O final desta semana foi de novo marcado pela queda das ações de vários bancos nos Estados Unidos, e na Europa, incluindo de gigantes europeus como o Deutsche Bank. Na sexta-feira, o Índice Euro Stoxx Financials, composto por ações de grandes bancos europeus, desceu 4%, depois de ter perdido mais de 5% nos 30 dias anteriores.
Os investidores receiam que o aumento das taxas de juro pelos bancos centrais fragilize os bancos comerciais. Se, por um lado, as taxas de juro mais elevadas permitem aumentar a margem entre a taxa de juro cobrada na concessão de empréstimos e a taxa de juro paga nos depósitos, por outro, reduz o valor de certos ativos onde o banco investe. Por exemplo, se um banco tiver investido em obrigações de taxa fixa, sejam do Tesouro ou de empresas privadas, o aumento das taxas de juro no mercado reduz o valor desses ativos, porque existe uma relação inversa entre os juros e o preço das obrigações. Este mecanismo pode parecer paradoxal, porém basta recordar que o valor de uma obrigação é o somatório de todos os juros que vai pagar até ao final do seu prazo, sendo o valor total descontado para o presente. A taxa de juro é a taxa de desconto desses fluxos. Desta forma, um aumento da taxa de juro efetivamente reduz o valor da obrigação.
Apesar da instabilidade do setor bancário nas últimas semanas, a Reserva Federal voltou a aumentar a sua taxa diretora em 25 pontos base na passada quarta-feira, embora tenha também injetado novos fundos da economia através de um instrumento chamado Bank Term Funding Program que oferece liquidez em troca de obrigações do Tesouro Americano. Na Europa, a Presidente do BCE indicou que estaria disponível para oferecer a liquidez necessária ao setor financeiro, mas disse também que não há incompatibilidade entre estabilidade financeira e estabilidade de preços, sugerindo que é provável que continuem a subir as taxas diretoras.
Os bancos centrais estão numa posição difícil. Por um lado, a instabilidade financeira tem o efeito de arrefecer a economia através da redução na concessão de crédito. No entanto, ao fazer isso de uma forma desordenada e potencialmente perigosa para a economia, poderá provocar uma recessão. Nesta perspetiva, seria justificável que os bancos centrais fizessem uma pausa ou reduzissem a intensidade nas subidas das taxas, alivando a pressão sobre os bancos comerciais e a probabilidade de mais falências.
No entanto, até agora, a posição da Reserva Federal e do BCE é de que o setor financeiro está mais resiliente do que em 2008 e que o efeito distorsivo da inflação é muito mais perigoso no médio e longo prazo para a estabilidade financeira.