Anda o país chocado – e bem! – com duas gémeas que, apesar de já se encontrarem em idade escolar, não só não frequentam nenhum estabelecimento de ensino como vivem numa garagem, em condições infra-humanas. É urgente que se proporcione a esta família uma vida digna, que permita às gémeas receber a instrução de que carecem.
Não seria má ideia que o país também se escandalizasse com outras gémeas que, por serem marotas, são bem piores: as protagonistas imaginárias de um livro infantil de Brick Duna, pseudónimo de um autor desconhecido. “As gémeas marotas” não tem editora, foi impresso pela Multitipo em 2012, consta nos catálogos da Biblioteca Nacional e da rede de bibliotecas de Lisboa (BLX), e está à venda em livrarias no nosso país, pelo módico preço de 10 euros [1].
As gémeas, que têm nomes muito parecidos [2], propõem-se introduzir crianças da sua idade, a rondar os 6 anos, na vida sexual. Mas, enquanto uma gosta de rapazes, a outra prefere raparigas [3]. Atribuir a crianças, que mal sabem ler e escrever, preferências sexuais é mais do que mórbido, é monstruoso. E é falso também porque, como é óbvio, nenhum ser humano normal tem, a essas idades, apetências sexuais. Mas, mesmo que as tivesse, em caso algum seria lícito incentivar a actividade sexual infantil. Este livro não é, obviamente, de educação sexual, mas de iniciação ao sexo com crianças, ou seja, à pedofilia.
A propósito, o Child Liberation Front pretendeu, felizmente sem êxito, participar na parada do orgulho LGBT deste ano, em Amsterdão, na Holanda. Esta ‘Frente de Libertação da Criança’ diz defender os ‘direitos’ dos pedófilos e entende que estas marchas devem integrar pessoas que se ‘apaixonam’ por crianças…
“Gina e Gila são gémeas, são as duas tal e qual”. Note-se que o facto de as protagonistas serem não apenas irmãs, como gémeas, é reforçado com a ideia de que “são as duas tal e qual”. Não é preciso ser Sherlock Holmes, nem sequer o Dr. Watson, para perceber a amoral mensagem subliminar, muito ao jeito da ideologia de género: tanto dá a atração que se sente, porque é tudo igual, tal como as gémeas “são as duas tal e qual”.
Talvez tivesse sido mais interessante e, sobretudo, mais verdadeiro, esclarecer os leitores de palmo e meio que, por acaso – ou será que não foi por acaso?! – tanto eles como as gémeas têm um pai e uma mãe, o que não é “tal e qual”, porque só a união de duas pessoas de diferente sexo dá uma Gila, ou Gina. Ou será que esta verdade, primária e natural, é inapropriada para o público a que se destina este conto pornográfico?!
Mas a história não fica por aqui, pois as gémeas marotas “convidaram uns amigos para uma tarde especial”. Temos festa?! Não propriamente pois, como depois se percebe, trata-se, na realidade, de uma orgia. A “tarde especial” afinal mais não é do que um indecente bacanal, que envergonharia uma gestora de uma casa de alterne.
“Todos ficam à vontade, a Vanessa despe a blusa” o que não só excita a menina supostamente lésbica, como também o Vladimiro que, a julgar pelo nome, deve pertencer a uma máfia russa. A linguagem é de uma baixeza que se supunha impossível num conto para crianças [4].
A acção não se reduz a uma parva sessão de striptease infantil, porque se descreve, explicitamente, um acto de sexo anal, em que intervêm a Miffy e o Ribeiro. A cena, ilustrada, é indescritível e o diálogo correspondente não poderia ser mais óbvio [5]. O desenho e o texto respectivo, decerto fariam corar qualquer madame com conhecimentos e experiência nesse ofício que, mesmo não sendo o mais antigo, já tem barbas.
Pelos vistos, a Miffy, cognominada a “coelhinha”, é uma profissional do ramo, enquanto o Ribeiro (sic), referido apenas pelo seu apelido e representado de cor negra, deve ser um empresário africano deste tipo de negócios: um proxeneta. Muito educativo, não é?! Como se não chegasse ser pornográfico, o conto também é racista!
Não sei mais sobre esta sórdida história, nem quero saber. Mas, o que aqui fica dito, chega e sobra para concluir que se trata de um incentivo à pedofilia. Este conto para crianças é mais letal do que um brinquedo perigoso, ou um alimento tóxico, porque a sua mensagem está camuflada sob a aparência de uma inocente história infantil.
‘As gémeas marotas’ não é caso único. ‘Três com Tango’, para crianças a partir dos 4 anos, conta a história de dois pinguins machos que criam uma pequena fêmea que tem, portanto, dois pais e nenhuma mãe. E há mais, como ‘O dia em que Karl era Karlina’ e ‘O dia em que Ruth era Richard’…
Deixem as crianças em paz! Os menores têm direito a ser preservados e defendidos de tão brutais ataques à sua estabilidade afectiva e emocional. Introduzir crianças pré-púberes na sexualidade activa é um absurdo, porque não têm idade nem maturidade para abordar a questão sexual. Só uma mente depravada, senão mesmo criminosa, pode querer perverter os mais novos, através de uma aparentemente inocente história infantil.
Os organismos públicos, nomeadamente a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, bem como as associações de defesa dos consumidores, não podem permanecer indiferentes, sob pena de cumplicidade com este tipo de exploração infantil. A literatura deste género devia estar claramente identificada como pornográfica e, como tal, interdita a menores.
Jesus Cristo, sempre tão condescendente com os pecadores, foi, contudo, impiedoso para os que pervertem as crianças: “se alguém escandalizar um destes pequeninos (…), seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar” (Mt 18, 6).
P.S. A crónica sobre a ‘Inquisição: a História lava mais branco’ foi partilhada por mais de dois mil leitores e suscitou mais de duzentos e cinquenta comentários. Não obstante a polémica, ninguém logrou pôr em causa nenhuma das afirmações desse texto. Mais uma vez comprovou-se que “os preconceitos, originados pela má-fé, combatem-se com a verdade” e que “o pior inimigo da fé cristã não é a ciência, mas a ignorância”.
[1] Também existem, no mercado nacional, exemplares igualmente em português, publicados com autorização de Een Kat in de Zak Kopen BV., Amesterdão, compostos e impressos na Holanda, com data de Dezembro de 1975, mas obviamente muito mais recentes.
[2] “A Gina é irmã da Gila, a Gila é irmã da Gina.”
[3] “A Gina gosta de pila, a Gila prefere vagina.”
[4] “Todos ficam à vontade, a Vanessa despe a blusa. Gila olha e já se baba. Vladimiro já tem tusa”.
[5] “Mete mais, mete mais! Diz a Miffy ao Ribeiro. – Não tenho mais, coelhinha! Diz ele dando ao traseiro.”