O título deste texto é enganador. Um pequeno clickbait para quem acredita mesmo que o arraial organizado pela Iniciativa Liberal foi um ato de incoerência. Se está a ler este artigo por achar que vou recriminar (mais do que a comunicação social já recriminou) o evento e o partido liberal, desengane-se: eu fui ao arraial e vou dar o meu testemunho.

Recuemos uns meses. Em setembro do ano passado, o Partido Comunista Português decidiu realizar a Festa do Avante. Nessa altura, o líder da IL, João Cotrim de Figueiredo, criticava a sua realização. Não será uma enorme contradição concretizar agora uma espécie de Festa do Avante Liberal?

A resposta mais fácil é dizer que sim, como fez Rui Rio, que em vez de criticar o PS pela displicência e facilidade como concede direitos, liberdades e garantias dos Portugueses, preferiu atacar ferozmente os liberais. É importante recordar que Rui Rio é o líder da oposição, mas enfim, vamos aos factos.

No dia 5 de setembro de 2020, o dia intermédio da festa comunista, registaram-se cinco mortes e 486 novos casos relacionados com a Covid-19. Por não conhecermos tão bem a forma como o vírus funcionava, por não termos ainda a possibilidade de vacinar a população, as medidas de contenção eram maiores. Na Área Metropolitana de Lisboa, onde se realizou o festival, vivia-se em estado de contingência e os restantes territórios do país estavam em estado de alerta. No dia 15 de setembro, dez dias depois do Avante, foi decretado o estado de contingência em todo o país.

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No dia 12 de junho, na noite do arraial liberal, registou-se uma morte e 789 novos casos relacionados com a Covid-19. Portanto, mais 303 casos e menos quatro mortes do que na altura da realização da Festa do Avante. Já não vigoram estados de alerta nem de contingência em Lisboa, grande parte dos epidemiologistas é favorável ao avançar do desconfinamento no país, cerca de 24% da população está totalmente vacinada e quase 45% dos Portugueses já têm pelo menos uma dose da vacina administrada. As medidas de contenção são, por isso, muito menores. Aliás, como se viu nos festejos do Sporting, autorizados pelas entidades competentes; na final da Champions no Porto, autorizada pelas entidades competentes; e até em Monsanto, no Monsanto Open Air, um evento muito pouco falado na opinião pública, mas que também contemplou um arraial próprio, dentro da AML, autorizado pelas entidades competentes.

O festival comunista foi feito em três dias, cada um com capacidade máxima para quase 17 mil pessoas em simultâneo. O arraial liberal aconteceu em apenas uma noite e juntou cerca de mil pessoas.

Uma outra crítica que se faz é que a Iniciativa Liberal sempre criticou os privilégios dos partidos políticos em relação aos cidadãos comuns. Fê-lo aquando do Avante e agora não o faz? A diferença está na conceção do próprio evento. Enquanto que o acesso ao arraial foi aberto a toda a gente, sem preço de entrada, o Festival cobrava preços entre os 26 e os 38 euros a cada pessoa que quisesse aderir. Os liberais utilizaram o seu direito político para servir o cidadão comum, os comunistas abusaram do seu privilégio partidário para se autobeneficiarem.

A comparação com o festival comunista cai, por isso, no ridículo. Para além de estar desligada completamente do contexto, ainda tenta colar uma narrativa de incoerência à IL, quando foi precisamente o contrário: quem quissesse ir, independentemente da sua cor política (vi muita gente do PSD, PS e até BE) ou estatuto social, pôde ter essa liberdade com responsabilidade. Foi esse o lema do arraial, é esse o lema da Iniciativa Liberal.