E está feito. Parece que Finlândia e Suécia meteram os papéis para aderir à NATO. Confesso que não sei como se processa isto daqui em diante. Imagino que a Finlândia e a Suécia tenham tirado senha para serem atendidos pela NATO e agora é aguardar. Depois entregam a papelada à NATO e vão para os seus lares. Quando receberem uns códigos pelo correio activam a adesão à NATO. Talvez seja assim. Sempre na esperança de que o facto de a Finlândia e de a Suécia receberem os seus códigos de adesão à NATO não incentive o Putin a activar aqueles outros códigos mas para lançamento de mísseis nucleares, claro.

Enfim, o processo de adesão da Finlândia e da Suécia deve ser lesto, porque a fila para o guichê da NATO é pequena. Ainda assim, não sei se é frequente haver dois fregueses a solicitarem adesões em simultâneo. Além de não saber, também, que funções Portugal desempenha na NATO. Imagino que não forneçamos sofisticado material militar. Isso, em princípio, não é. Nem que cedamos batalhões e mais batalhões de tropas. Vendo bem, é possível que, no âmbito da NATO, nos calhem serviços de, sei lá, limpeza de casernas, confecção de refeições, atendimento ao público. E se for este último o caso, se a secretaria da NATO estiver entregue a compatriotas nossos, boa sorte para os fregueses finlandeses e suecos: é possível que a experiência de querer entrar na NATO em período de guerra se transforme, num ápice, numa experiência de tentar entrar na Loja do Cidadão em período de greve.

A ideia de a Finlândia e de a Suécia quererem juntar-se à NATO de molde a defenderem-se de um regime totalitário e criminoso indignou, como é óbvio, o PCP e o Bloco de Esquerda. Que não suportam ver nações a quererem defender-se de regimes totalitários criminosos. Blergh! Que nojo! Eh pá, o PCP e o BE não gostam da NATO. Ponto final. Aliás, a coisa vai muito mais longe que isso. Os comunistas não gostam da NATO enquanto aliança militar, nem gostam de “nato” enquanto sufixo. Basta ver o asco que lhes provoca o “patronato”, por exemplo. Ou tudo o que é “colonato”, desde que israelita. Do que PCP e BE não abdicam é do clássico concubinato com regimes execráveis. Não lhes tirem é esse concubinato.

Embora nem só de concubinatos com o execrável seja feito o dia-a-dia da política nacional em tempos de conflito na Ucrânia. Em alternativa aos concubinatos com o execrável, o Presidente da República decidiu emitir uma opinião que namora a indecência. Mas é um namoro à séria, atenção. Que esta opinião está mesmo comprometida com a indecência e é para o resto da vida. A propósito da guerra na Ucrânia, Marcelo Rebelo de Sousa afiançou que Portugal é umbeneficiário líquido da situação vivida a nível internacional por ser visto “como longínquo da guerra”, e defendeu que “o inteligente é saber aproveitar ocasião”. Confesso que, vindo do Presidente dos afectos, não esperava sequer um toquezinho de realpolitik, quanto mais este bofetão à Will Smith de brutalpolitik.

A verdade é que o Presidente da República tem razão. Temos de saber aproveitar a circunstância de estarmos longe do conflito na Ucrânia. Podemos, de facto, ser beneficiários líquidos desta situação. Como? Imaginem que o Putin começa a mandar bombas nucleares para todo o lado. Às tantas, os mísseis já estão a cair em Espanha. E tudo o que é espanhol foge para Portugal, beneficiando imenso o turismo nacional. Lá está, seriamos beneficiários. Pelo menos durante aqueles quinze, vinte minutos até o vento provocado pelas explosões nucleares em Espanha chegar cá e fazer-nos em papa. Papa que, bastando estar um pouco mais desdobrada, no fundo é um líquido. Daí podemos ser um beneficiário… ora espera só uns minutinhos… líquido.

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