Presidente Ursula Von Der Leyen anunciou poucos dias antes do início da COP26 que a Comissão está a preparar uma revisão à taxonomia (classificação) europeia de investimentos verdes, para incluir o nuclear e o gás como investimentos de transição para a economia verde, o que facilitaria o investimento nestas energias. Nos Estados Unidos, o Presidente Biden tem apelado junto dos países produtores de petróleo para aumentarem a sua produção.

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Na COP26, apesar de alguns acordos relevantes já terem sido alcançados, nomeadamente na deflorestação ou na restrição à utilização do carvão, não foram assinados por todos os países. O Presidente da International Energy Agency, Fatih Birol, indicou que o facto de os três maiores consumidores de carvão, os Estados Unidos, China e Índia, não assinarem o acordo proposto pelo Reino Unido torna praticamente impossível limitar o aumento da temperatura global a 1,50C nos próximos anos.

Por fim, os países emergentes têm riscos mais elevados associados ao aquecimento global. Por exemplo, se a temperatura média global aumentar 20C, os países do Norte e do Corno da África podem sofrer um aumento de temperatura máximo de 40C. No entanto, têm poucos meios para combater as alterações climáticas.

O acordo de 2009 em que os países mais avançados prometiam aumentar o financiamento em investimentos sustentáveis nos países emergentes até 100 mil milhões de euros por ano nunca chegou a ser cumprido. Em 2019 não tinha chegado a 80 mil milhões (dos quais apenas 60 mil milhões eram apoios públicos).

Até agora, a COP26 tem mostrado que existe um esforço sério e coordenado a nível global para limitar o aquecimento global, mas também que ainda existem divergências dificilmente conciliáveis entre países que comprometem o objetivo do acordo de Paris de limitar o aumento de temperatura a menos de 20C.