Os partidos políticos serão, sempre, a charneira de qualquer democracia.
Trata-se de um princípio elementar, mas que em Portugal não evitou uma progressiva descrença na regeneração do sistema político, sentimento hoje partilhado por milhões de cidadãos.
O mundo evoluiu vertiginosamente e os espectros partidários sofreram incríveis mutações, por toda a Europa.
Aqui, porém, assistiu-se à lenta agonia dos movimentos que pretenderam federar descontentamentos e protagonizar mudanças, todos caídos nos mesmos vícios das organizações que diziam afrontar.
Perante tal fracasso, o poder ficou à mercê de clãs de “jotinhas” sem ideias nem ideais, que apenas nos conduzem ao caos e ao progressivo desajuste com o mundo real.
Mergulhado num “pântano”, é com amargor que vejo crescer o predomínio de interesses convergentes que, firmes no seu castelo, continuam à prova dos “robins dos bosques” que, episodicamente, aparecem a rondar-lhes as muralhas.
Há quase um século que, em Portugal, as eleições presidenciais constituem “janelas” para expor fragilidades e abanar poderes por demais incapazes de esconder o laxismo e até a incompetência e a corrupção.
Altamente condicionada por uma “censura” imposta pelos poderes político-económicos, é também nessas alturas que a comunicação social costuma libertar-se um pouco de pressões conhecidas e por demais denunciadas.
Foi perante a tentativa de silenciamento de um debate sério sobre as alternativas que se colocam a Portugal que surgiu a “revolta” de Ana Gomes, cidadã que conseguiu ganhar algum mediatismo na defesa de causas populares, não raro em confronto com poderosos.
Os atuais detentores do poder, em sintonia, estão convencidos que as eleições de janeiro são favas contadas.
Esta candidatura, porém, e por si só, não lhes retirará a tranquilidade.
Existe um caminho longo a percorrer e é possível que Ana Gomes se desligue das tricas do PS e apresente um projeto que possa mobilizar os milhões de portugueses que aspiram por um Presidente patriota, capaz de impor as mudanças inadiáveis, travar a pilhagem e repor o normal funcionamento das Instituições.
Um Presidente firme nas suas convicções, que preze o serviço público e valores como a Justiça e a Educação, que defenda uma classe média forte, que se distinga por uma vida em prol dos Direitos Humanos e no combate à exclusão social, que promova a investigação e a inovação, que respeite a ciência, a cultura e as artes nas suas diversas vertentes e que apoie intransigentemente o SNS.
Não por ânsia de protagonismo pessoal, mas na defesa intransigente dos valores sagrados consignados na Constituição que jura defender, lançando um debate aberto e livre sobre todos os problemas do presente e os caminhos do futuro e congregando à sua volta todas as organizações da sociedade civil, independentemente de serem popularuchas e da sua simpatia.
Ana Gomes, uma personalidade algo controversa, tem ainda algumas semanas para se revelar como polo aglutinador e não como mais um foco de divisão. Condição necessária a podermos derrotar nas urnas um Presidente que se encontra altamente desgastado e que, até agora, só foi confrontado com aquilo que os portugueses mais detestam: demagogia inconsequente, racismo quase clubista e tiques de um fascismo que não volta atrás.
Veremos, nas próximas semanas, se uma Ana Gomes serena, firme e sem crispações desaconselhadas consegue entender os ecos da sociedade e rodear-se de pessoas que expressem a sentir e o querer de milhões de portugueses de boa vontade e de todos os quadrantes políticos.
Se tal não vier a acontecer, poderá sempre ser, no entanto, o ponto de partida para uma outra candidatura vencedora, tal como o nosso povo bem merece.
Veremos o que o futuro próximo nos reserva.