Há duas eleições. Uma entre os candidatos a PM, António Costa e Rui Rio. A outra entre os pequenos partidos das direitas e os pequenos partidos das esquerdas. A primeira eleição fica para a próxima semana. Agora interessa a outra eleição. Sem maioria absoluta de um só partido (PS ou PSD), os resultados dos pequenos partidos são essenciais. Sobretudo a soma dos partidos nas direitas e nas esquerdas. Ou seja, quem ficará à frente, o CDS, o Chega e a IL, ou o Bloco, Livre, o PAN e o PCP? A resposta a esta questão na noite eleitoral será fundamental.

Neste contexto, o voto útil é menos importante. O próximo governo será necessariamente composto por mais de um partido. Por isso, a governabilidade do país depende da capacidade do PSD e do PS de serem capazes de fazer alianças à direita e à esquerda respectivamente. Aqui, Rio está a derrotar Costa. Nos debates até hoje (Rio já debateu com todos à sua direita, e Costa com todos à sua esquerda), ficou claro que o PSD, o CDS e a IL estão abertos a fazer uma coligação de governo. Pelo contrário, todos perceberam que, com Costa, a geringonça morreu. Dito de outro modo, Rio apresentou uma solução de governo aos portugueses. Costa não mostrou.

Os debates também mostraram que os partidos de direita neste momento têm mais energia política e mais propostas novas do que as esquerdas. Os partidos à esquerda do PS estão gastos, envelhecidos e sem propostas novas. O PCP está desaparecido (já estava antes do problema de saúde súbito de Jerónimo Sousa). Catarina Martins esteve muito mal nos debates. Nunca conseguiu encontrar um rumo claro, ficando entre ‘Catarina a beata’ a evocar o Papa, no debate com Ventura, e ‘Catarina a radical’ no debate com António Costa. Não apresentou ideias novas, e continua a defender as propostas do Bloco dos anos de 1990. Pior do que tudo, atacou a herança dos governos de Costa na saúde e os financiamentos dos bancos depois do Bloco ter apoiado os orçamentos socialistas durante quatro anos. É difícil ser mais hipócrita. O PAN foi penoso e a sua líder é muito fraquinha, com ideias próprias de uma líder estudantil. O Livre foi o único que trouxe algumas ideias novas, mas Rui Tavares foi baixando de qualidade nas suas prestações. O debate entre Tavares e Inês Sousa Real foi talvez o pior debate da história da democracia portuguesa (talvez a par do debate entre Catarina Martins e Inês Sousa Real). No fim, Tavares é mais um intelectual de esquerda do que um líder politico.

À direita há mais energia e mais novidade. A IL traz ideias novas e pelo menos conseguiu um sucesso (nada fácil): já se pode ser liberal em Portugal sem sofrer a acusação de fascista. A IL tem ainda boas ideias para a economia, e que Portugal bem precisa, e sabe justifica-las. Para mim, Francisco Rodrigues dos Santos tem sido uma das surpresas positivas dos debates. Tem uma péssima imprensa, de resto injustamente, mas melhorou ao longo dos debates. Não começou bem e o debate com o PAN foi o pior. Mas esteve bem com Rio, com Cotrim Figueiredo e sobretudo com Costa. FRS está a lutar pela sobrevivência do CDS. Merece ter sucesso. Ventura foi muito desigual. Venceu Rio e Costa, mas esteve fraco com Rui Tavares e com Cotrim (o pior debate do líder do Chega). Ventura tem talento e coragem, mas abusa da demagogia. Está preso numa bolha de revoltados e zangados, e não consegue sair disso. Se houver uma maioria de direita, Ventura terá que ser responsável pela primeira vez desde que criou o Chega. Terá que abandonar temas que nada interessam aos portugueses, como a prisão perpétua e a castração química dos pedófilos. E terá que se entender com os outros partidos nos quatro temas que todos defendem, incluindo o PSD: descida da carga fiscal, diminuição da despesa pública, apoio às empresas para aumentar o crescimento económico, e adopção de medidas eficazes para combater a corrupção. Isso é que interessa à maioria dos portugueses.

Os debates tiveram grandes audiências e as eleições estão em aberto. Se o CDS, o Chega e a IL tiverem mais votos do que o PCP, o Bloco, o PAN e o Livre, poderá haver um governo de direita. Rio percebe isso muito bem e deixou um entendimento com os partidos à sua direita em aberto. Ao contrário dos socialistas, o eleitorado de direita não quer uma maioria absoluta do PSD, mas uma maioria de vários partidos. E ao contrário das esquerdas, as direitas podem entender-se.

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