O Não ganhou: 55% dos votos, vitórias em quase todas as circunscrições, incluindo Edimburgo (61%), menos Glasgow. O Reino não se desuniu. Mas a história não acabou. Alex Salmond, o líder do Partido Nacional Escocês, tinha prometido respeitar o resultado do referendo. Esta noite, explicou melhor: respeitará o resultado, mas “nesta fase” (“at this stage”). Por enquanto. Até ver. Porque haverá uma próxima vez. Só não sabe quando.
Para Salmond, só um resultado tem direito a ser definitivo: a independência. O milhão e meio de votos separatistas é apenas o começo. O que quer dizer que a política do Reino Unido, a partir de agora, incluirá a possibilidade constante da separação. Em qualquer questão, em qualquer momento, tudo poderá estar em causa. Os autocarros de Edimburgo andam atrasados? Vamos para novo referendo. Porque a independência aparecerá sempre como uma resposta possível para a mais pequena frustração. E o “establishment” em Londres será obrigado, em conformidade, a prometer ainda mais vantagens dentro da união, como os novos poderes agora previstos para o governo escocês. O unionismo tornar-se-á assim cada vez mais parecido com o nacionalismo: em vez da preservação realista de uma herança, será feito crescentemente de expectativas demagógicas, exaltações retóricas e golpismo constitucional. Mas com esta desvantagem: ao contrário do independentismo, o unionismo será testado pela realidade.
Foi isso que os políticos de Londres, ajudados pelos nacionalistas na Escócia, conseguiram: introduzir a instabilidade nos alicerces do Estado, como aqui sugerimos ontem. No que à Escócia diz respeito, o Reino Unido está assim destinado a uma vida cínica, entre a chantagem nacionalista e o manobrismo londrino. Um país é, como se sabe, obra de todos os momentos. Mas cansa andar sempre à beira da ruptura. É a esperança de Salmond — que um dia, muita gente diga: chega, vamos acabar com isto. Uma casa dividida dificilmente pode durar.