Desde já não me me irei posicionar legalmente sobre a forma como as escutas telefónicas entre o ex-primeiro António Costa e o ex ministro João Galamba com parte da tutela da TAP chegaram e foram os divulgadas por um órgão de comunicação social.

É de facto importante que o nosso Estado de Direito debata as fugas de informação e como podem elas chegar ao conhecimento público. Mas o despedimento ilegal e o barrete que à época nos foi enfiado – como se todos nós fôssemos burros pelos responsáveis, mormente Fernando Medina -, não precisava de escuta alguma para se saber que de facto o despedimento da CEO da TAP Christine Ourmières-Widener foi uma intenção meramente de sobrevivência política, e que a visada em nada prejudicava a gestão da companhia aérea.

A questão é tão simples como esta: é tão grave a forma como surgiram as escutas, como grave é o seu conteúdo. E é grave por uma razão: é o contribuinte português que terá que pagar este inferno todo.

O português comum não se interessa pela legalidade da questão nem a quer debater.
O interesse está na verdade que a escuta revela porque é o contribuinte que acaba sempre a pagar asneira, e se isto não tem qualquer relevância política, então não sei o que terá verdadeiramente relevância política.

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Se a democracia é ferida pela divulgação de escutas não será a democracia posta em causa com o seu conteúdo?
Porque razão se olha de frente para a questão legal ficando toda a gente admirada e chocada e não para a questão de fundo? Houve ou não houve um despedimento com intenção política de sobrevivência? A escuta responde, e politicamente há e deve haver consequências pessoais.

Pouco interessa saber se a escuta contém alguma relevância criminal. O incómodo e a conta para pagar está naquilo que se ouve. E que hoje se discute na praça pública é a forma e não a gravidade do conteúdo.

Obviamente que, na qualidade de jurista, condeno a forma, mas na qualidade de contribuinte fiquei com uma certeza: eu e todos os contribuintes portugueses seremos certamente os pagadores dos 4,9 milhões de euros que a CEO da TAP reclama a título de indemnização.

Tudo isso parece ser revelador de uma grande hipocrisia. Faz-se um ataque feroz à fuga de informação deixando o conteúdo – o principal elemento da escuta – sem debate político, como se tudo isto fosse e se tratasse de normalidade democrática. Talvez o seja para uma determinada classe política, mas não o é para a generalidade dos portugueses. O bolso de cada um de nós é mais uma vez assaltado sem qualquer pudor. É isto que também deveria ser discutido,  mas como não é, desvia-se a atenção do assunto com as questões jurídicas e técnicas a que é habitual recorrer-se quando a mais pura e transparente verdade vem ao de cima.

Aqui chegados, é hora de se perceber o essencial. António Costa não zelou pelos interesses dos portugueses e de Portugal. E fica claro, como não é o próprio a pagar, que o ex-primeiro ministro está a borrifar-se-se para cada um de nós assim como cada um de nós se deveria estar a borrifar agora para o tão afamado segredo de justiça.
Tivesse o PS sabido gerir o país estas escutas não existiriam. Tivesse o PS sido sério na sua governação e nada disto aconteceria.

Porém, e como se não bastasse, os erros na política têm sempre duas dimensões. A primeira é simples: cabe ao contribuinte pagar. A segunda é o prémio pelo erro cometido que em regra se traduz num salto para um outro cargo de maior relevo e importância pública.

Não é só a escuta que se torna pública que fere a democracia, são os políticos que temos que a destroem. Houvesse qualidade e seriedade na política não havia escutas desta natureza. Mas se poucos há que queiram agradecer ao órgão de comunicação que divulgou as escutas, que me desculpem, eu cá agradeço por ter ficado com a certeza daquilo que já desconfiava. Serei um daqueles que irá receber a conta deste inferno todo.