1 As dificuldades económicas
Estive nos EUA nas semanas anteriores às eleições e vivi de forma impressiva o que se poderá designar pelo polimorfismo da Economia moderna a qual inclui mosaico diversificado e contraditório de múltiplos sub-sistemas : os agregados macro-económicos, as dinâmicas das grandes empresas, as flutuações dos mercados mobiliários e imobiliários e as redes que abastecem os consumidores dos principais bens e serviços. Na verdade, quando se liam os sites e jornais mais eruditos surgiam boas notícias mas quando íamos ao supermercado, à estação de serviço ou quando se discutia habitação, sentíamos o sufoco vivido pela maioria da classe trabalhadora debatendo-se com níveis surpreendentes de preços e com aumentos de mais de 150 dólares mensais na prestação da casa agravados pelo IMI que mensalmente já ultrapassava 100 dólares em Estados como a Flórida. Ou seja, não tinha qualquer dúvida que a maioria “across country” iría escolher a não continuação dos governantes cessantes, qualquer que fosse o líder que proposesse a mudança, mesmo que fosse o Mickey Mouse como me confidenciava colega da Universidade.
Esta primeira lição é importante para a UE: se os partidos mais alicerçados nas tradições democráticas não resolverem estes fatores críticos para a vida dos trabalhadores irão perder o poder.
2 O descontrole da imigração
O segundo tema que mais levou os americanos a escolherem outra linha de governo consistiu na existência de milhões imigrantes ilegais e na consequente perda de identidade social e cultural em múltiplas regiões dos EUA, a qual testemunhei ser também fortemente sentida pelos próprios imigrantes legais.
A temática da imigração suscita sempre debate polémico sobre valores e oportunidades pelo que conseguir algum consenso é missão improvável, mas a lição a colher é que também nas políticas de imigração se deve respeitar o Estado de Direito e a consequente “Rule of Law”, pelo que aprovada uma política ela não deve ser desrespeitada. Esta lição é bem evidente para qualquer observador objetivo: defender o contrário com vias verdes sem controle, seja por razões humanitárias, seja por se pretender assim erodir os alicerces das Democracias ocidentais, irá facilitar a rápida subida ao poder de forças mais radicais bem ilustradas pelo Presidente eleito, e o exemplo dos EUA terá breve repetição na UE, começando-se por França.
3 A Defesa da Europa
Participei num debate em que colegas republicanos defenderam sem hesitação que os EUA devem deixar de estar a suportar elevada fatura da Defesa da Europa passando, designadamente, os membros da NATO a afetar à sua Defesa não menos de 2% do seu PIB. Procurei rebater esta tese com os argumentos habituais dos grandes objetivos e interesses comuns a todo o mundo ocidental pelo que todos perderemos se deixarmos de ter jogo de coligação e passarmos a jogo de soma nula. Todavia, bem senti que urge a Europa compreender que no pós-guerra ninguém duvidava de ser essencial contar com a ajuda do irmão americano. Mas passados 70 anos não deveremos todos contribuir com o mesmo esforço medido na dimensão do seu PIB para garantir a nossa própria defesa? Eis porque esta eleição de Trump deve ensinar a UE que, assim como em boa hora construíu uma nova aliança monetária baseada no Euro, também não pode atrasar a constituição de nova aliança financiada pelos seus próprios orçamentos: a EuroDefesa.
4 Que respostas e o OE 2025?
A UE tem virtudes bem conhecidas, desde conseguir manter equilíbrios e soluções de estabilidade a conseguir alcançar consensos difíceis, através de aturados exercícios de negociação. Todavia, esta União não será muita elogiada pela sua capacidade de mudar rapidamente para enfrentar novas ameaças pelo que será difícil prever a sua capacidade de enfrentar os novos desafios da Defesa ou da Imigração. Eis porque o New York Times de 10/11/2024 escrevia em importante análise Missing in Europe: A Strong Leader for a New Trump Era. Ora estes desafios, a começar pelo próprio desafio económico, têm de ser vividos em cada país, designadamente em sede de discussão orçamental. No nosso caso, a discussão que tem sido vivida para o OE 2025 parece estar totalmente divorciada destes desafios, apesar das propostas de M Draghi as quais são ignoradas arrogantemente pelo que se fica com a impressão de se estar noutro planeta. O problema é que não estamos e os primeiros efeitos que vamos sofrer pautam-se já nas nossas exportações para os EUA.