Manchester City, zero títulos. Lyon, zero. Red Bull Leipzig, zero. Atlético Madrid, zero. Atalanta, zero. PSG, zero. Barcelona, cinco. Bayern, cinco. Falamos de títulos de campeão europeu. Dos oito sobreviventes na Liga dos Campeões 2019/20, só dois sabem o que é ganhar. Os outros seis, zero. Mais: dos outros seis, só um chega à final – Atlético Madrid (1974, 2014, 2016).

Inacreditável. E lindo, claro. No meio de tanto futebol formatado, com campeões nacionais cada vez mais crónicos como Juventus (nove títulos), Bayern (oito) e PSG (sete nos últimos oito anos), eis uma lufada de ar fresco, promovida por clubes da classe média. O mais classe média de todos é a Atalanta. Acaba a Serie A em terceiro lugar pela segunda época seguida, com o mérito de acumular 98 golos (indiscutível melhor ataque da competição) (e o melhor nos últimos 60 anos da 1.ª Divisão italiana). Dos outros cinco, a competência equivale, mais euro menos euro, ao investimento XXL.

Retomemos o fio à meada: dos dignos representantes da final eight em Lisboa, só dois levantam o caneco. A última vez desse fenómeno acontecera em 1987, com Porto, Bröndby, Besiktas, Dínamo Kiev, Anderlecht e Estrela Vermelha entre os zeros (Real Madrid e Bayern entre os vencedores de outros tempos). Na final desse ano, em Viena, é sobejamente conhecida a valsa do Porto ao Bayern. E agora? Nunca é demais insistir: forzaaaaaaa Atalanta.

Nossa, que euforia. É a Atalanta a chamar por nós. Uma equipa sem tradição europeia por aí além, capaz de grandes cometimentos. Em 1987-88, por exemplo, elimina o Sporting da Taça das Taças. Pormenor, a Atalanta está na 2.ª Divisão. Antes, a única experiência é em 1963-64. Cruza-se com o Sporting e é eliminada sem apelo nem agravo em Barcelona, no jogo de desempate. Esta época, a Atalanta nunca joga em casa para a Liga dos Campeões. Em Bérgamo, queremos dizer. Por comum acordo com os dois clubes de Milão, elege-se o Giuseppe Meazza como sede. Em três jogos, acontece-lhe de tudo um pouco: derrota (2-1 do Shakhtar), empata (1-1 vs City) e vitória (2-0 ao Dínamo).

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Feitas as contas, acaba o grupo C em segundo lugar com registo negativo de quatro golos, depois de apanhar quatro em Zagreb e cinco em Manchester na primeira volta. Nos oitavos, pobre Valencia. Pim pam pum, 4-1 em Milão, 4-3 no Mestalla. Até estala. Póquer de Ilic, o rei do golo da Atalanta, com 21. Perto, muito perto, dois companheiros, ambos com 19 (Muriel e Zapata). Que honra, três mosqueteiros com faro de baliza. Que venha o PSG. É hoje, na Luz.

Amanhã é dia Red Bull Leipzig vs Atlético Madrid no José Alvalade. Depois, na sexta-feira, Barcelona vs Bayern na Luz. No sábado, fim de papo dos quartos-de-final, entre City e Lyon em Alvalade. Seguem-se as meias-finais. Um jogo na Luz, outro em Alvalade. Para fechar a época europeia mais atípica de sempre, a final. Na Luz, dia 23. Ou seja, cinco jogos na Luz em 11 dias. Até parece o Mundial Sub-20 em 1991. Quase. O Mundial Sub-20 é mais intenso ainda. E a Luz, a velhinha, mais imponente, muito mais que esta aqui, chega a receber dois jogos por dia. Acontece duas vezes. A 17 Junho, Coreia vs Irlanda às 19h00 mais Portugal vs Argentina às 21h30. A 20 Junho, Irlanda vs Argentina às 19h00 mais Portugal-Coreia às 21h30. E se a massa humana dentro do estádio é a mesma na última jornada (38 mil espectadores), há uma diferença significativa na ronda anterior, com oito mil no Coreia-Irlanda e 60 mil (meia casa, portanto) no Portugal-Argentina.

Retomemos o fio à meada: dos dignos representantes da final eight em Lisboa, só dois levantam o caneco. Imagine-se que nenhum desses dois chega à final. Quer dizer, um deles vai já à vida nos quartos. É Barcelona vs Bayern. Venha o Guardiola e escolha. Se nenhum desses chega à final, teremos uma decisão da Liga dos Campeões sem qualquer campeão europeu, algo que não vemos desde 1992 entre Barcelona e Sampdoria, em Wembley. Resolve um pontapé do meio da rua de Ronald Koeman, em forma de livre indirecto (mal assinalado pelo árbitro alemão Aron Schmidhuber). No minuto seguinte (112), Cruijff saca Guardiola e introduz Alexanko para segurar a preciosa vantagem.

E agora ainda mais elaborado, em jeito de futurologia: e se a final for entre dois clubes sem qualquer final de todo? Aí, somos obrigados a recuar até 1991, ano de um Estrela Vermelha vs Marselha em Bari. Resolve um desempate de penáltis, a favor dos jugoslavos. Falha o lateral-direito Manuel Amoros, número 2. Nessa equipa do Marselha, um tal de Mozer. Que já perdera uma final europeia por penálti à conta de um lateral-direito, número 2 (Veloso no PSV-Benfica em 1988). Nessa equipa do Estrela Vermelha, há seis jogadores Sub-25, entre eles Prosinecki (21), Mihajlovic (22), Jugovic (22), Savicevic (23) e Pancev (24).